quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sabores do Mundo

Do lado esquerdo, o berço da nouvelle cuisine, repleta de queijos, vinhos e conhecida internacionalmente por sua tradição gastronômica: a França. Representada neste post por Claude Troigros.

Do lado direito, com uma marcante gastronomia composta por grande variedade de salsichas, conhecida por sua tradição cervejeira com mais de 1300 cervejarias e mais de 5000 rótulos disponíveis no mercado: a Alemanha. Representada aqui por uma cerveja produzida em solo brasileiro, mas que segue o método de produção desenvolvido na cidade de Bamberg, a cerveja Bamberg Rauchbier.

E no centro, ela, que reflete sua diversidade cultural nos pratos do dia-a-dia, que entede como poucas nações da arte cervejeira, produtora de mais de 1500 tipos e representada aqui pela Carbonade Flamande, direto da região de Flandres para este blog: a Bélgica.


Feitas as devidas apresentações, vamos aos fatos. Assistindo "Que Marravilha", vi Claude Troigros (só para variar um pouquinho) ensinar uma daquelas receitas de deixar o telespectador com água na boca, a Carbonade Flamande.

O que fazer? Claro, correr para a cozinha e começar os trabalhos.

Como eu disse na apresentação do post, esta é uma receita belga. Melhor do que isso, é uma receita belga feita com cerveja e muitas especiarias.

Tempere cerca de 1 quilo e meio de contra filé cortado em cubos com sal e pimenta e reserve. Em uma panela frite uma generosa porção de bacon picado bem miudinho. Quando já estiver frito e crocante, comece a dourar a carne. Como a panela que eu estava usando era pequena (quis fazer na panela de ferro), fiquei com receio de colocar a carne toda de uma vez e começar soltar água, então fui fritando aos poucos, retirando, reservando, fritando mais... até conseguir fazer com que todos os meus cubinhos de carne estivessem devidamente selados, dourados e suculentos. Tirei todos os pedaços de contra-filé da panela e coloquei 3 cebolas médias em finas fatias para fritar em uma grande colher (sopa) de manteiga. Sei que pode parecer muito, mas acredite, não é, coloque sem medo 4 dentes de alho picados e uma pimenta dedo-de-moça com as sementes e também picada.

Junte então 4 cravos da índia, 2 paus de canela e 2 generosas colheres (sopa) de açúcar mascavo. Tudo bem mexido, diluído, homogeneizado, hora de acrescentar 2 colheres (sopa) de farinha de trigo e só então voltar a carne à panela. Uma boa mexida e cobrir com 300ml de cerveja Gold e mais 300ml de cerveja Dunkel. Usei as duas cervejas da mesma marca: Therezópolis.

Diz a lenda que esta cerveja começou a ser produzida no Brasil por dinamarqueses, primeiro para consumo próprio e depois em escala comercial. Mas, no final da Primeira Guerra Mundial, ficou difícil conseguir os 3 diferentes lúpulos de sua fórmula, e então sua produção ficou cada vez mais escassa, sendo encontrada somente em ocasiões especiais. Como uma forma de homenagear esta história a Cervejaria St. Gallen reiniciou sua produção em escala comercial para o prazer de nossos paladares.

A Therezópolis Gold é uma cerveja puro-malte com bom corpo.

Já a Dunkel é a sua versão escura, com coloração levemente avermelhada, aroma vibrante e notas equilibradas de torrefação. Mas... de volta à receita...

Carne coberta com as cervejas, acrescentar o bouquet garni (usei talos de salsa, cebolinha, talos de manjericão, folhas de louro e talos de alho poró, tudo bem amarrado com um barbante), tampar a panela e deixar ferver, sempre espiando e acrescentando um pouco mais da cerveja conforme precisasse. Usei as duas garrafas de cerveja inteiras.

3 horas depois, para finalizar, uma colher (sopa) de mostarda dijon, retirar o bouquet garni, dar uma última mexida e está pronta para servir.


Sugestão? Cancele o arroz e o brócolis e farte-se desta maravilhosa receita que expressa suas referências flamengas através de sua carne macia, com denso e suculento molho e com aromas maestralmente orquestrados como só um chef fancês dos mais renomados saberia fazer.

Sabor de fazer raspar o molho com o miolo do pão para evitar lamber o prato. E para harmonizar, os vinhos que me desculpem, mas neste caso nada melhor do que uma honesta cerveja.

Cerveja esta, também brasileira, vinda daqui de pertinho, da cidade de Votorantim e que carrega no rótulo o nome da cidade que desenvolveu as cervejas produzidas a partir de malte defumado. Dizem que um dia uma cervejaria de Bamberg pegou fogo, o cervejeiro para não perder dinheiro, resolveu produzir a cerveja com o malte que conseguiu resgatar do incêndio e para sua surpresa, a cerveja fez um verdadeiro sucesso. Surge daí as cervejas defumadas ou rauchbier (rauch em alemão quer dizer fumaça).


E como tudo o que é defumado me lembra bacon... não tem como ser ruim... não deve ser provada muito gelada, isso compromete sua apreciação desde seu aroma até o paladar, 5º é a temperatura ideal para que ela se mostre em toda sua essência.

Bem avermelhada, bem encorpada, e completamente defumada. O tipo de cerveja que não poderia ter sido criada em outro país, pois é forte como só a gastronomia alemã consegue ser.

E se uma culinária é mais marcante, a outra pode ser mais refinada ou tradicional e a graça é justamente esta, misturar a força de lá, com a cultura dali e unir tudo isso com a habilidade técnica de outro lugar.

Assim, conseguimos não extrair um sabor único de cada prato, mas sim um pedacinho do mundo a cada porção.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cuca-fresca

Quero começar este post com um milhão de desculpas pelas escassas postagens dos últimos tempos. Mas sabem como é... basta o fim de ano se aproximar que minha cabeça não consegue se concentrar em mais nada.

São presentes, preparativos para a festa, a escolha do cardápio da entrada à sobremesa e sem falar que além de tudo isso ainda tenho que conciliar a paixão por gastronomia com 8 horas diárias e ininterruptas de trabalho... ufa... haja tempo e disposição para conseguir realizar todas as idéias borbulhantes.

Justamente por causa de todo este tumulto tenho reservado meus momentos de folga para relaxar com os amigos, passear pelo circuito cultural da cidade, estar em família e todas aquelas coisinhas que adoro e sempre falo por aqui.

Muitas justificativas simplesmente para dizer que sinto-me culpada pela ausência... enfim...

Como a produção gastronômica aqui de casa anda meio parada (continuamos fazendo 3 refeições diárias, mas sem muitas novidades) sempre estou de olho no que posso encontrar de bom por aí. Por isso, não podia deixar de aproveitar um momento shopping e compras de natal para ser apresentada ao Freddo.

Para quem, assim como eu, nunca teve a oportunidade de visitar nossos hermanos, preciso dizer que é uma marca de sorvete bastante famosa e bem quista pelos turistas. Mas também pudera, o carro chefe da sorveteria é o sabor inigualável do doce de leite argentino.

O Freddo chegou a São Paulo no começo do ano e agora está também em um quiosque no Shopping Paulista, bem pertinho ao Papai Noel.


Falar que o sorvete é cremoso não o descreve, ele é mais do que cremoso, ele é macio, marcante e encanta desde sua cor. Faz por merecer toda sua fama e a euforia de quem o indica.

O preço não é dos mais agradáveis, mas pelo menos agora não é mais preciso deixar o país para prová-lo.

Sei que foi uma ótima parada para descansar as pernas e esfriar as idéias. Ânimo renovado para preparar um post fresquinho, recém saído do freezer.

E como sempre digo, tudo sempre fica melhor com sorvete, até as voltas em um lotado centro de compras.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A favorita

Não, eu não estou sozinha. Uma pesquisa feita com mais de 16 mil pessoas em 17 países diferentes descobriu que macarrão é a comida preferida do mundo. Dá-lhe espaguete na rapaziada.

Para surpresa dos pesquisadores no Brasil a feijoada ocupa apenas a 4ª posição com menos de 5% da preferência, já disparada em primeiro lugar com mais de 20% está ela, a lasanha.

Gastronomia Doméstica apoiando as IMPORTANTÍSSIMAS descobertas científicas não poderia deixar de homenagear essas novidades capazes de mudar os rumos da história quanto ao conceito que temos sobre os pratos que melhor representam nossa soberana nação.

Posto isso, aqui estamos nós com uma criativa receita de Lasanha.

Dessa vez nada de farinha, ovos, suor e sujeira. Aproveitei para valorizar o produto regional comprando na altamente recomendada casa de massas MR, na rua de trás aqui de casa. Massa fresca, fininha, amarelinha, saborosa e com preço justo.

Se não há trabalho com o preparo da massa, podemos então nos concentrar no molho, no recheio, no queijo e em todos os sabores que iremos misturar.

Me inspirei livremente no ravioli que postei aqui no blog em misturas exóticas.

Na panela sempre o queridíssimo azeite levemente aquecido e começamos os trabalhos com um alho poró em fatias bem fininhas. Deixe refogar até murchar bem e então frite 1 quilo de linguiça calabresa fresca sem pele e moída no processador.

Aproveitei para tirar o excesso de gordura da linguiça nesta manobra. Hora de fritar e fritar e fritar. Algumas gotinhas de tabasco, bem de leve, uma lata de creme de leite, desliguei o fogo e então acrescentei um punhado de biscoitinhos amaretti que esfarelei com a ponta dos dedos.

Molho pronto e reservado, hora de fatiar algumas peras. Finas fatias de 4 peras com algumas gotinhas de limão para não escurecer. Em uma frigideira manteiga, onde deixei as peras cozinharem até ficarem macias. Mais uma parte do recheio pronta e reservada.

Queijo camembert em finas fatias, requeijão cremoso e parmesão ralado a postos, estamos prontos para começar a montagem.

Comecei pincelando requeijão cremoso no fundo da travessa, uma camada de massa, uma bem servida porção de molho, uma camada de pera e sobre as peras, esparsas fatias de camembert.

Mais massa, mais molho, mais pera, mais queijo, mais massa, mais requeijão e muito, muito parmesão ralado.

Forno quente e bora gratinar.


Como posso descrever? Ah! Já sei. Uau!!!!

Incrível combinação de sabores em uma lasanha cremosa e muito recheada. Perfeitamente entendido porque é preferência nacional.

Aos vencedores a lasanha.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

No Stress

Ah! O poder calmante da fruit de la passion.

Fruit de la passion é o nome francês do maracujá. E não vá pensando que é que sobre qualquer paixão que estamos falando não. Mas sim da Paixão de Cristo.

Os religiosos europeus encantados com a beleza de suas flores às associaram à coroa utilizada por Jesus e suas cores coincidiam justamente com as cores que a igreja usava na semana santa. Resumindo, o maracujazeiro tornou-se uma excelente forma encontrada pelos padres missionários de utilizar metáforas na catequezição.

Independente de qualquer explicação sobre esse batismo, sua flor é linda e sempre achei seu sabor bastante sedutor.

Já no Brasil... maracujá vem do tupi e quer dizer "alimento na cuia" o que dispensa qualquer explicação.

Enfim, não é de hoje que o maracujá é minha fruta preferida. Além de ser maravilhosamente azedo (há controvérsias sobre isso, né mãe?) ainda deixa uma leve sensação de torpor e relaxamento. Por isso, nos dias mais tensos uma boa idéia é incluir este fruto no cardápio.

Optei pelo clássico e irresistível salmão ao molho de maracujá.

Como todo filé de peixe, grelhar o salmão é bem simples, basta aquecer uma frigideira com um pouco de azeite, e então deixe 3 minutos, primeiro com a pele para baixo para ficar bem crocante e depois vire e deixe mais 2 minutos. Fica no ponto certinho.

O molho é igualmente simples e rápido. Em uma panela derreta 1 colher de manteiga, 2 colheres de açúcar mascavo e acrescente a polpa de 2 maracujás. Deixe ferver por 5 minutos e acrescente uma lata de creme de leite.


Na hora de servir, basta repousar o molho sobre o salmão.

Suculento e com perfeita combinação de sabores e texturas sem falar que é um prato bastante saudável.

Mas se estamos falando de comidas com efeito relaxante não podemos esquecer das sobremesas.

Que tal uma indicação daquele chef australiano de quem eu adoro comentar aqui no blog?

Pois é, mais uma receita a lá Curtis Stone: Granita de maracujá.

Ferva meia xícara de açúcar com meia xícara de água, coloque a polpa de 3 maracujás, um generoso punhado de folhas de hortelã picadas e algumas gotas de limão.

Leve ao freezer, a cada 20 minutos raspe o gelo formado nas beiradas com um garfo, misturando com o meio até que esteja completamente congelado e tenha o aspecto de pequenos grãos (umas 4 idas e vindas ao congelador mais ou menos).


Servi sobre uma salada de frutas de manga e morangos. Achei fantástico, mas como dica fica certificar-se que seus convidados tenham uma mínima tolerância ao azedo. Minha mãe por exemplo não conseguiu comer a salada de frutas até o fim nem com a ajuda de muito leite condensado.

Mas eu e minha irmã aprovamos o delicioso e refrescante azedinho combinado com o doce das frutas da estação.

De resto basta aproveitar os sabores com efeito tranquilizante e sem contra-indicações... quer dizer... overdose de maracujá pode ter como efeito colateral o sono, muito sono.

ZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzz

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Senta, que lá vem história!

Era uma vez...

...uma rainha chamada Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança (ufa). Como já era de se esperar, antes de ser rainha a Maria foi princesa. Não qualquer princesa, mas a Princesa do Brasil (além de ser Princesa da Beira e Duquesa de Bragança).

Como ela era muito importante, não podia se casar com qualquer um. Teve que garantir a continuidade dinástica da Casa de Bragança casando-se com o tio Pedro de Bragança.

Tiveram quatro filhos, entre eles João, que um dia assumiria o trono como D. João VI e por causa de umas confusões com um maluquinho francês que gostava de usar chapéu e montar em seu cavalo Branco, Joãozinho correu sair de Portugal rumo ao Brasil.

Tão às pressas que sua mãe, a Maria, disse uma frase que entrou para a história: Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir. Frase bem sincera, embora o que comentam por aí é que ela não tinha pressa nenhuma por acreditar que estava mesmo era indo para o inferno...

Resumindo, a nossa Maria não batia lá muito bem dos pinos e isso lhe rendeu a fama de Louca.

Curiosidade? Já que a Maria era meio lelé da cuca, só permitiam que ela saisse acompanhada de muitas damas da corte. A Maria, que ia rodeada de muitas outras damas fez nascer a expressão Maria vai com as outras.

Mas este continua sendo um blog de gastronomia onde o que nos interessa não é a transformação da Princesa em Rainha ou da Rainha em Louca, mas sim a transformação da Maria em padaria.

E se tem uma coisa que português entende bem é de padaria, ora pois.


A casa de pães Maria Louca, ali na rua dos patriotas, oferece uma infinidade de opções. E como em toda boa padaria fui envolvida por seus aromas logo na entrada.

Ambiente bem iluminado, amplo, com rápido atendimento e cardápio inusitado. Os lanches foram batizados, por exemplo, com nomes de antigos cinemas do bairro do Ipiranga.


Não resisti à garoa de bacon descrita no cardápio e ataquei um Cine Soberano.

Conselho, vá com fome, muita fome. Muitíssimo bem servido e acompanhado de batatas. Bom, se tem bacon... eu sou suspeita para falar, mas...

De verdade, lanche generosamente montado e muito saboroso, daqueles de fazer os olhos brilharem a cada mordida. 


Como nem só de bacon se vive, há também opções mais lights. O Cine Anchieta com rúcula, tomate e filé mignon grelhado é bem mais leve.


Lanche para quem é de lanche. Buffet pra quem é de buffet, no mezanino servem todas as refeições do café-da-manhã ao jantar, com grande variedade também, mas que deixei para experimentar em uma próxima visita.

Sugestão, quando estiver em uma padaria nada melhor para terminar a refeição que um delicioso doce. Riquíssima oferta de doces. Optei pelo de café, com pistache e physalis de decoração.


Um lugar que faz juz ao slogan que tem: Sabor em todos os sentidos.

E já que...

...além de comida estamos falando de história. Saímos da padaria e resolvemos fazer uma visitinha ao palácio construído como monumento da independência. Ali no Ipiranga mesmo, onde o Pedrinho I, neto da Maria, recebeu uma carta do João e resolveu proclamar a independência.


Afinal, foi assim que o infante e serelepe Pedrinho tornou-se imperador, casou-se com a Imperatriz Leopoldina (a da escola de samba) apaixonou-se pela Marquesa de Santos...

...e eles viveram felizes para sempre...

Bom... eles eu não sei, mas esse domingo foi bem feliz.