segunda-feira, 30 de maio de 2011

Crosta de Sal vs Gastronomia Doméstica

Há um tempo, vi um programa do Jamie Oliver onde ele fazia um frango inteiro na crosta de sal.

Dizia ele que o frango ficava macio, dourado e nada salgado, porque o sal na verdade apenas criava um vapor para cozinhar o frango.

Fiquei aguada de vontade. Pouco tempo depois lá estava meu cunhado fazendo uma receita de peixe na crosta de sal.

Imagine a empolgação para saber como ficou. Agora, imagine a frustração ao saber que ficou extremamente salgado e intragável.

Tudo bem, vai ver que aconteceu por ser peixe, uma carne que pega mesmo muito sal facilmente.

Resultado: Crosta de Sal 1 x 0 Gastronomia Doméstica.

Mas não íamos entregar o jogo assim tão fácil. Vencendo todas as dificuldades, procurando várias receitas, novamente meu cunhado resolveu fazer a famigerada crosta de sal grosso. Dessa vez sobre uma suculenta picanha maturada.

Horas de forno e a crosta quebrou por causa da gordura que envergou, a picanha ficou dura e faltou tempero, porque ao contrário do peixe, carnes devem ser temperadas horas antes.

Mais uma vez a crosta nos venceu, deixando o placar em 2 x 0 para ela.

Lavar a forma da crosta é mais um dos desafios proporcionados por esta receita, porque nada dilui todo aquele sal com clara e ervas.

Enfim. Trauma superado resolvemos encarar o desafio novamente. Eu e minha mãe dessa vez decidimos pegar a receita original do Jamie Oliver. Mais do que isso, fazer um jantar com duas receitas dele.

Começamos lavando bem um galeto, em seguida lavamos com suco de limão e não enxaguamos. Descolamos a pele e entre ela e a carne colocamos manjericão picado. Dentro do galeto colocamos um dente de alho inteiro, meia cebola cortada em 4 pedaços e meio limão cortado em 4 também.

Amarramos as coxas e asas com um barbante.

Reservamos. Em uma travessa mais de 1kg de sal grosso, dois ovos inteiros e meia xícara de manjericão picado. Tudo muito bem misturado.

Então forrei uma forma com parte deste sal, acomodei o galeto e o cobri com o restante do sal. Com muito cuidado e capricho, para não ficar nem um buraquinho na crosta.


Cobri a forma com papel alumínio e levei ao forno a 180º por 1 hora.

Após esse tempo tirei o alumínio. Me decepcionei ao ver que a crosta tinha várias rachaduras, tentei repará-las sem sucesso. Voltei o galeto ao forno por mais 1 hora, agora sem o alumínio.

Enquanto isso...

Fervi 300gr de caserecce em muita água por 9 minutos (o suficiente para ficar al dente). Reservei.

Em uma frigideira grande fritei uma porção de cubos de bacon em uma generosa quantidade de azeite até que ficasse bem crocante. Adicionei 3 abobrinhas fatiadas sem miolo e deixei que cozinhasse. À parte em uma travessa misturei duas gemas, 100ml de creme de leite fresco e uma porção de queijo parmesão ralado.

Voltei para a frigideira onde estavam as abobrinhas e o bacon, acrescentei pimenta do reino, sal e tomilho. Coloquei o macarrão na frigideira e tirei do fogo para acrescentar o creme de leite.

Para finalizar, um pouco da água do cozimento do macarrão para que o molho envolvesse a massa com mais facilidade.

Caserecce pronto, hora de tirar o galeto do forno.

Quebrei sua crosta avermelhada e montamos os pratos para saber se finalmente tínhamos desvendado os mistérios do sal grosso.


Para acompanhar nosso jantar o Vinho Adobe, um carmenere bastante aromático e de excelente sabor residual, mas confesso, só comprei esse vinho por causa do nome, como uma singela forma de comemorar o dia do Orgulho Nerd que foi na última quarta-feira (dia 25 de maio).


Chega então a hora da verdade. Começando pelo caserecce. Sem erro, fácil preparo, muito queijo ralado, bacon e abobrinha. Mistura de texturas e cremosidade que com certeza será repetida muitas e muitas vezes por aqui. Já o galeto...


Sem dúvida estava extremamente macio, 2 horas no forno fizeram a carne descolar do osso. Até o peito, que costuma ser um pouco seco e não é do meu agrado, estava macio e suculento graças ao sal grosso. Mas...

Não ficou dourado e perdemos a pele. A crosta deixou a pele completamente salgada e impossível de comer, eu me arrisquei e passei a noite indo e vindo da cozinha buscando infinitos copos de água.

Ou seja, resultado final: Crosta de Sal 3 x 0 Gastronomia Doméstica.

Ainda sou muito mais um franguinho no forno sem essa crosta, onde a pele fica crocante, dourada e definitivamente a melhor parte do frango.

Sendo justa, o tempero do Jamie Oliver é louvável. O limão, o majericão e o fato de cozinharem dentro do frango deixam além de um incrível e marcante sabor, um delicioso aroma pela cozinha.

Entre altos e baixos o jantar foi aprovado, as receitas do Jamie também. Mas crosta de sal é algo que nem quero mais ouvir falar... Traumatizei!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Misturar faz bem

Quando pensamos em chocolate logo imaginamos deliciosos mousses, bolos, cremes e trufas.

Uma sobremesa feita com chocolate já tem 90% de chances de agradar o paladar de todos e ser um grande sucesso. Mas e se misturarmos chocolate à uma receita salgada?

Por mais que nos habituemos com as misturas agridoces tão consagradas na gastronomia ainda temos algumas ressalvas. Misturar chocolate à carne é uma delas.

Ainda mais se essa receita for um boeuf bourguignon, caracterizado por seu cozimento lento no vinho e sabor marcante.

Mas se eu sou fã do Curtis Stones meu cunhado é fã do Claude Troisgros, e se o Claude disse que fica bom, lá vai ele testar a receita. Aliás, mais do que justificada essa confiança no Claude, suas receitas testadas até então provaram-se sensacionais e suas dicas fundamentais. Sem dúvida ele sabe muito bem o que faz.

Enfim, lá foi meu cunhado, pedir pouco mais de 1kg de cupim sem gordura e cortado em cubos grandes para o açougueiro que lhe olhou meio contrariado. Não foi muito simples explicar que era possível tirar a gordura do cupim. Seguiu-se um diálogo mais ou menos assim:

Leo: Você pode por favor tirar a gordura da peça para mim e cortar em cubos grandes?

Açougueiro: Tirar a gordura? Mas é cupim! Não vai sobrar nada.

Leo: Vai sim, eu vi a receita na tv e a carne não tinha gordura nenhuma.

Açougueiro: Tem certeza que era cupim?

Leo: Tenho sim, é para fazer uma espécie de um cozido, só que com vinho.

Açougueiro: Ah tá! Mas não vai sobrar muita coisa.

Leo: Tudo bem, faça o melhor que puder.

Açougueiro: Você devia era fazer na brasa, a gordura deixa um gosto bom e fica bem melhor.

Enfim, depois do longo debate e da troca de receitas, meu cunhado finalmente conseguiu sair do açougue com o cupim limpo e devidamente cortado. Primeiro obstáculo da receita, vencido.

Ingredientes selecionados, hora de preparar a carne.

Tempere a carne com sal e pimenta do reino (uns 6 grãos amassados). Em uma frigideira doure 200g de toucinho em cubos, acrescente o cupim e frite com calma. Agora vem outra mudança na receita, nada de horas na panela em um cozimento lento, utilizar a tecnologia disponível pode ser também um bom negócio, então coloque a carne e o toucinho em uma panela de pressão. Aproveite a frigideira das frituras e coloque 1 cebola picada, 1 cenoura em cubos, 4 dentes de alho, mexa e espere até que comece a soltar líquido. Coloque uns 100ml de saquê e flambe os legumes.

Coloque tudo na panela de pressão, acrescente os 750ml de vinho tinto syrah, 1 colher (sopa) de tomate concentrado, 4 cravinhos da índia, acrescente tomilho, louro e salsa enrolados por um barbante (o bouquet garni) e para finalizar, acrescente 1 colher (sopa) de farinha de trigo (aqui tem um truquezinho: na frigideira coloque azeite e espere esquentar, acrescente a farinha e mexa rapidamente até formar um creminho, só então junte a farinha à panela de pressão). Tampe e cozinhe em fogo baixo por 25 minutos. Sim, só 25 minutos.

Retire da pressão e passe tudo para uma panela de barro. Deixe cozinhar por mais 25 minutos em fogo baixo. Enquanto isso, misture 50ml de creme de leite fresco à 100g de chocolate meio amargo em barra derretido no microondas, vira uma ganache mesmo.


Após a carne estar macia, acrescente o chocolate e corrija o sal e a pimenta se necessário.

Interessante, não? Mas não diga ainda o que achou, pois não acabou. O acompanhamento deste boeuf bourguignon é um delicioso rigatoni.

Cozinhe o rigatoni até que esteja al dente (normalmente não ferve mais do que 8 minutos). Reserve. Em uma frigideira frite mais bacon (dá para imaginar o aroma que esses pratos deixam na cozinha?), cerca de 250g de bacon em cubos. Deixe dourar até que os vizinhos fiquem com inveja e comecem a bater em sua porta para se convidarem para o almoço.


Depois de dispensar os vizinhos ou convidá-los a juntarem-se à mesa (isso depende única e exclusivamente do vizinho e de sua boa vontade), acrescente à frigideira 250g de cebolas pequenas cortadas em 4 partes e 300g de cogumelos paris frescos cortados também em 4 partes e deixe dourar. Coloque 100g de ervilhas congeladas e o rigatoni na frigideira. Refogue e tempere com sal e pimenta. Para finalizar a sempre muito bem bem vinda e fotogênica salsa.


Agora sim, vamos às impressões do prato.

O boeuf bourguignon tradicional (sem o chocolate) fica bastante ácido, pois o vinho lhe confere um sabor forte que cansa rapidamente o paladar, já com o chocolate e o creme de leite o molho fica mais cremoso, sem perder em sabor ganha em suavidade e cremosidade. E não, não há como notar a presença do chocolate, ele realmente serve apenas para quebrar a acidez sem interferir no sabor. Simplesmente incrível e com a vantagem de não cansar o paladar tão rapidamente, o que faz com que se consiga comer muito mais até raspar o prato.

Quanto ao rigatoni... massa, bacon e cogumelos, que se misturam ao delicioso molho da carne fazendo uma fusão totalmente harmoniosa.

Depois dessa mistura sensacional não acho mais nada estranho. Podem me passar receitas até de sobremesas feitas com bacon que estou disposta a testar sem preconceitos.

Aliás... deve ficar bom mesmo, bacon, assim como chocolate, também sempre combina com tudo na minha opinião.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

La da Venda

Imagine-se entrando em um lugar repleto de quinquilharias das mais diversas, pinguins de geladeira, sementes, panelas, almofadas, rede, aventais, xícaras, copos, pratos e marmitas. Com direito a bacalhau e queijos pendurados no teto e plantas em latinhas de azeite, leite em pó ou frutas em conserva.


Assim é o restaurante Lá da Venda, onde além de tudo descrito acima, também oferece um cardápio de altíssima qualidade.

O lugar é cheio de estilo nos mínimos detalhes. Na mesa, feita a partir de caixas de madeira, os enfeites são flores amarelinhas dentro de delicados potinhos reutilizados de essência de baunilha e as cadeiras e talheres nem teem a intenção de formar pares.


A primeira coisa que pedimos foi uma porção de bolinhos, de arroz, carne seca e dadinhos de tapioca recheado de queijo de canastra, servidos em uma daquelas metades da embalagem de queijo do reino.

Todos muito bem preparados, sequinhos, devidamente temperados e deliciosos.



Os pratos não deixaram por menos, servidos em marmitas de ferro ou em pratos razos e com suas porções em muitas panelinhas, são graciosamente apresentados ao mesmo tempo que conferem informalidade. Em certos momentos parece que entramos em algum túnel do tempo.

Para combinar com o ambiente, pedi uma cerveja Colorado, que traz em seu rótulo muitos elementos e detalhes rebuscados, além claro, de ser refrescante, leve e conter misturas inusitadas.
Há também interessantes opções de sucos orgânicos como o de tangerina ou amora e claro, boas opções de cachaça para abrir o apetite de forma bem brasileira.

Pedimos pratos bastante variados, filé mignon suíno acompanhado de paçoca de carne seca e purê de quinele...


...moqueca...

 
...medalhões de filé mignon com purê de mandioquinha e...


...panquecas de carne.


Por mais diferentes que fossem, tinham algo em comum, todos eram porções generosas e surpeendentes.

Como sempre, não podíamos sair dali sem provar as sobremesas, como a exagerada fatia de bolo de laranja, macio, e de sabor bastante acentuado, que foi literalmente atacado por nós.


O manjar de coco, era tão cremoso que foi servido em copo, e acompanhado de sorbet de pitanga para fazer aquele contraste azedinho que eu tanto aprecio. Isso sem comentar as lascas de coco do manjar que acrescentavam mais uma textura ao doce.


A torta de pera, crocante, doce e caramelada, acompanhada de sorvete de baunilha de verdade. Informação que consta no cardápio e que sinceramente faz toda a diferença.


E o toque final foi dado pelo cafezinho acompanhado de bala de coco com raspas de limão (daquelas de casamento e aniversários dos anos 80). Enquanto o açúcar é ludicamente servido dentro de um regadorzinho florido.


Um lugar cheio de graça, que remete à recordações perdidas de um tempo onde padaria só vendia pão, postos de gasolina só serviam para encher o tanque e as vendinhas da esquina pareciam ser as únicas a quem era permitido vender de tudo um pouco sem distinção.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

La dolce vita


Houve um tempo em que a sobremesa era a parte mais difícil de um jantar aqui em casa. Na verdade o problema é que penso no cardápio na mesma ordem em que ele acontece. Ou seja, a sobremesa é a última etapa.

Mas muitos doces e sobremesas tradicionais não são simples de preparar, exigem tempo, paciência... Muitas vezes precisam ser preparadas um dia ou muitas horas antes de serem servidas e deixando para o último minuto elas nunca tinham tempo de ficar no ponto certo. Aí era aquela decepção pós jantar.

Mousses sem consistência, pudins quentes, creme bruleé que não passou o tempo necessário no forno e por isso não endureceu... enfim. O fim do jantar acabava tendo um gosto não tão doce.

Agora aprendi, quando não pensei na sobremesa a tempo de prepará-la corretamente deixo para outra oportunidade e escolho algo simples para a ocasião em questão.

Não é por isso que vou escolher uma coisinha qualquer não. Tem que ser bem apresentada e saborosa. Para isso, nada melhor do que frutas da estação (usei banana, maçã e abacaxi, podia ser mais simples do que isso?).

Mas só frutas não são assim uma sobremesa impressionante, então que tal caramelizá-las com manteiga e açúcar até ficarem bem douradas e terem seu doce natural ressaltado. Começou a se impressionar?

Calma que fica melhor ainda.

Já que tudo fica melhor com sorvete, duas bolas de sorvete de macadâmia sobre as frutas ainda quentes para dar contraste.

O toque final foi dado pela hortelã picada. E claro, algumas folhinhas inteiras para enfeitar e resultar em uma bela foto.


Contando o tempo desde picar as frutas até tirar as fotos este preparo não demorou mais do que 15 minutos. Acredite, 5 deles foram para as fotos.

Agora me responda, frutas caramelizadas, com sorvete e hortelã. Sobremesa que mescla diferentes texturas, temperaturas e sabores. Tem alguma chance da vida não ficar muito doce depois disto?

domingo, 15 de maio de 2011

Pão e vinho

Quem disse que camadas só servem para fazer pavê e lasanha? Essa semana a minha aventura gastronômica foi o preparo de um pão. Mas não um pão comum, um pão recheado de pastrami e gruyére e feito em camadas. Mais do que isso, o primeiro pão que eu me arrisco a fazer nesta minha existência.

Registrei o passo a passo para ficar mais fácil de explicar esta história, mas até chegar às camadas tem todo um processo.

Primeiro quebre dois tabletes de fermento biológico e à eles acrescente meia colher de açúcar e meia xícara de leite morno. Espere meia hora.

Essa mistura irá fermentar e crescer muito, portanto não faça como eu e não use uma xícara para isso, senão você verá "A Coisa" surgir em sua cozinha. O ideal é já colocar no recipiente onde irá misturar a massa.

Pára um pouquinho, descansa um pouquinho e meia hora depois comece a adicionar os ingredientes à mistura fermentada. Dois ovos inteiros, 1 xícara e meia de leite, meia xícara de óleo (usei metade óleo de canola e metade azeite para saborizar, mas isso é bem opcional), meia colher de sopa de sal e farinha de trigo. Eu usei aproximadamente 600gr de farinha, mas isso pode variar, então não se preocupe com a medida exata, basta acrescentar a farinha aos poucos até que a massa não esteja mais grudando nas mãos.

Feito isto amasse bem, dê uma boa sova sem dó na massa. Quando cansar, faça uma bolinha, coloque em uma travessa, cubra com papel filme para que não crie uma casquinha, um pano de prato para deixá-lo aquecido e faça silêncio. Deixe a massa tranquila para se recuperar da sova.

Pára um pouquinho, descansa um pouquinho e meia hora depois descubra a massa e dá-lhe outra sova. Deixe-a descansar novamente, da mesma maneira anterior e espere.

Pára um pouquinho, descansa um pouquinho e meia hora depois repete-se o processo (comece a fazer o pão cedo, fica a dica).

Pára um pouquinho, descansa um pouquinho e meia hora depois comece a aquecer o forno. Todo esse processo é para que a fermentação tenha o tempo necessário para acontecer da forma correta, deixando o pão mais leve, sem dar aquela sensação de que o fermento está agindo dentro do estômago e nos fazendo ficar inchados. Por isso, vale a pena começar o trabalho antes e ter um pouquinho de paciência.

Agora começa a parte das camadas.

Estique a massa como se fosse fazer uma pizza. Pincele manteiga derretida e cubra com o recheio (usei pastrami, queijo gruyére ralado e dei um leve toque de orégano).

Repita o processo, como em uma lasanha mesmo, estique a massa, coloque sobre o recheio, pincele manteiga e cubra com o recheio. Finalize com mais uma camada de massa e manteiga.


Fica assim, parecendo um enorme sanduíche, meio irregular. Mas o mais legal desta forma de montar o pão é que não acaba por aí. E já que falamos em pizza. Esta é a hora de cortar esse sanduichão como se fosse uma pizza, mas sem deixar que os cortes cheguem até o centro da circunferência.


Depois de todo esse trabalho, agora é só enrolar. Que fique claro, enrolar as fatias.

Enrole umas três vezes para o mesmo lado e deixe as pontinhas para o fundo da forma. Fica com o formato de um parafuso.


Gire todas para o mesmo lado. A grossura dessas fatias fica a critério de quem estiver fazendo. Para dar uma idéia, minha mãe faz fatias que são mais ou menos metade das que eu fiz.

Tudo pronto, pincelar uma gema de ovo para que fique bem douradinho e levar ao forno que não deve estar exageradamente quente. Esperar que asse e servir.


O que posso dizer? Fiquei orgulhosa com o resultado. Deixar a casa perfumada com o aroma de pão caseiro está na lista das melhores e mais simples coisas da vida. E saborear um pão macio, leve, saboroso e recém saído do forno, não tem preço.

Só poderia ficar melhor se devidamente acompanhado de uma taça de vinho.

Escolhemos o Dão Grão Vasco.


É uma meia garrafa de vinho, que ficou ainda menorzinha ao lado do meu pão que cresceu até virar um monstrengo.

Adorei o vinho. Cor vermelha intensa, e seu sabor me pareceu bastante aveludado, e pode ser apenas um devaneio da minha parte, mas tive a impressão de sentir em seu aroma algo que me lembrou os azeites portugueses. De qualquer forma, harmonizar vinho com pão não é tarefa das mais difíceis.

Afinal, o que nessa vida não combina com pão?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Chef a domicílio

Imagine-se caminhando pelo mercado calmamente, escolhendo os produtos que colocorá no carrinho enquanto idealiza o jantar que realizará mais tarde. De repente, não mais que de repente você se depara com um lindo chef australiano de olhos verdes e largo sorriso, que tem como objetivo te ajudar nesta missão e surpreender seus convidados.

Assim é o programa Chef a Domicilio estrelado por ninguém menos que Curtis Stone. Infelizmente nunca o encontrei pelos corredores de mercado algum (embora sempre que eu vá às compras, me prepare para este momento).

Cansada de esperar e de usar minhas melhores produções entre as frutas da estação e a sessão de vinhos, resolvi tomar uma atitude e ter enfim, o chef sempre à minha disposição para realizar muitos jantares, almoços, e sobremesas e surpreender meus convidados ou mesmo me deliciar com pequenos quitutes em uma tarde preguiçosa no sofá.

Não, não sequestrei o Curtis, apenas comprei o livro "As preferidas do chef Curtis Stone". Assim pude começar minha semana com um jantar leve preparado em sua companhia seguindo suas receitas e dicas e depois fazer um brinde de agradecimento ao chef


O livro tem lindas fotos (não só do chef, claro) e receitas fantásticas (que pode não parecer, mas para mim é realmente o mais importante) entre as quais selecionei o cardápio desta segunda-feira mantendo em mente que é justo o dia de compensar os exageros gastronômicos (principalmente após um domingo de churrasco comemorativo do dia das mães junto com o aniversário do meu cunhado e mestre-churrasqueiro aqui de casa). Portanto nada de cortes exóticos, muita manteiga ou massas, mas não por isso ausência de sabor e pratos que proporcionem aquela doce sensação de aconchego.

O Curtis foi muito compreensivo com as liberdades poéticas que tomei em relação a seus pratos e me ajudou no passo a passo tirando todas as dúvidas. Ainda me entreteve com algumas histórias durante o jantar, onde pude perceber muitas coisas em comum, desde a paixão por gastronomia, adorar reunir pessoas estimadas em torno da comida, até os dias em que não há melhor lugar do que o sofá da casa da gente.

Delírios e rasgação de seda à parte, vamos às receitas.

O cardápio escolhido foi o ratatouille provençal com pargo ao molho de pesto de rúcula e para sobremesa o espresso bruleé.

O ratatouille provençal é muito simples. Para começar é bom ter todos os ingredientes picados em pedaços de mais ou menos 1cm, isto vale para a meia berinjela sem casca, 2 abobrinhas, 2 cebolas grandes, 5 tomates, meio pimentão amarelo e meio pimentão vermelho. Já o dente de alho e o manjericão devem ser finamente picados.

Em uma panela grande aqueça azeite e frite o alho e a cebola. Depois que a cebola já estiver bem murcha acrescente a berinjela, a abobrinha e os pimentões. Após uns 5 minutos a berinjela já deverá estar macia, então junte o tomate e mexa de vez em quando por cerca de 10 minutos, ou até que o tomate comece a desmanchar. Tire do fogo, tempere com sal e pimenta do reino e finalize com o manjericão.

Simples assim. Saudável e saboroso, fica ainda melhor no dia seguinte (dica do Curtis). Prato que combina bem com o início da semana e não compromete o regime.

O ratatouille foi o acompanhamento do pargo com pesto de rúcula que inventamos (olha aí a liberdade poética). Havia uma receita que continha o pesto e em outra página uma receita de pargo, pegamos o peixe de uma, o molho da outra e criamos uma terceira receita, pois nessa vida nada se cria, tudo se transforma.

Faça o pesto batendo no processador 2 xícaras de rúcula, 1/2 xícara de azeite, 1/2 xícara de castanhas de caju, 1/2 xícara de queijo parmesão ralado e tempere com sal e pimenta do reino a gosto. Servimos o pesto sobre o pargo.

O pargo é um peixe de mar de carne branca e sabor suave. Fizemos filés e temperamos apenas com sal, pimenta do reino e azeite. Para seu preparo bastaram poucos minutos de cada lado em uma frigideira previamente aquecida com azeite.


A receita do Curtis dispensa o alho no pesto de rúcula, o que deixa o sabor da folha sobressair, dando aquele toque levemente ardido. O pesto tradicional (de manjericão) é bem mais marcante, mas o de rúcula não perde em sabor mesmo ganhando em leveza.

Cardápio fácil e rápido de preparar, que proporcionou aquela satisfação que só um bom jantar consegue.

Acompanhamos este jantar com uma indicação do meu cunhado, o vinho verde Muralhas de Monção. Indicação testada e aprovada. Excelente vinho que harmonizou perfeitamente com os pratos.


Tudo isto deixou a segunda-feira tão leve que acreditei que era sexta e não dispensei a sobremesa.

Para fazer o espresso bruleé misture em uma panela 2 colheres de açúcar demerara (aquele açúcar cristal mais escuro), com pouco mais de 1/2 lata de creme de leite, 60ml de café bem forte, 1/4 xícara de leite integral e um toque de conhaque (olha a liberdade poética presente mais uma vez). No fogo médio, mexa até o açúcar se dissolver.

Reserve. Em uma travessa bata 3 gemas e quando a mistura da panela já estiver morna acrescente às gemas e misture bem. Distribua em duas xícaras de 150ml e leve ao forno por 2 horas a 90°.

Após esse tempo, tire do forno e espere esfriar. Na hora de servir (já gelado) polvilhe açúcar demerara sobre o doce e queime com um maçarico de culinária para formar a casquinha característica.


Confesso que já testei várias receitas de creme bruleé e fiquei impressionada por esta, que era um líquido tão ralinho, realmente dar certo, ponto para o Curtis. Mas poderia ficar melhor se ficasse mais cremoso e um pouquinho mais doce. Acredito que meia lata de leite condensado resolva isso. Fica a dica para uma próxima vez.

Jantar com o Curtis teve sabores muito delicados e harmônicos, uma verdadeira ode à simplicidade. Com certeza este australiano terá sua presença requisitada em muitas ocasiões na cozinha lá de casa, mas claro que não deixarei de me produzir para ir ao mercado. Vai que ele resolve voltar a gravar o programa justo com um especial no Brasil?

Nunca se sabe...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Prova de fogo

Não é de hoje que busco desafios culinários. Também não é de hoje que me inspiro nos programas de TV para buscar esses desafios.

Mais uma vez a inspiração foi o Claude Troigros. Resolvi reproduzir em casa a prova de fogo do "Que Marravilha" desta semana: desossar um frango.

Mas não podia ser assim tão simples, apenas seguir uma receita e não usar a criatividade. Obviamente há inúmeras liberdades poéticas. Aliás, a semelhança com o programa termina em desossar uma ave.

Ou seja, inventei minha própria receita. A começar pela troca de frango por galeto. Sem nunca ter desosssado um frango na vida, e nunca ter visto ninguém desossando no passo a passo (minha mãe tem altas técnicas, mas confesso que nunca prestei muita atenção), resolvi me arriscar na cara e na coragem.

Tudo o que eu sabia era que para começar precisava de um corte vertical nas costas do frango/galeto e depois deveria contornar os ossos com a faca tomando cuidado para não furar a pele. Foi assim que comecei.


Primeiro fiquei meio perdida, achando que era melhor deixar os ossos em seus devidos lugares. Afinal eles nasceram ali. Mas aos poucos fui pegando o jeito e percebendo que desossar uma ave nem é assim algo de outro mundo.


Deixei os ossos das asas e das coxas, para deixar as perninhas cruzadas e manter a elegância na hora de servir.

Abaixo a foto que prova que meu trabalho foi bem feito e não há nem um furinho na pele.

Ah! Existe sim um pequeno rasgo, mas não foi culpa minha não, ele já veio assim. Não tirei foto para provar, mas tenho testemunha.


Enfim... galeto desossado significa que os trabalhos já podem começar. Temperei com sal, pimenta do reino, azeite, dois dentes de alho picados, as raspas e o caldo de uma laranja e um copo de vinho branco seco.

Deixei que descansasse na marinada e enquanto isso, fui preparar o recheio.


Não sou nada adepta dessa história de rechear carnes com farofa. Sempre acho que fica tudo muito seco e sem graça, portanto, procurando outras opções lembrei do recheio da alcachofra do post "É primavera".

Já que a época de alcachofras ainda demora, encontrei aí uma boa opção para fugir do tradicional, manter a carne suculenta e eu poder inventar bastante.

Primeiro coloquei dois pães no leite com um toque de noz moscada (bem pouquinho). Em uma panela aqueci azeite e fritei alguns cubinhos de bacon até que ficassem bem torradinhos. A seguir acrescentei uma cebola média e dois dentes de alho bem picadinhos e refoguei bastante.

Algumas gotinhas de molho de pimenta, dois tomates sem pele em cubinhos, algumas azeitonas pretas picadas e uma bandeja de shimeji.

Mais tempo fritando e refogando tudo isso, até que ficasse bem sequinho. Para finalizar os dois pães bem escorridos e para dar um toque verdinho, salsa e cebolinha para não perder o costume.

Recheio pronto, galeto bem descansado, hora de deixá-lo gordinho. Antes de iniciar, dei alguns pontinhos com barbante para facilitar e coloquei uma camada de mussarela, só então  coloquei o recheio. Estufei mesmo o pobre coitado do galeto, tanto que ele quase virou um frango.

Bem amarrado, na forma e regado com a marinada, está pronto para ir ao forno.


Sinto informar que devido ao meu exagero, o galeto não resistiu e explodiu. O excesso de recheio foi parar na forma.

Mas nada de se deixar abater, ainda havia realmente muito recheio apesar do ocorrido e ainda tínhamos trabalho.

O acompanhamento, risoto de alho poró e queijo gruyere. Mais uma daquelas combinações que não tem como dar errado.

Aqui no blog já passei várias receitas de risoto, e como sempre digo, o segredo está no caldo. Para este, minha mãe utilizou os ossos retirados do galeto. Taí mais uma vantagem em desossar as aves.

Além dos ossos, ela usou uma folhinha de louro, sal, um dente de alho inteiro, azeite e salsinha.

Para preparar, o básico, uma cebola bem picada, um pouquinho de azeite, fritar o arroz arbóreo, acrescentar um pouco de vinho branco, um talo de alho poró fatiado bem fininho e cozinhar aos poucos utilizando a caldo.

Quando o arroz estiver al dente juntar o queijo gruyére picado, uma colher de manteiga e corrigir o sal. Adivinha o toque final? Salsa e cebolinha para dar uma colorida e fazer uma foto mais bonita.


Mais um jantar que constará dos autos da história deste blog. O risoto ficou bem suave e cremoso. O galeto, como esperado, ficou suculento, e as raspas de laranja deram um toque delicado ao sabor além de deixar a carne muito macia. Mas sem dúvida o campeão de elogios da noite foi mesmo o recheio. Claro que aproveitamos todo ele, mesmo o caído na forma, impossível admitir qualquer desperdício, não tem como descrevê-lo sem dizer que é uma verdadeira explosão de sabores.

Resumo da ópera, receita inventada, preparada, aprovada, registrada pra repetir sem problema algum. Mesmo assim, algumas liberdades poéticas serão sempre muito bem vindas até nos repetecos.

domingo, 1 de maio de 2011

Quero Mais


Sabe aquele dia em que não há a menor vontade de entrar na cozinha, nem sair de casa, ainda é possível ouvir o barulho da chuva na janela e o estômago começa a reclamar por estar vazio?

Para essas horas inventaram (não recentemente) as entregas em domícilio. Basta ligar para algum lugar (de preferência pertinho de casa para que chegue rápido) e em cerca de 20 minutos você terá a sua frente comida quente e fresquinha sem o menor trabalho.

E quando esse lugar pertinho de casa ainda oferece pizzas e esfihas com uma massa fininha e crocante, e esfihas que são praticamente uma pizza brotinho, aí nem dá vontade de procurar outros lugares e opções de entrega.


Agora só falta dizer que além de tudo há grande variedade de sabores e preço justo. Assim é o restaurante e pizzaria Quero Mais que eu tenho sorte de ter como vizinho.

Às vezes simplesmente resolvemos ligar e sem trabalho nenhum (para nós evidentemente) recebemos rapidamente nosso pedido e podemos nos deliciar com as gigantescas esfihas.

Pedimos muitos sabores e vamos montando pratos mesclados com um pedacinho de cada regado com limão para quem é de limão, e azeite para quem é de azeite.


E claro, cerveja para todos, afinal precisávamos fazer um brinde para comemorar este que é o 100° post do blog.

Saúde e obrigada a todos que acompanham por aqui, nossas peripécias culinárias.