segunda-feira, 5 de julho de 2010

Era uma vez...

Às vezes temos que voltar muito no tempo para perceber onde as coisas começam.

...no auge dos meus 5 anos de idade, arrastava uma das cadeiras da mesa da cozinha até a pia ou fogão e observava minha mãe. Ela picava, assava, refogava, fritava... cozinhava. E acho q foi nesse momento que a culinária me fascinou.

Queria sentir as texturas, os sabores, mesmo sem ao menos entender o que era ser fascinada por algo.

E nem me lembro quando ou como veio parar em minhas mãos um livro infantil de título "Gente Miúda na Cozinha". Receitas que qualquer criança poderia fazer, sempre com a supervisão de um adulto (recomendação de todas as páginas do livro quando referia-se a usar a faca ou o fogo e que muitas vezes eu não dei muita atenção).



Eu me divertia, sabia o livro de cor e salteado e de vez em quando ajudava minha mãe com a janta ao preparar uma das delícias do meu livrinho.

Mas com o tempo os livros mudaram, os pratos começaram a ficar mais elaborados, mais invenções, menos receitas prontas.

Como em todo aprendizado mais errava do que acertava, muitos ingredientes misturados nunca chegaram à mesa, e como em todo aprendizado, aos poucos passei a acertar mais do que errar.

O tempo me fez descobrir que comer não é só matar a fome. É mexer com todos os sentidos. E cozinhar é ainda mais do que isso.

Desde os preparativos, imaginar o que acontece em cada mistura, saber a dosagem e o ponto certo de preparo de cada elemento do prato até reunir as pessoas em volta da mesa. Aprender técnicas intuitivamente sem nem saber que são técnicas e só anos depois descobrir seus nomes. É intuição. É ter algo em comum.

Quando provo um prato é como se o chef estivesse revelando mais um segredo de um ritual que nem todos apreciam com o devido respeito.

Hoje, no auge dos meus 28 anos, resolvi assumir essa paixão por gastronomia. Eu assumo, penso em comida o dia inteiro, meus ídolos atuais são chefs e meus programas preferidos falam de culinária.

A intenção deste blog é falar dos erros e acertos cometidos, dos encontros culinários feitos em família para os almoços de domingo. Os preparativos, a escolha do cardápio, dicas culinárias, um pouquinho de vinho (não poderia faltar). E todos esses pequenos detalhes que fazem parte desse pequeno e íntimo ritual.

Porque o que se faz em casa pode ser mais saboroso e ainda mais sofisticado do que os pratos servidos em muitos restaurantes de alta gastronomia.

Nos próximos posts colocarei fotos e receitas, e espero convencer disso quem vier a ler este blog.

2 comentários:

  1. Olhaaa, de verdade, adorei a história, o modo como a contou!! Que legal!!
    Fico feliz.
    Sabe, hoje fui à Mostra Shoá, que tanto queria. Assunto pesado, mas conseguiram passar de forma bem peculiar, profissional, e você tem vontade de chorar pela história, e não por sentir-se culpado até por ter curiosidade no assunto.
    Dividida por partes explicando o Nazismo, a propaganda do movimento, vídeos do Hitler, A história de 3 meninas, uma delas a Anne Frank, que é até nome de rua, aqui em SP, enfim, mas dividem tb em, os judeus, homossexuais, debilidade e deficientes, as explosões, o transporte, os guetos, o que podiam levar para, as separações, as crianças, e tb a fome. Aí tinha uma frase que me veio a cabeça ao ler aqui, tb:
    "Do mesmo modo que nossa fome não é a sensação de quem ficou sem comida, também o nosso jeito de sentir frio exigiria um nome especial..." Primo Levi.
    Anne Frank relata em um momento ter vivido escondida por 25 meses, junto a seus pais e mais 4 ou 5 judeus, e que o menu era salada podre (de restos) e que o gosto de batatas podres virou um artifício curioso de ser lembrado, até.
    Ok ok, podem não ser citações lindas, mas cara, é a parte da fome que essas pessoas sentiram, e o que isso pode implicar em todo o resto. :)
    Da emoção de guardar por dias uma migalha de pão, nos bolsos, só para tateá-lo, e ter a intenção de comer, mas adiar o qto puder...
    Acho que ensina algo.
    Opa, quer dizer que teremos mais um blog pra acompanhar, né?
    Beijos

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  2. Esse 'Gente Miúda na Cozinha' é tudo de bom, caiu até uma lagriminha de nostalgia - snif. Agora, auge dos 28 anos forçou, né? Eu diria aos 45' do segundo tempo dos seus 28 anos - hahahaha. Mesmo assim, és uma menininha com muitas refogas, confits, deglacês, salteados... pela frente.

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