quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pausa

Minestrone

Não tem jeito. Às vezes nosso organismo pede um breque. Aquele momento em que não podemos nem olhar para fritura, massas ou qualquer coisa mais pesada.

Onde o que nos apetece realmente são verduras, legumes e tudo aquilo que ouvimos desde sempre as mães dizendo que são importantes e cheios de vitaminas.

Mas não é porque optamos de vez em quando por um prato mais levezinho que iremos abrir mão de sabor. Nana nina não. É simplesmente a ocasião ideal para um delicioso minestrone.

Traduzindo, "minestra" quer dizer sopa e "one" é em italiano um sufixo aumentativo. Sim, minestrone nada mais é que um sopão.

Sua maior característica é ser em pedaços. Não há receita, ou melhor, não há apenas uma receita. Cabe nesta sopa qualquer legume, qualquer verdura, macarrão pra quem é de macarrão, arroz pra quem é de arroz, qualquer tipo de carne para o caldo ou mesmo sem carne nenhuma, qualquer tempero... ou seja, tudo depende de gosto pessoal e do que encontrar na geladeira.

Aqui em casa começamos nosso minestrone com um pouco de azeite e um pedaço pequeno de baby beef que estava perdido no congelador temperado apenas com sal. Depois de selar bem a carne acrescentamos 1 cebola grande em pétalas.

Quando a cebola estava transparente juntamos couve-flor, brócolis, acelga, cenoura e mandioquinha. Tudo já lavado, descascado e cortado em pedaços irregulares. Outras sugestões são repolho, aipo, alho poró, batata, tomates... enfim, os legumes e verduras da estação são sempre os mais recomendados. Uma leve fritura, cobrir de água e temperar com sal e pimenta do reino.

Algumas ervas podem dar um toque interessante ao caldo, salsinha para mim é indispensável na finalização, mas pode-se colocar uma pitada de tomilho ou manjericão para deixar este sopão ainda mais intrigante.

Depois que tudo estiver cozido, corrija o sal e é hora de deliciar-se. No prato mais um fio de azeite e um pouco de queijo ralado porque ninguém é de ferro.

O paladar e organismo agradecem. Agora sim, prontos para a próxima orgia gastronômica.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Iniciando os trabalhos

Antes de mais nada, anuncio o resultado da votação Melhores do Ano - 2011.

Entrada: Salada quente de abóbora
Prato Principal: Rosbife da mãe do Zeca Camargo - Unanimidade nos votos da patota
Acompanhamento: Risoto de alho poró
Sobremesa: Sorvete de azeite e vinagre balsâmico

Mal posso esperar pelo próximo domingo onde poderemos provar todas essas maravilhas. Enquanto isso...

Vamos aos últimos acontecimentos. Após as férias, onde pegamos muitas dicas aqui e ali, já estava na hora de um daqueles encontros dominicais deliciosos. Quando nos reunimos em volta da mesa e do fogão para muitos preparativos, boa conversa e risadas, experimentar coisas novas e provar pratos muito bem feitos (super modestamente).

Falando em experimentar... ficamos ali petiscando uma burrata durante os preparos. É um tipo de queijo assim, meio casca grossa por fora, mas por dentro... uma verdadeira manteiga derretida. A comparação com a manteiga vai ainda mais longe, já que este queijo tem origem em Puglia, na Itália, e seu nome é derivado da palavra "burro" que significa (adivinhem) manteiga.

Extremamente cremoso, de sabor leve com um sutil toque azedinho, ótimo para ser consumido frio.

Regamos a burrata com azeite (porque azeite sempre vai bem com tudo, até com sorvete) e saboreamos com finas fatias de croissant. Gostinho de quero mais que quase nos fez cancelar o almoço para ficarmos só nos petiscos, mas com tanta coisa boa por vir, achamos melhor ir com calma.

burrata

Entre essas coisas boas do por vir. Ah! O por vir... estão as torradas de croissant servidas com ovos mexidos e fatias de salmão defumado. Receita do chef Gordon Ramsey. Taí outro chef que sabe muito bem o que faz.

A receita é bem simples, não sai muito barata por causa do salmão defumado, mas para fazer um charme com muita classe é espetacular.

Corte fatias não muito finas de croissant que devem ser tostadas em uma chapa de ferro. Não é preciso colocar nada, pois a massa do croissant já tem toda a manteiga necessária.

Para os ovos mexidos coloque um pedaço de manteiga em uma panela, acrescente os ovos e mexa sem parar mantendo o fogo baixo. Assim que os ovos começarem a endurecer coloque um pouco de leite, mais manteiga, sal e pimenta do reino, continue mexendo até que estejam completamente cozidos e bastante fofinhos.

Não sei dizer as medidas exatas, fiz 3 ovos, usei aproximadamente duas colheres (chá) de manteiga e 1/4 de xícara de leite. Lembre-se que é o leite que dá a maciez esperada, mas não exagere para que não fique líquido demais.

Continuando...

Sirva os ovos sobre as torradas e coloque uma fatia de salmão defumado para finalizar. Sugestão da minha irmã, dar um toque de dill. Combina.

torradas de croissant com ovos mexidos e salmão defumado

Difícil depois de uma entrada destas é conseguir um prato principal a altura. Acho que nos saímos muito bem. Para isso usamos as dicas de outro chef, o sempre aclamado por aqui, Claude Troisgrois. Novamente fizemos sua massa de nhoque.

Desta vez assamos as batatas no microondas. Apenas 20 minutos para 4 batatas com casca. Descascá-las ainda quente com o auxílio do pano de prato, para não queimar as mãos, juntar 3 gemas, queijo parmesão ralado, sal, pimenta do reino, noz moscada, e pouco menos de uma xícara de farinha.

Amassar tudo muito bem e aí entrar com a criatividade. Fizemos grandes bolinhas com a massa e as recheamos com um pedaço de muçarela de búfala, tomate seco e uma folhinha de manjericão.

recheio do nhoque

Aqueça bastante água em uma panela bem funda e então cozinhe as bolotas aos poucos até que subam (sim, mesmo grandes e pesadas por causa do recheio elas sobem à superfície da água quando cozidas).

bolotas esperando o cozimento, sim, elas flutuam

Todas já cozidas, arrume-as em uma forma e cubra com molho. Neste dia o molho escolhido foi um  bolonhesa meio diferente. Na panela coloque uma cebola e dois dentes de alho bem picados para refogar em azeite. Quando ficar transparente acrescente carne moída e deixe fritar com calma. Tempere com sal, pimenta do reino, uma pimenta dedo de moça picadinha e meio maço de hortelã picada. A diferença está aí na hortelã.

Vou confessar. Estava sem ervas frescas em casa, então apelei para o freezer onde jurava ter muito manjericão em um pequeno potinho. Confiante abri e coloquei as folhinhas congeladas sem dó. Foi quando percebi o aroma da hortelã e só então reparei no formato das folhas, pois é... um momento de distração e uma nova receita foi criada.

De volta à receita. Depois que a carne estiver bem sequinha, deixando a panela já meio escura, junte 1 lata de tomates pelados e mais 2 ou 3 tomates italianos maduros sem pele e bem picados. Misture, pingue um pouco de água fervente, tampe a panela e deixe apurar o quanto a paciência permitir. No meu caso pouco mais de 2 horas, pingando mais água fervente quando necessário. Corrija o sal ao final.

Bolotas cobertas pelo molho, muito parmesão ralado e forno bem quente por 15 minutos para gratinar.

nhocão recheado de queijo, tomate seco e manjericão ao molho bolonhesa

Massa que sumia na boca e dava espaço para o recheio com seu queijo bem derretido, o adocicado do tomate seco e o incrível aroma do manjericão. E o molho? Foi um dos melhores que já preparei. A hortelã conferiu a personalidade que o prato pedia. Espero que sempre que eu me confudir na cozinha o resultado seja assim surpreendente para que eu me inspire a errar mais.

Claro que harmonizamos esses erros e acertos com um excelente vinho. Talvez venha dele o toque poético de ter boas surpresas a partir dos nossos erros. Ah! A profundidade da filosofia em torno da mesa...

Enfim. Apreciamos o vinho Poesia 2004. Elaborado da mistura de uvas Malbec e Cabernet Sauvignon plantadas de maneira totalmente livre de agrotóxicos e em pé franco. Calma que eu explico. Resumidamente pé franco é quando retira-se um galho de uma videira mais velha e o coloca diretamente no solo para se conseguir uma planta nova, método que vem sendo deixado de lado pela facilidade dos enxertos.

O resultado de todo esse cuidado é um vinho envolvente desde o princípio. Com aroma cítrico e que ao mesmo tempo nos remete a um passeio pelo campo. Algo bem bucólico. Bastante equilibrado, com toque adocicado e pouco adstringente. Definitivamente, poético.

vinho poesia 2004

Encerrando a primeira reunião gastronômica de 2012 da patota, um repeteco. Torta de peras com gorgonzola. Para não me estender ainda mais vou deixar aqui o link do post com a receita.

Se escolhemos repetí-la é porque claro, já nos encantamos com ela da primeira vez. Dica útil, não sobrecarregue no gorgonzola, sirva quente e sorvete sempre combina.

torta de peras e gorgonzola

Mais uma vez, simplesmente encantadora como todo este cardápio.

Almoço repleto de alma, daqueles que nos enchem de energia e confiança. Agora é hora de correr com os preparativos do melhores do ano e trabalhar sempre para que nunca falte muita prosa e poesia para contar.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Me espera no portão

Que sim, estamos voltando pra casa!

Pois é, viajar é sempre fantástico. Descobrir novos lugares, muitos sabores, inúmeras paisagens e transbordar a mala de presentes e histórias para contar. Aventurar-se por aí é realmente fascinante, mas nada supera a sensação de voltar ao lar. Principalmente quando sabemos que teremos uma calorosa recepção cheia de saudades e abraços apertados.

Assim foi nossa chegada, pisamos no aeroporto e fomos recebidas com festa. De lá seguimos para um canto sossegado e familiar onde poderíamos provar uma boa refeição e conversar a vontade. Afinal, uma viagem gera muito papo para colocar em dia.

Escolhemos a cantina La Pergoletta com ambiente confortável, atendimento rápido e pratos deliciosos.

Para petiscar, bolinhos de risoto. Altamente recomendado e não fotografado, embora eu ainda não troque o maravilhoso couvert da casa por nenhuma entrada... o ideal é, se possível, não dispensar nenhum dos dois. Agora, por mais apetitosos que esses petiscos sejam, suspiramos ao ver a massa chegar.

Pedimos a mezza luna de brie e damasco com duas variações de molho. Um deles de tomate com filé mignon e rúcula e o outro, branco com nozes e gorgonzola.


As folhas frescas de rúcula acrescentaram uma textura crocante e seu sabor levemente amargo fez o contraste perfeito com o recheio da massa. Já o branco com nozes e gorgonzola, devidamente gratinadinho, deixou a massa mais intensa e encorpada. Ambos sensacionais.


Para acompanhar nosso jantar, optamos por um vinho igualmente italiano. Da região de Umbra. O Cardèto Rupestro, forte e de acidez bastante acentuada. Um vinho menos ácido teria harmonizado melhor com o momento.


Mas isso não tirou nem um pouco o brilho dessa nossa rápida escala pela bela Itália.

Escala esta que nos proporcionou novamente uma agradável experiência. Quase tão agradável quanto voltar para casa.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Fugindo do aquário

Depois de muita moqueca, peroá, iscas e gurjões... nada mais natural que sentíssemos necessidade de comer algo diferente de peixe. Por isso não nos contivemos ao encontrar um lugar onde poderíamos provar um autêntico churrasco.

O restaurante Costa Brasil onde nos foi servida uma boa e surpreendente salada de manga, cogumelos paris, tomates secos, alface e muito queijo parmesão ralado. Fresquinha e com muitos sabores e texturas. O início perfeito de uma boa refeição onde carne vermelha seria o prato principal.


Mais precisamente meio quilo de maminha recheada de queijo de cabaça e acompanhada de farofa e vinagrete. Trazida a nossa mesa, a parte externa que já estava ao ponto era fatiada finamente e então voltava à brasa. Assim pudemos curtir a carne bem quentinha e inteiramente no ponto ideal do começo ao fim.

Quanto aos acompanhamentos, a farofa estava bem carregada no alho, o que não necessariamente seja algo ruim, mas durante a noite mandou algumas lembranças, o vinagrete... bom o vinagrete é apenas para deixar qualquer pessoa mais modernete.


Gostamos tanto de fugir um pouco do aquário que resolvemos repetir no dia seguinte. Foi quando encontramos a pizzaria DeLira. Não tem jeito, como boas paulistanas não conseguimos dispensar uma pizza no sábado a noite.


Massa fina, crocante e recheio caprichado. Marguerita e calabresa harmonizadas com o honesto carmenere Cosecha Tarapaca indicado pelo garçom. Pena a foto ficar assim, meio alcoolizada...


Quanto ao ambiente... bem... o que posso dizer? Para duas corintianas ele não era dos melhores. E a opinião não poderia ser diferente levando-se em conta que lá há uma sala exclusiva do São Paulo. Com direito à camisa autografada, hino na parede e quadro do Rogério Ceni em ação. Mas tudo bem, mesmo não sendo meu time de coração é o que carrega o nome da minha amada cidade, então aproveitei e tirei muitas fotos para o meu cunhado mais legal. Ele sim ficou feliz por termos escolhido este restaurante. 


Brincadeiras à parte, o ambiente estava bastante agradável e acolhedor. Daqueles lugares para apreciar a pizza com calma, degustar o vinho sem pressa e bater um longo papo enquanto uma constante chuva fina cai lá fora...
 
Pizza e chuva fina em um sábado a noite... sem dúvida uma autêntica noite paulistana em terras capixabas.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Rock

Apesar do Espírito Santo ser logo ali, muitas vezes precisávamos de algumas traduções. Por exemplo, no "rock" de lá pode tocar forró, axé, reggae, pagode, sertanejo, mpb ou mesmo o bom e velho e rock'n roll. É a gíria local para falar que vão fazer uma balada, uma festa, um agito... e o local onde estão os melhores "rocks" de Vitória é no Triângulo das Bermudas. Pelo menos isso foi o que nos disseram, mas como estávamos em Vila Velha e percebemos que por lá havia muito a ser explorado, não nos arriscamos a nos perdermos muito longe.

De qualquer forma, nos disseram que no Caranguejo do Assis o rock costuma pocar e então seguimos pra lá. Ah! Pocar é um verbo muito usado por lá, e pode ser usado no sentido de estourar  ou como eu disse aí em cima, para indicar que o lugar é muito legal, interessante, movimentado... que o lugar bomba mesmo.


Ao chegarmos no Carangueijo do Assis, que fica na praia de Itapoã (embora haja controvérsias), nos trouxeram o cardápio e eu fiquei ali, folheando e folheando até que desisti e chamei o garçom para pedir algumas traduções. Nunca tinha ouvido falar em kieber, gurjão ou carne no palito por exemplo.

O garçom muito simpático foi explicando tudo, que gurjão é igual a isca de peixe, mas a isca de peixe é de cação e o gurjão é de badejo, que carne no palito é carne no espeto e que kieber... bom, do kieber eu falo daqui a pouco.


Começamos com a casquinha de siri, generosamente servida, acompanhada de farofa e bem temperada. Aliás, a fartura dos pratos me pareceu uma constante pela região.


Na sequência o gurjão. Acompanhado de maionese, bem sequinho, casquinha crocante e um delicioso peixe macio daqueles de desaparecer na boca, iá!
Taí, se mineiro fala uai, capixaba fala "iá". Já disse que fiquei impressionada com a quantidade de histórias e particularidades de lá? Pena que foi tão pouco tempo. Mas tempo suficiente para fazer muito rock.

Depois de nossa experiência no Caranguejo do Assis saímos para caminhar e mal demos dois passos e nos deparamos com o Abertura, lugar que nos pareceu "massa" e prometemos voltar no dia seguinte. Continuamos andando e conhecemos a praia de Itapoã que a noite fica repleta de pescadores e assim como a praia da Costa tem um visual incrível.

Dia seguinte, cumprimos a promessa e fomos ao Abertura onde descobrimos ser o local que criou o kieber.


Agora sim. Kieber é um pequeno pedaço de peito de frango recheado de presunto e queijo, preso com um palito de dente, empanado e frito. Petisco do tamanho da mordida, ideal para acompanhar uma cerveja bem gelada ou um bom chopp bem tirado.

Pena que eu resolvi tirar a foto depois do chopp... estava delicioso, frango suculento, queijinho derretido...


Deixa eu falar, foi mais uma experiência incrível proporcionada pela criatividade capixaba. Aliás, me parece que o que caracteriza mesmo os capixabas não são suas expressões regionais e peculiaridades históricas, mas a criatividade e o bom humor que pairam no ar, além de uma tremenda boa vontade e simpatia locais.

Nossos rocks foram muito legais e sempre muito bem acompanhados de comida farta e bem preparada. Não poderia ter sido melhor... quer dizer, se eu posso fazer um pequeno comentário, para mim seria ainda mais inesquecível se tivesse rolado algum rock de fato, que continua sendo meu gênero musical preferido onde quer que eu esteja...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mudança de hábito

Assim que pensamos em colocar os pés em terras Capixabas uma idéia fixa instalou-se em nossas mentes: provar uma autêntica moqueca.

Mas, algo nos separava deste desejo. Mais especificamente algo grande com asas e turbinas e que proporcionou à minha mãe algumas noites mal dormidas. Eu do meu lado bastante apreensiva, pensando em como seria a reação dela e se teria que procurar passagens de ônibus para a volta.

No dia da viagem eu estava lá, firme e forte na janelinha pronta para segurar a mão da Dona Margarete na decolagem. Eis que viro para o lado e pergunto se está tudo bem, se ela precisa de uma força e é neste momento que recebo a feliz resposta: Que medo nada! É gostoso!

Aí sim. A tensão bateu asas e voou e nós pudemos admirar a paisagem pela janelinha. Nada mais nos afastaria da moqueca.

 

E moquecas autênticas devem ser feitas nas tradicionais panelas de barro das paneleiras de Goiabeiras. Paneleiras estas, que poderiam incluir nos preços um generoso adicional de insalubridade. Nada fácil seguir a tradição.

Primeiro modelam as panelas. Depois esperam o barro secar e então fazem a raspagem com pedra sabão para dar acabamento. Então vem a parte mais complicada, elas queimam as panelas em uma fogueira, retiram da fogueira e com um monte de galhinhos amarrados vão batendo nas panelas ainda quentes com um líquido onde está misturado o tanino que dá a coloração.

Neste momento da queima e da tintura, sobe bastante vapor e cheiros fortes, mas é essencial para a produção. Viu, como se faz?

Na minha doce ingenuidade, nunca imaginei o trabalhão que dava, mas cozinhar em panela de barro é tudo de bom, dá outro sabor aos pratos, risotos, ensopados, carnes e claro, moqueca.


Não há com quem se converse por lá que não tenha sua própria receita de moqueca e esteja disposto a compartilhá-la. O básico é o peixe de sua preferência, tomate, cebola e muito, muito coentro.

Nada de leite de coco ou dendê, apenas o peixe no molho e muito coentro mesmo. Já falei do coentro? Algumas receitas chegam a levar 3 ou 4 maços inteiros.

Provamos a moqueca do restaurante Trindade na Praia da Costa em Vila Velha. De frente para o mar, sentindo a brisa, curtindo o verão e satisfazendo o desejo de nossos paladares.

Quer dizer... se estamos em uma viagem, a graça é permitir-se. Eu me permiti, escolhemos uma opção de moqueca com camarões. Pra quem perdeu essa parte eu não gosto nada, nada de camarão.


Frescuras do meu paladar à parte, o peixe (badejo) estava no ponto exato. O molho temperado na medida certa, mesmo o coentro não estava exagerado. Foi acompanhada de moqueca de banana da terra, pirão e arroz. Esses acompanhamentos também são bastante tradicionais nos cardápios de lá e todos estavam muito bem preparados e saborosos.

Tiramos a idéia fixa da cabeça e pudemos então seguir firmes em nosso propósito de desvendar novos sabores. Não sem antes anotarmos muitas dicas e receitas de moquecas que trouxemos na bagagem.

Qualquer dia, para relembrar os bons momentos da viagem, farei minha própria versão de moqueca capixaba aqui em casa. Incluirei os mesmos acompanhamentos, mas nada de camarão. Afinal de volta ao lar significa estar de volta aos bons e velhos hábitos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

História meio ao contrário

Porque as historias não precisam necessariamente começar pelo começo.

Vamos direto ao último dia da viagem. O dia de nossa visita a Guarapari. Por que eu escolhi começar a história da viagem pelo fim?

Simples, porque foi apenas neste dia que provamos o tal do peroá.

Desde que a agência de turismo local nos buscou no aeroporto ouvimos falar que preciávamos provar o peroá capixaba.

Pois bem, já que foi a primeira indicação da culinária local, nada mais justo que ele esteja presente logo no primeiro post desta aventura.

Então, como eu dizia. No último dia de passeio fomos conhecer Guarapari e suas areias monazíticas embaixo de muita chuva. É, o mundo desabava sobre nossas cabeças, mas é praia, férias e não seria uma chuvinha qualquer que estragaria a oportunidade de experimentar novos sabores e aproveitar o visual.

Por indicação da Turismo Capixaba e guiadas pelo simpático e falante Rodrigo, paramos no quiosque Caranguelua na Praia dos Namorados.

Sem sol para colocarmos os pés na areia a solução foi enfiar o pé na jaca logo cedo com direito a chopp estupidamente gelado em canecas congelantes.


Mas nossos olhos brilharam mesmo ao experimentar o maravilhoso pastel de angu. Bem diferente daquele que fizemos aqui em casa (lembra?). Massa fininha, super crocante e bem temperada com opções de recheio cremosas de frango ou carne seca.


Só de pensar a boca enche de água e a vontade é de correr para a cozinha refazer esta receita do jeito que ela merece.

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas estamos aqui para falar da lenda do peixe com cabeça, o tal do peroá.

Peroá nada mais é do que o porquinho, tão popular em terras paulistas, mas servido com cabeça, sem falar que o peroá de lá é bem maior que o porquinho daqui.

Servido acompanhado de bananas grelhadas, batatas fritas e cebolas bêbadas. Tantos acompanhamentos que nem dá para ver o peixe quando a porção é servida. Acredite, há um grande peixe aí embaixo.


A graça é comer a carne que há na cabeça. Por ser um pouco mais gordurosa seu gosto é mais marcante e sua textura mais firme. Devo confessar que é extremamente merecido que esta iguaria local seja mesmo assim tão comentada. Carne macia, suculenta, de derreter na boca... sem falar das cebolas bem crocantes... sensacional.

Ainda mais quando apreciado com uma maravilhosa vista para o mar.


No fim, mesmo embaixo de chuva tivemos um lindo dia, com mar, areia, muitas fotos, muitos sabores e com direito a voltar para o ônibus sujas de areia. E claro, com uma impotantíssima missão cumprida, a de comprar uma camiseta para o meu cunhado que ama Guarapari de longa data.

Tudo bem que o que se espera das Férias é mesmo sombra e água fresca, mas bem que essa água fresca não precisava cair do céu.

OBS: O título do post é uma homenagem a um livro de Ana Maria Machado lido e relido desde a infância, até de trás pra frente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Expectativa

As viagens começam muito antes da partida. Culpa da expectativa, aquela ansiedade básica diante da novidade.

Além é claro de todos os preparativos. Conferir horário mil vezes, mentalizar todas as informações necessárias, arrumar as malas, separar roupas... Ah! Aquele delicioso frio na barriga que domina as emoções de marinheiras com pouca experiência na bagagem.

Entre todos esses preparativos decidi fazer um jantar para nos ajudar a entrar no clima. E se o destino é o litoral, nada melhor do que peixe.

Mas peixe só não basta, legumes e uma fruta com identidade nacional foram imprescindíveis neste cardápio.

O mais demorado deles é o acompanhamento. Simples assim: pique grosseiramente 2 abobrinhas, 1 cenoura e 2 cebolas. Misture tudo dentro de uma forma e regue com bastante azeite. Folhinhas de manjericão e nozes quebradas finalizam os ingredientes.

Tempere com sal, algumas gotinhas de pimenta tabasco e um pouco de vinagre balsâmico (bem pouquinho). Agora basta deixar em forno médio.

De tempos em tempos é bom dar uma olhada, mexer os legumes e, caso ache necessário, acrescentar mais azeite para ajudar a soltar da forma.


Legumes no forno cheios de texturas e sabores mesclados aromatizando a cozinha. Enquanto isso, é hora de iniciarmos o prato principal.

Tempere filés de tilápia Saint Peter com limão, azeite, alecrim, sal e pimenta do reino. Rodele fatias de banana da terra e deixe em água fria com limão.

Frite os filés em manteiga com um pouco de azeite. Aqueles 3 minutos básicos de cada lado.

Retire o peixe e na mesma frigideira frite a banana. Salpique sal sobre elas, tampe e deixe por uns 7 minutos para que a banana absorva o tempero do peixe no fundo da frigideira e fique macia. Lembre-se de virá-las para que fiquem douradas dos dois lados.

Sirva as rodelas de banana sobre os filés.


Prato simples, mas cheio de personalidade. Mais do que nos preparar para a aventura dos dias seguintes, nos ajudou a relaxar. Quebrou aquela ansiedade totalmente justificada.

Afinal, a primeira viagem de avião é sempre acompanhada de um pouco de tensão. Situação que não nos permitiria abrir mão de uma boa garrafa de vinho. Elegemos o Relax.


Nome sugestivo, branco, frisante, com ares de comemoração. Depois disso estávamos prontas. Prontas para embarcarmos rumo às moquecas, peroás, gurjões e kiéberes que nos aguardavam nas praias capixabas.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Tudo novo, de novo

Ano novo, vida nova, receitas novas. Tudo novo de novo.

Claro, com direito a todas as velhas mandingas e ingredientes que não podem faltar na virada.

Pular ondinhas, muita lentilha para garantir o dinheiro no bolso, bacalhau para trazer prosperidade e, inventando novas superstições, café para que 2012 seja bastante animado.

Logo de cara as lentilhas que este ano fugiram da tradição.

Cozidas al dente foram misturadas à ricota, cebola e tomate picados, hortelã picada em abundância, azeite para dar aquele toque especial, sal e pimenta do reino para finalizar.

Montamos esta mistura com um dia de antecedência e deixamos na geladeira. Pouco antes de servir recheamos endívias e servimos de entrada.


O verão do fim de ano agradece o frescor da hortelã e a leveza da receita. É, mas parece que este ano o verão queria mesmo era derrubar muitas gotinhas de água sobre nossas cabeças... se chuva na virada é indício de fartura 2012 chegou pra arrasar.

Para o prato principal unimos mais uma vez o novo e o de novo. O de novo ficou por conta da deliciosa polenta da mamãe. Feita na panela de pressão em apenas 10 minutos cravados no relógio após o início da fervura.

Calcular a quantidade de ingredientes fica fácil quando sabemos a proporção. São 2 xícaras e meia de caldo de galinha para cada xícara de fubá e essa medida serve 2 pessoas.

Já na panela de pressão coloque metade do caldo e quando estiver borbulhante, acrescente a outra metade onde o fubá já deve estar dissolvido. Mexa com vontade até ferver. A partir daí fechar a panela e pegar o cronômetro.

10 minutos depois... abrir, despejar em uma travessa de vidro e finalizar com um pouquinho de leite (bem pouquinho mesmo, na proporção 1/4 de xícara). Utilizamos o leite onde fervemos o bacalhau para ajudar a harmonizar os pratos e fazer os convidados perguntarem qual o nosso segredo.


O segredo da polenta está no tempero do caldo, que deve ser suave para não sobressair, mas com muitas ervas como a salsa e o tomilho por exemplo. Aí a polenta fica assim, cremosa, aromática e deliciosa em qualquer dia do ano.

Muita calma, este é só o acompanhamento o prato principal, o novo, ainda está por vir.

Dessalgue lombo de bacalhau em água gelada que deve ser trocada de tempos em tempos durante dois dias. Na panela azeite, 2 dentes de alho inteiros, uma cebola cortada em pétalas e ramos de tomilho, coloque o bacalhau e cubra com leite.

Levantou fervura, apague o fogo e deixe descansar por uns 30 minutos. Escorra bem e reserve.

Em outra panela, muito azeite e 3 cebolas cortadas em finas tiras meia lua. Assim que ficar transparente acrescente 2 dentes de alho bem picados e deixe refogar. Acrescente 4 tomates sem pele e ferva.

Apure bastante, acrescentando quando e se necessário, um pouco do leite em que o bacalhau foi fervido (o mesmo que usamos para a polenta, lembra?).

Depois de apurado uma bem vinda pimenta dedo de moça picada e finalmente o bacalhau já em lascas. Apenas 5 minutos são suficientes para tirar a panela do fogo, corrigir o sal e juntar aquela costumeira e tradicionalíssima porção de salsa e cebolinha para finalizar.


Tudo bem, eu concordo que esta receita de bacalhau refogado não seja nenhuma grande novidade. Mas para mim a surpresa ficou por conta da mistura com a polenta.

Simplesmente sensacional. Acredito que foi uma das melhores receitas de bacalhau que já provei. Textura perfeita, com umidade na medida certa e sabor sem igual.

Para terminar o cardápio com os dois pés direitos, resolvi fazer uma grande estréia. A estréia do livro "Jamie Oliver Viaja" que ganhei de Natal e já tinha passeado por suas páginas cheia de ansiedade em utilizá-lo.

Não haveria portanto melhor oportunidade de testar a receita de "melhor tiramissú" do que na data em que esperamos o melhor do ano que chega.


Segui a receita à risca. Em banho-maria dissolvi 200g de chocolate 55% cacau junto com 50g de manteiga com sal. Derretido e reservado.

Espalhei 175g de biscoitos champagne no fundo de algumas travessinhas individuais e os reguei com 400ml de café quente com açúcar.

Adicionei um pouquinho de vinho de sobremesa ao chocolate derretido e então cuidadosamente cobri os biscoitos com a mistura. Dica minha, não do Jamie, coloque creme de leite fresco neste chocolate, a consistência fica ainda melhor.

Esperar esfriar e preparar a batedeira.

Bata em velocidade alta, 4 gemas, 100g de açúcar e mais vinho de sobremesa até que vire uma espuma bem clara. Misture 750g de queijo mascarpone (nem tão fácil de encontrar, mas que pode ser substituído por creme de leite sem soro) e as raspas de 1 laranja.

Junte a esta mistura as 4 claras em neve (bata com uma pitada de sal), e então espalhe a mistura sobre o chocolate.

Enfeite com pó de café e mais raspas de chocolate e de laranja. Pelo menos 2 horas de geladeira antes de servir e o ideal é que seja feito de véspera.


Com certeza uma receita com potencial para fazer parte da tradição. Inspirada e inspiradora que me fez dar mais uma volta pelo livro e resolver tirar os pés do chão, partindo para uma empolgante viagem gastrônomica.

Mas isso é assunto dos próximos capítulos.