quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Oração ao tempo

As férias. Ah! As férias.
As férias que transformam o café da tarde na refeição mais importante do dia.
Isso porque só nas férias temos tempo para em plena quarta-feira preparar um petisco com calma durante a tarde.
É daquelas coisas de causar inveja em todos que correndo contra o tempo tiveram que despencar de suas camas em um horário predeterminado, bater ponto, engolir qualquer coisa no almoço e talvez tenham para este horário apenas um daqueles cafezinhos que estão na garrafa térmica desde a manhã.
Por isso quis aproveitar estes momentos com carinho, escolhendo cuidadosamente a receita de cada dia.  Inclusive receitas com um pezinho em outro mundo e de sotaque encantador.
Para ser mais precisa, me refiro ao sotaque encantador de Emmanuel Bassoleil ao transmitir inúmeras dicas e receitas dentro da temática queijos e vinhos no programa Mais Você de Ana Maria Braga.
E já que estamos falando de café e de sotaque francês nada melhor que começar os trabalhos ao som de Putumayo French Cafe (quem não conhece não sabe o que está perdendo).
A receita é bem simples, o gougère é o pão de queijo francês. Nada de polvilho ou massas pesadas, algo tão leve como uma carolina em versão queijo.
Em uma panela com fundo grosso, coloque 250ml de água, 100g de manteiga e 1 pitada de sal e leve ao fogo médio até ferver. Retire a panela do fogo e adicione 150g de farinha de trigo, misture bem e volte a panela ao fogo, mexendo sempre até secar e desgrudar da borda da panela.
Coloque a massa em uma batedeira (utilize pás próprias para isso) e um a um, adicione 4 ovos. Junte 100g de queijo ralado grosso (utilizei parmesão e queijo minas para dar um toquezim minerim nesse pãozim de queijo) e misture.

essa é a massa de pão de queijo mais bonita que eu já fiz na minha vida...

Com uma colher de sopa, pegue porções da massa e coloque em uma assadeira untada. Polvilhe com sutis porções de sal grosso e algumas ervas (usei manjericão desidratado) e leve ao forno médio pré-aquecido a 180°C por cerca de 20 minutos.
Importante: NÃO ABRA O FORNO ENQUANTO NÃO ESTIVER PRONTO.
Sirva ainda quentinho, com um delicioso café aromatizado.

pão de queijo mais bonito que eu já fiz na minha vida...
Na tarde seguinte, abra os pãezinhos que resistiram a gula do dia anterior, recheie com tomate, queijo e manteiga e coloque em um grill para aquecer.  Em poucos minutos uma deliciosa variação com queijo puxa-puxa.
Melhor que isso, só mesmo o ficar à toa... ali de bobeira, a balançar na rede, olhar o céu e sentir a brisa de um quente fim de tarde que talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos...
E são tantos desejos, tantas reflexões, tantas mudanças acontecendo que nem sempre sobra tempo para escrever, nem sempre sobra tempo para dedicar-se a uma só atividade...
Nem sempre sobra tempo...
Engraçado que foi preciso ter férias e tempo de sobra para perceber a real importância do tempo...

os pães de queijo recheados mais bonitos que eu já fiz na minha vida...
Pois quando se vê, já é sexta feira...
Quando se vê, as férias já terminaram...
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Em busca de um pouco mais de tempo, o blog vai ficar por aqui... meio parado, meio perdido no tempo, mas só por um tempo.
Um dia, quando menos se esperar, o Gastronomia Doméstica volta a atividade com pique total, de cara nova e seguindo por novos caminhos.
A idéia é abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
Por isso esse tempo não irá durar mais do que o necessário, e pode passar bem mais rápido do que se imagina.
Afinal mesmo o eterno às vezes dura apenas um segundo...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Persépolis

Há algum tempo, ganhei o romance gráfico Persépolis. Escrito pela iraniana Marjane Satrapi conta a história do Irã da melhor forma: quadrinhos.

Desde a revolução que levou à queda do Xá e instauração do regime fundamentalista Islâmico, até a guerra contra os xiitas iraquianos que serviu apenas para diminuir o ímpeto revolucionário iraniano e teve seu fim somente quando Saddam Hussein teve que concentrar suas forças em outra guerra, desta vez contra o Kwait.

Mas a história toda é contada sempre pelo ponto de vista da própria Marjane, menina no começo, descobrindo e sentindo os efeitos de tantos acontecimentos, até tornar-se uma adulta totalmente consciente de sua origem e história.

Sou obrigada a dizer que este quadrinho mexeu demais comigo. Pois, mais do que me fazer entender um pouco melhor o que acontece nesta parte do mundo tão distante de minha realidade, me fez encarar minha própria ignorância quanto a esta rica cultura. Me senti um tanto tola por perceber que quase involuntariamente havia me rendido a estereótipos midiáticos onde no oriente existem apenas fanáticos religiosos que não cansam de se bombardear... Injustificável.

Senti que precisava de alguma forma me redimir deste ato falho. Se eu não gosto de quem acha que no Brasil só existe futebol, carnaval e índio, não tenho o menor direito de agir desta forma preconceituosa com outros países.

É aí que entra a gastronomia. Afinal, esta é uma excelente porta ás diversidades culturais. De se aproximar um pouco mais de outros sabores e histórias.

Pesquisei bastante e montei um cardápio iraniano, ou Persa para quem preferir, de surpreendente resultado.

Sabores exóticos, delicados e definitivamente uma culinária tão charmosa quanto o oriente, mas vamos do começo.

mesa do charmoso almoço persa...

O pão barbari. Este pão tem influência turca e é como a base de uma pizza de uns 40 a 60 cm de diâmetro. Mais macio do que o tradicional pão pita, além de um toque de sementes de sésamo, ou melhor dizendo, gergelim.

Junte 1 colher (chá) de mel, 15g de fermento biológico fresco e 1 xícara de água morna. Depois de 5 minutos mexa para misturar.

Em outra tigela coloque 500g de farinha de trigo e uma pitada de sal, faça um buraco no meio e despeje a mistura de fermento. Coloque a farinha das laterais para o meio, para entrar em contato com a mistura, não é preciso deixar a massa uniforme, nem mexer muito. Tampe com papel filme e deixe descansar por pelo menos 20 minutos.

Após os 20 minutos a massa já terá absorvido todo o líquido, como uma esponja, e já terá acontecido a 1ª fermentação. Coloque mais uma xícara de água morna, duas colheres (sopa) de azeite e sove a massa com as pontas dos dedos batendo rapidamente até que fique bem lisa.

Coloque bastante azeite em uma travessa para que a massa descanse sobre ele. Tampe novamente e espere mais 20 minutos.

Retire todo o ar da massa e modele em uma forma de pizza, cubra com um pano e espere dobrar de tamanho. Pincele azeite e polvilhe gergelim antes de levar ao forno a 220º por 20 minutos.

pão barbari com gergelim

Adorei fazer esta massa. Muito simples e fica realmente leve, sente-se que a fermentação acontece no tempo certo e por ser uma receita bastante básica combina com o que quiser, desde patés e frios até como um bom acompanhamento para sopas. E foi como acompanhamento da sopa de iogurte que introduzi este pão no cardápio. Sim, sopa de iogurte.

Tempere 250g de carne moída (a receita original pede carne de cabrito, não foi o caso aqui) com sal, pimenta do reino e junte uma gema. Misture bem, faça pequenas bolinhas e reserve.

Em uma panela frite em óleo de canola, uma cebola grande picada finamente. Doure então, as bolinhas de carne. Quando bem douradas cubra com água e acrescente sal e os grãos de sua preferência, vale misturar mais de um, sugere-se grão de bico, lentilha, feijão branco e arroz. Por aqui optamos só pelas lentilhas, já que a intenção era tornar o prato um pouco mais leve para uma entrada. Acrescentamos então 2 xícaras apenas de lentilha.

Assim que a lentilha estiver cozida, dissolva três potes de iogurte natural em um pouco da água do cozimento e volte a solução para a panela. Corrija o sal se necessário, desligue o fogo, polvilhe salsão picado e sirva com fatias de limão no prato.

Taí, iogurte é algo que eu jamais teria tentando em uma sopa, mas que dá muito certo. Atribui um suave sabor azedo ao prato e achei genial colocar a carne moída na sopa. Pedaços de carne são ótimos para saborizar, mas para comer de colher complicam um pouco a vida por mais molinha que esteja, já a carne moída saboriza sem criar dificuldades. Me apaixonei pela idéia.

Este almoço não foi harmonizado por vinho, suco ou nada de sabor marcante. Optamos por uma jarra de água gelada, algumas fatias de laranja e muitas folhinhas de hortelã para dar um frescor. A suavidade é tamanha que em nenhum momento irá brigar com os delicados sabores dos pratos.

Ah! Se tivesse lima da pérsia ficaria perfeito!

sopa de iogurte e água saborizada com laranja e hortelã

Saímos da entrada e partimos para o prato principal. O arroz é sempre parte muito importante nesta culinária e é preparado de um jeito bem diferente. Primeiro deve-se lavá-lo muito bem por diversas vezes sem mexer muito para que não quebre. E lave com vontade mesmo, até que a água saia bem transparente.

Cubra com água, acrescente sal e deixe descansar por algumas horas. Jogue a água fora e lave o arroz novamente, sem mexer. O cozimento é feito como se fosse macarrão, muita água, um pouco de sal, espere ferver e então coloque o arroz e cozinhe por 10 minutos, ele deve ficar al dente.

Escorra o arroz e jogue água fria para interromper o cozimento. Certamente o arroz mais branquinho que eu já vi em toda a minha vida.

Agora em uma panela com teflon derreta duas colheres (sopa) de manteiga, solte o arroz escorrido e sobre ele desepeje meia xícara de água morna com açafrão e sal a gosto. Misture com cuidado para que não quebre o arroz e deixe em forma de uma montanha. Tampe a panela e envolva a tampa em um pano para que não perca calor algum, cozinhe de 30 a 40 minutos em fogo médio.

Deixe criar uma crosta crocante de arroz na parte de baixo, esta parte crocante chama-se Tah-Dig e é uma especialidade bastante admirada. E não imagine que se trata daquele queimado do fundo da panela de arroz, talvez pelo modo de preparo ele não fica queimado, nem grudado no fundo da panela, fica dourado e crocante, uma especialidade de verdade. E especialidade que se preze deve acompanhar um prato a altura.

arroz persa e a admirada especialidade tah-dig

Neste caso, kebab. Tempere 500gr de filé mignon cortado em cubos de aproxidamente 2cm com sal, uma cebola ralada, 1 dente de alho bem picadinho, azeite, pimenta do reino, açafrão e iogurte. Misture tudo muito bem e deixe a carne nesta marinada de um dia para o outro.

...No dia seguinte monte espetinhos intercalando os cubos de carne com tomates cereja. Grelhe em uma chapa de ferro até que fique dourado e sirva acompanhado de molho de romã.

Para o molho de romã, coloque em uma panela 1 xícara de suco de romã. Como não é uma fruta da época, comprei um daqueles sucos prontos de caixinha, que dizia ser sem adição de açúcares, mas ao provar achei doce demais, então não acrescentei as 2 colheres (sopa) de açúcar que a receita pedia, e não me arrependi da decisão.

Apenas deixei reduzir à metade em fogo baixo. Acrescentei então 1 e 1/2 xícara de nozes moídas no processador, 1 colher (chá) de cardamomo e 1 colher (chá) de canela, deixei ferver por mais 10 minutos. Para finalizar, 3 colheres (sopa) de suco de limão e uma boa misturada já fora do fogo.

kebab com molho de romã... exótico e impressionante

Impressionante! O molho de romã combina perfeitamente com a carne, une o kebab com o arroz e é capaz de levar quem o prova nas pontas dos pés até o oriente. Inspirador, exótico e o grande charme deste almoço. Almoço, que só chega ao fim na sobremesa.

Sohan Kondeji é um dos doces persas para Norooz, o ano novo iraniano. E é bem fácil e rápido de fazer.

Dissolva 1 colher (chá) de açafrão em pó em 3 colheres (sopa) de água fervente, cubra e reserve.

Coloque 1 xícara de açúcar, 3 colheres (sopa) de mel e 4 colheres (sopa) de óleo de canola em uma panela e deixe em fogo médio, mexendo ocasionalmente até que o açúcar derreta e fique dourado.

Adicione 1 xícara de gergelim e o açafrão e deixe ferver ainda mais um tempo. Não deixe escurecer demais.

Pingue então pequenas porções do doce em uma folha de alúminio previamente untada com manteiga e espere esfriar.

sohan kondeji, doce de gergelim feito no ano novo iraniano

Posso dizer que é um doce perigoso... O perigo é não conseguir parar de comer. Isto, mesmo, doce com açafrão e gergelim é capaz de gerar compulsão. Devia vir com aviso do ministério esta receita que certamente deve trazer um ano novo com cobertura de caramelo. Para melhorar ainda mais, servimos a sobremesa acompanhada de café com especiarias. Cardamomo para ser exata.

Acabado o almoço, a sensação que tive me remeteu à lembrança de uma citação no blog Literatura Persa das palavras de Abdu'l-Bahá (sábio persa):

"Meu lar é o lar da alegria e do deleite.
Meu lar é o lar do riso e da exaltação.
Quem quer que entre pelos seus portais tem que sair com o coração jovial.
Este é um lar de luz.
Quem quer que aqui entre tem que se tornar iluminado."

Absolutamente rendida ao brilho desta fascinante cultura.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nhoque da Fortuna


Há muito tempo em um lugar muito, muito distante... 

Mais precisamente no século IV no Império Romano. O imperador Maximiano Galerno nomeu Pantaleão como seu médico particular. Um tempo depois, o pobre Pantaleão, consumido pelos horrores do império sentiu-se decepcionado com a vida.

Esta decepção o levou a doar toda sua fortuna aos pobres e a tratá-los gratuitamente, transformando sua casa em um pequeno hospital.

No dia 29 de dezembro de um ano desconhecido, este mesmo Pantaleão, caminhando como um triste e desamparado andarilho pelas ruas da bela Itália, bateu na porta de uma casa que pertencia a um humilde vilarejo e pediu um prato de comida. A pobre família da casa onde Pantaleão bateu, estava comendo nhoque, e quase não tinha o suficiente para si.

Mesmo assim, o convidaram para sentar-se à mesa e dividiram com ele sua comida. Cada um teve direito a apenas 7 nhoques. O então andarilho comeu, agradeceu, levantou-se e foi embora. 

Apenas na hora de tirar a mesa, é que os donos da casa tiveram uma agradável surpresa. Embaixo de cada prato de nhoque havia muitas moedas de ouro deixadas pelo andarilho que na verdade era São Pantaleão.

Desde então, diz a lenda, que no dia 29 de cada mês, deve-se comer nhoque com uma nota embaixo do prato com a intenção de atrair fortuna.

Verdade ou mentira, a certeza é que mal não faz e toda desculpa para aventurar-se na gastronomia italiana é sempre muito bem vinda.

Ainda mais, quando uma dessas aventuras envolve uma receita de nhoque romano, feito com semolina de trigo e que sempre foi uma grande especialidade da minha mãe.

Para o nhoque romano, coloque na panela 1/2 litro de leite, 1 colher (Chá) de sal e 2 colheres (sopa) de manteiga, deixe ferver.

Em uma tigela misture bem 1 xícara de semolina de trigo e 2 colheres (sopa) de queijo ralado.

Quando o leite ferver tire a panela do fogo e coloque de uma só vez na tigela com a semolina e o queijo. Mexa apressadamente até desmanchar bem, leve novamente ao fogo até soltar do fundo da panela.

Retire do fogo, acrescente 2 gemas batidas aos poucos e volte ao fogo por mais 1 minuto.

Unte uma forma com manteiga e despeje a massa para esfriar. Sirva de acordo com sua preferência.

Pode-se fazer bolinhas como no nhoque tradicional, servir direto na forma coberto pelo molho de sua escolha ou ainda (da maneira mais tradicional), em grandes bolinhas levemente achatadas sem molho, cobertas apenas por muito queijo e devidamente gratinadas.

nhoque romano

Não sei nem ao menos explicar a sensação de provar este nhoque, independente do dia do mês. Me parece uma massa mais leve, suavemente granulada... Um prato capaz de despertar o desejo de viajar até Roma só para descobrir toda sua história e origem.

Aliás... falando em história e origens... gnocchi (grafia italiana) quer dizer "pelota". 

Mas vamos voltar ao Brasil e seguir com uma receita de nhoque mais raiz. Uma receita que leva como base a tipicamente americana: mandioquinha.

Mandioquinhas no microondas por 15 minutos (4 mandioquinhas médias bastam para 2 pessoas). Retire a casca e amasse as mandioquinhas em uma tigela.

Acrescente 1 gema, queijo ralado, azeite, sal, pimenta do rino, noz moscada e menos de 1 xícara de farinha, apenas o suficiente para trabalhar a massa.

Faça um rolinho com a massa e corte em pequenas pelotinhas para fazer os nhoques.

nhoque de mandioquinha

A mandioquinha confere à massa seu leve adocicado, que combina muito bem com um autêntico molho de tomates bem apurado, e eu não dispensaria um bom vinho tinto para harmonizar.

Se posso sugerir um bom vinho, escolheria o pinotage Big Five Collection - Elephant 2006. Um vinho realmente surpreendente. Curiosidade, Big Five refere-se aos 5 maiores animais da savana africana: leão, rinoceronte, leopardo, búfalo e elefante. 

Sua cor lembra um vermelho cereja bem intenso, brilhante, nota-se no aroma e paladar frutas vermelhas, mas mais do que isso, parece ter muitos sabores escondidos que aos poucos vão sendo sutilmente revelados. Pouco adstringente e de harmonização fácil com pratos simples e delicados como este nhoque ao sugo.

the big five collection elephant pinotage 2006

Agora, nhoque tem muitas variações e com certeza cada um tem sua receita preferida. Só aqui no blog já falamos do nhoque com molho de cogumelos, dos grandes nhoques recheados sabor marguerita e do delicioso nhoque com molho de gorgonzola.

Escolha sua receita, prepare com fé, coloque uma nota embaixo do prato na hora de comer e lembre que fazer o bem sempre é recompensado... mas claro que quando trata-se de fortuna, trabalhar muito e correr para a lotérica também ajuda... 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Bom dia, sol! Bom dia, dia!


Um leve toque de poesia. Com a certeza que a luz que se derrama nos traga um pouco de alegria !

E já que a frieza do relógio não compete com a quentura do meu coração, nada melhor do que preparar um acolhedor café da manhã a altura das grandes expectativas que cada novo dia nos traz.

Livremente inspirada em Maria Antonieta, dispensei o pão e ataquei o brioche. Aliás, recentemente descobri que essa historinha que a Antonieta disse para o povo comer brioches é pura invencionice.

Na verdade esta frase foi escrita por Rousseau no livro "Confissões", e era sobre um fato de 1741, e nessa data aí, a desorientada Toninha nem era nascida.

Injustiças históricas a parte, vamos ao brioche. Brioche que foi comprado na padaria, porque ninguém merece a guerra da farinha logo pela manhã, fatias de queijo brie livre daquela cera que o envolve, noz moscada e um pouco de manteiga.

tá legal, nem tão pouca manteiga assim, afinal ninguém é de ferro.

Montagem básica de todo delicioso sanduíche e 5 minutos prensado entre chapas quentes (um grill serve).

Queijo bem derretido, brioche torradinho por fora, mas a parte em contato com o queijo ainda macia e o toque de noz moscada que sempre confere um ar de alta gastronomia.

sanduíche de queijo brie e manteiga com toque de noz moscada...

Delícia rápida para começar qualquer manhã com o pé direito, complementada por uma xícara de café bem aromático e algumas frutas frescas da estação.

Café da manhã saboroso, sol batendo na janela, um afago no cachorro e desenho na tela da TV. Pronta para ir para o trabalho, pegar condução lotada, sempre na base da pressa e pressão.

No entanto, entretanto e portanto ...

Bom dia sol! Bom dia, dia!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Antropofagia


Em 1922 houve a semana modernista. Uma verdadeira revolução cultural que chegou com a intenção de provocar e mostrar que no Brasil também pode-se produzir arte de qualidade e com personalidade.

O movimento modernista não teve muitos adeptos logo de cara, mas aos poucos foi ganhando força, até que em 1928 foi lido pela primeira vez o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade.

Basicamente os antropofagistas queriam consumir todas as outras culturas, devorá-las como uma deliciosa sobremesa, aprender todas as técnicas, todas as formas e só então criar algo autenticamente tupiniquim. Algo que definisse a arte brasileira, não mais como cópia de outras culturas, mas que pudesse tornar-se a tradução artística deste país de gigantescas proporções.

Se em 1928 estávamos descobrindo a arte, já há algum tempo vemos isso acontecer na gastronomia. Renomados chefs buscam a alma gastronômica brasileira e entre esses chefs está Guga Rocha. Um verdadeiro antropofagista contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.

Cozinheiro, apresentador, escritor, maloqueiro e apaixonado pelo Brasil (como o próprio se define em seu blog) mistura técnicas da alta gastronomia com ingredientes de raízes nacionais na composição dos novos clássicos da gastronomia brasileira.

Guga fez Direito, Administração, Marketing, foi diretor de uma clínica pediátrica, teve uma banda de rock. Formou-se em Gestão Gastronômica e foi revelado ao público pelo quadro Superchef, do programa Mais Você. Atualmente (entre várias outras atividades) é um dos apresentadores do programa Homens Gourmet no canal Bem Simples.

Ufa... e me parece que seu objetivo no momento é explorar os sabores da terra pela qual é apaixonado e faz questão de gritar aos quatro ventos.

Não só gritar, mas escrever também. Junto com Leda ALmeida escreveu o livro "Um sabor quilombola", sobre a história da cozinha dos quilombos.

Vamos ao quilombos então. A palavra tem origem nos termos "kilombo" ou "ochilombo", e originalmente, designa um lugar de parada para nômades. Mas foi aqui no Brasil que o termo passou por uma certa adaptação antropofágica e ganhou o sentido de comunidades de escravos fugitivos.

Os escravos que formavam essas comunidades quilombolas por sua vez, tentavam manter ali as tradições e culturas de suas origens africanas. E reproduzindo receitas africanas com ingredientes em terras brasileiras... bom já deu pra entender um pouco da inspiração do chef Guga Rocha para sua cozinha tropicalista.

E já que só a antropofagia nos une, socialmente, economicamente, filosoficamente, e porque não, gastronomicamente, fui eu preparar um dos pratos deste chef, sem deixar, é claro, de fazer algumas personificações.


Faça uma marinada para 4 antecoxas de frango (se for galinha caipira, melhor ainda) usando suco de 1 limão, 2 cebolas e 2 dentes de alho devidamente picados, meia xícara de cachaça, sal, azeite, pimenta do reino e algumas gotas de tabasco (infelizmente não tinha pimenta dedo de moça em casa na ocasião). Cubra e deixe na geladeira de um dia para o outro.

No dia seguinte... Na panela de ferro aqueça óleo de coco e frite o frango (sem a marinada) até ficar bem dourado. EU aproveitei este tempo para cozinhar 500g de mandioca na panela de pressão até que ficasse bem molinha.

Frango frito, acrescentei o leite de coco e a marinada e deixei cozinhar por cerca de 1 hora em fogo brando (ou o tempo que seja suficiente para que a carne já esteja bem macia). Quando a mandioca estava pronta juntei ao frango e deixei por mais 15 minutos. Acrescentei meio maço de couve manteiga, mexi bem, tampei a panela e deixei cozinhar novamente por mais 15 minutos.

galinhada de terreiro

Servi acompanhado de arroz e harmonizei com uma deliciosa cerveja que ganhei de presente de aniversário da minha mãe. A cerveja escolhida foi a Kwak.

cerveja kwak

Esta cerveja combinou muito bem por ter sabores marcantes e equilibrados, e por seu aroma e sabor adocicados. Possui cor avermelhada, espuma de média duração e é um tanto quanto licorosa ao paladar, além da presença de especiarias.

Quanto à galinhada... Pára tudo.

Molho cremoso, carne macia, mandioca se desmanchando, bom demais. Definitivamente leite de coco entrou para minha lista de ingredientes indispensáveis.

Ficou incrivel e sem a baba do quiabo da receita original (desculpa Guga, mas baba na cozinha, só se for a de moça).

Assim aconteceu mais um jantar no matriarcado de Pindorama.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A tia da Maria Clara

Não é de hoje que nós aqui da patota concordamos com Zeca Camargo quando ele enaltece as maravilhas do rosbife que sua mãe faz. Tanto é que elegemos por unanimidade este prato para integrar o cardápio do último melhores do ano aqui do blog.

Aí, fiquei aqui cá pensando com meus botões, qual o nome da mãe do Zeca Camargo? Quem é a mãe do Zeca Camargo? Seus anseios, suas angústias... será que ela passa seus dias a preparar a tal receita incansavelmente ao longo de toda sua existência? ok, estou exagerando. Mas me pergunto quando ela começou a preparar este prato e quanto tempo demorou para aperfeiçoá-lo até chegar a receita final?

O fato é, Dona Maria Inês de Brito é a mãe do Zeca Camargo, e isso aconteceu desde que o Zeca nasceu. Raciocínio impressionante, não? Mais do que isso, ela é a dona da receita preferida dele, e esse título ela só recebeu depois que ele cresceu, provou o rosbife e então o elegeu como seu prato preferido. 

Resumindo, com o crescimento da patota estamos todos por aqui mudando nossos títulos. Minha irmã agora não é apenas a Erika, a irmã da Renata, filha da Margarete e esposa do Leonardo, ela é também mãe. Minha mãe agora é avó, o Leo é agora pai e eu por minha vez sou a tia da Maria Clara.

Conclusão, está na hora de começarmos a desenvolver aquela que poderá vir a ser a receita preferida desta mocinha.

Tudo isso é só para dizer que a tia da Maria Clara aqui se aventurou a criar uma receita de rosbife, livremente inspirada na receita da mãe do Zeca.

E como todos os nossos jantares, comecei a minha jornada nesta aventura gastronômica com uma deliciosa saladinha.

Fatie uma abobrinha em compridas tiras, tempere com azeite e coloque em um grill ou frigideira para grelhar.
Acrescente algumas azeitonas, pequenas bolinhas de muçarela de búfala e sirva com um toque de graça.

A graça está no molho de iogurte e hortelã que agrega ainda mais frescor à salada. Para prepará-lo utilize um copo de iogurte natural, duas porções de hortelã picada bem miudinha, azeite e sal a gosto e pronto.

salda de abobrinha com molho de iogurte
Molho versátil e que confere um agradável frescor mesmo em saladas sem folhas como esta, a abobrinha traz conforto ao paladar, assim como a muçarela de búfala. Perfeita entrada para pratos mais pesados.

Agora sim, vamos ao astro da festa, a receita de rosbife.

Tempere uma peça de filé mignon com azeite, sal, pimenta do reino e meia xícara de vinho do porto. Amarre esta peça com barbante. Isso mesmo, com um barbante amarre a peça de carne marcando fatias de mais ou menos 2 cm. Aqueça um pouco de azeite em uma forma na boca do fogão e quando bemq uente comece a selar o filé mignon, mais ou menos uns 10 minutos. Acrescente a marinada e uma cebola grande em finas fatias. Espere a cebola dourar e acrescente um tomate também em finas fatias. Deixe fritar por cerca de mais 5 minutos, apenas para que o tomate murche.

Desamarre a carne, cubra com fatias de bacon, pode amarrar de novo sobre o bacon se achar necessário, E então leve ao forno alto para dourar o bacon e deixá-lo bem crocante. Tire do forno e corte em fatias antes de servir.

É sempre legal, quando tirar uma peça de carne do forno, esperar alguns minutos antes de cortar. Isso faz com que todos os líquidos se "acomodem", assim o suco da carne não escorre e iremos manter a carne suculenta após o corte.

rosbife da tia da maria clara
Macio, suculento, saboroso e com bacon. Tudo de bom, pode não ser o rosbife da mãe do Zeca, mas ficou digno de ser a futura receita preferida da sobrinha da Renata.

Mas criança gosta mesmo é da sobremesa e aí a inspiração veio, mais uma vez, do Jamie Oliver.

Jà fizemos por aqui algumas receitas de couscous marroquino, normalmente como um acompanhamento agridoce para carnes e afins, mas hoje ele não tem nada de "agri", é só bem docinho mesmo.

Torre pistaches e depois de torrados, ainda quente, passe-os no mel. Reserve.

Hidrate damascos picados no suco de uma laranja e um pouco de água. Depois de alguns minutos bata no liquidificador para formar uma espécie de purê. Reserve.

Em uma panela aqueça 500ml de leite, com uma fava de baunilha, meia lata de leite condensado e raspas de laranja. Ainda antes de ferver, acrescente 200g de couscous marroquino e cozinhe por 5 minutos.

Sirva o couscous em pequenas travessas, polvilhe canela, sobre ele (somente no momento de servir) coloque o purê de damascos e os pistaches torrados.

couscous doce do jamie oliver
Lembra arroz doce, mas aí temos a crocância do pistache, o azedinho do damasco e da laranja e uma sensação de leveza após comer mesmo que uma tonelada.

Certamente, uma receita que a Maria Clara vai provar antes do que o rosbife da tia. Mas duvido que seja a preferida dela, afinal, esse couscous pode ser fantástico, mas não tem nem bacon, nem sorvete. Ou seja, o rosbife da tia ainda tem boas chances de entrar ao menos no top 10 da pequena... da próxima vez o sirvo com sorbet de manjericão e aí sim, não tem pra ninguém. Nem pra mãe do Zeca Camargo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sonhos

sonhos da Palmirinha

Amiguinha, todo mundo sabe que nessa vida, poucas coisas são mais maravilhosas do que os sonhos.

E os sonhos já foram interpretados e estudados de diversas formas. Que nem por exemplo amiguinha, você sabia que para a ciência, o sonho é apenas um monte de informação sem sentido que serve para manter a cabeça em ordem?

Já para o titio Freud os sonhos são o melhor caminho para o conhecimento da mente, bonito isso né, amiguinha?

Aí, tem aquele outro, o Jung que diz que o sonho é uma ferramenta que busca o equilíbrio por meio da compensação. Aposto amiguinha, que você nem fazia idéia que falar de sonho podia ser assim tão complicado.

Tem mais, a gente sabe também que tem um monte de religiões e culturas nas quais as pessoas fazem previsões do futuro através dos sonhos e tudo mais.

Agora, para mim amiguinha, vou te contar, sonho mesmo é aquela massa bem fofinha, frita, recheada de creme de confeiteiro e coberta de açúcar. Esses sonhos sim é que são deliciosos de verdade.

Por isso, hoje eu vou aproveitar este espaço maravilhoso, para passar para vocês a receita de uma amiguinha muito querida que andou uns tempos na geladeira, mas que agora está de volta em um programa maravilhoso e todo novinho: Palmirinha Onofre.

Pois é amiguinha, Palmirinha está de volta com direito a dancinhas, varinha mágica, bonequinho falante (grande Guinho), muitas receitas e ainda por cima com dicas tecnológicas ao final de cada programa.

Mas não é sobre dicas tecnológicas que vamos falar aqui, e sim sobre gastronomia.

Pegue papel e caneta e anote a receita, amiguinha!

Para massa você vai precisar de:

4 xícaras de farinha de trigo
3 colheres (sopa) de açúcar
3 colheres (sopa) de manteiga
2 gemas
1 pitada de sal
2 tabletes de fermento biológico
1 xícara de leite morno

óleo para fritar
açúcar para polvilhar

Os ingredientes para o creme de confeiteiro são:

2 xícaras de leite
3 colheres (sopa) de amido de milho
4 gemas
1/2 xícara de açúcar
1 fava de baunilha

Vamos ao modo de fazer.

Esfarele o fermento em uma travessa e junte a farinha de trigo e o açúcar. Misture um pouco e acrescente as gemas, a manteiga e o leite. Por último, deixe para adicionar o sal. Isso porque quando o sal entra em contato com o fermento ele já começa a reagir e a gente quer que isso aconteça só depois que todos os ingredientes já estiverem bem homogêneos.

Sobre uma superfície lisa sove a massa e deixe descansar por aproximadamente 30 minutos.

Enquanto isso, aproveite para fazer o creme de confeiteiro.

Essa receita é bem fácil e fica maravilhosa. Dissolva o amido de milho no leite em uma panela, adicione o açúcar, uma fava de baunilha e as gemas levemente batidas.

Cozinhe em fogo médio até engrossar (aproximadamente 5 minutos). Desligue o fogo. retire a fava de baunilha, cubra com filme plástico e espere esfriar. Reserve.

De volta à massa do sonho. Após o descanso, abra a massa e modele os sonhos com cortador redondo (fiz eles bem pequenininhos, para caberem em uma mordida, mas isso é opcional).

Espere dobrar de volume e então frite em óleo não muito quente. A massa tem que ficar bem assadinha por dentro, ninguém vai gostar de comer sonho cru, né amiguinha?

Escorra bem em papel toalha para ficar bem sequinho. Abra ao meio coloque o recheio com generosidade, porque a gente gosta mesmo é de fartura, polvilhe açúcar e está pronto para servir.

Nem preciso dizer que essa receita é maravilhosa, né?

Fofinho, docinho, sonhos que derretem na boca, amiguinha.

É uma verdadeira delícia, mas delícia mesmo é receber todas as vibrações positivas que recebi ontem, no dia do meu aniversário.

Existe ocasião melhor para a gente se alimentar de sonhos fresquinhos do que no dia em que iniciamos mais um ciclo de vida?

Quero aproveitar para agradecer os desejos de felicidades que recebi e retribuir desejando muitos bons sonhos a cada um de vocês, meus queridos e maravilhosos coleguinhas.

Um beijo a todos que fazem de todo dia um dia especial. Obrigada amiguinhos!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Parmigiana di melanzane

Enquanto fazia, a quatro mãos, uma maravilhosa berinjela à parmegiana, já ia maquinando na minha cachola alguns detalhes sobre o texto que colocaria aqui no blog.

Além da receita detalhada, já pensava em entrar nos pormenores da região de Parma. Falar do queijo parmesão, do presunto e do molho ao sugo que corre na veia de todo aquele nascido desta inspiradora região... Pois bem, a berinjela ficou pronta, provamos e aprovamos e aqui estou eu, me preparando para escrever, a começar por algumas pesquisas e eis que... PARA TUDO.

Descubro o mais improvável: a berinjela à parmegiana não tem nenhuma relação com Parma. Pois é... segundo Fabiano Dalla Bona no blog Cozinha, literatura & outras artes a história é assim:

"Ao contrário do que se pensa, o nome parmigiana, não significa absolutamente berinjelas à moda da cidade de Parma ou berinjelas com queijo Parmigiano Reggiano, mas deriva de parmiciana, ou seja o conjunto de listras de madeira, sobrepostas, que formam uma persiana e que lembram a arrumação das fatias de berinjela no preparo do prato.

Parece que o prato é uma herança da dominação árabe e grega na ilha, com grandes semelhanças com a moussaka grega e a tiani árabe. A berinjela é uma planta originária do continente asiático e foi introduzida na Europa, provavelmente por obra dos mercadores árabes na Baixa idade Média. Porém, foi somente à partir do século XVIII que passou a fazer parte dos cardápios italianos, primeiramente só nas refeições populares, e depois, naquelas aristocráticas. E é o caso também do tomate, que desembarcou no Velho Mundo após a descoberta da América em 1492, foi cultivado inicialmente como planta ornamental, se somente no século XVIII transformou-se em ingrediente da cozinha.

Com base nas observações acima, confirma-se a tese de que a parmigiana tenha nascido entre a segunda metade do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX."

berinjela a parmegiana

Pois é, persianas. Quem diria? Vivendo, aprendendo e descobrindo blogs de gastronomia cheios de história... mas vamos ao que interessa, a receita.

Comece cortando as berinjelas (para 4 pessoas utilizamos 3 berinjelas grandes) em fatias de pouco mais de meio centímetro de espessura. Mergulhe estas fatias em uma travessa com água e sal por alguns minutos. Quando for manuseá-las, primeiro aperte bem entre as mãos para escorrer toda a água. Passe levemente na farinha de trigo e frite com pouco óleo. Escorra em papel toalha e reserve.

Em uma panela faça uma refoga de azeite, alho e cebola e acrescente meio quilo de carne moída e espere fritar. Tempere com sal e pimenta do reino e depois que estiver bem frita junte uma lata de tomates pelados previamente batidos no liquidificador. Um pouco mais de água e deixe apurar fervendo durante bastante tempo em fogo baixo. Finalize o molho com bastante salsa e cebolinha (manjericão também é sempre bem vindo). Corrija o sal se necessário e reserve.

Tenha à mão fatias de muçarela, queijo parmesão ralado, orégano e azeite. Agora basta seguir a sequência.

Um pouco de molho, uma camada de berinjela, mais molho, azeite, orégano, berinjela, molho, muçarela, orégano, azeite... termine com uma generosa camada de queijo parmesão ralado. Leve ao forno bem quente para gratinar e sirva a seguir.

De dar água na boca só de lembrar. Para fanáticos por berinjelas é sem dúvida a receita responsável pela renovação desta paixão a cada garfada.

Molho, queijo, berinjela... mas tudo fica ainda melhor com um bom vinho (nada de sorvete).

espanhol macio e muito bem harmonizado com este bem temperado molho

Harmonizamos com o vinho Pata Negra 2004. Um espanhol macio, autêntico e que combinou muito bem com o tempero do molho da parmigiana di melanzane.

Combinação de se comer com as persianas fechadas. Assim, não corre-se o risco de aparecer nenhum intruso para atrapalhar este momento tão especial. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Caseirinho

Fome saciada pela divina omelete com gorgonzola e a generosa antecoxa de frango, hora de voltar à cozinha e preparar a marmita do dia seguinte.

Dizem ser coisa de pobre, mas sinceramente? Nada melhor do que quebrar o expediente com um almoço com aroma e sabor de casa. É para mim algo como um momento de meditação.

Por isso, mesmo depois do jantar, quando bateu aquela vontade de sofá, espantei a preguiça e fui lidar com as panelas, preparar algo saudável, cheio de sabor e com alma bem doméstica.

A começar por uma boa saladinha. Daquelas que basta misturar o que se tem na geladeira, neste caso, folhas de espinafre rasgadas, ricota e damascos picados. Sal e azeite bastam para o tempero.

saladinha de espinafre com ricota e damasco

Já o prato principal exige um pouco mais de zelo, mas não deixa de ser também uma grande mistura de ingredientes.

Cortei dois bifes de contrafilé em tiras, temperados com alho, azeite, sal e pimenta-do-reino. Frite em uma panela com um pouco de azeite. Quando já estiver bem fritinho, acrescente uma cebola em fatias finas, Uma porção de azeitonas pretas picadas, e uma abobrinha picada em cubos de tamanhos irregulares.

Abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por cerca de 20 minutos. Caso necessário, adicione um pouco de água.

Adicione meio maço de hortelã picada e uma generosa porção de amêndoas torradas. Corrija o sal e está pronto para servir.

cozido de contra-filé com hortelã e amêndoas

Múltiplas texturas e sabores complementares que deixam este picadinho bem caseirinho e despretensioso com ares de comida de chef.

Para acompanhá-lo, arroz com cenourinha, para agregar mais uma cor ao cardápio e torná-lo ainda mais nutritivo.

arroz com cenourinha pra completar um cardápio saudável...

Agora, algo bem característico da administração doméstica, é o reaproveitamento. E foi assim que depois de saborear este cardápio no almoço e no jantar, o final do picadinho ainda foi parar no processador.

Juntou-se em uma grande panela à uma lata de tomates pelados previamente batida no liquidificador com um pouco de água, um pouco mais de sal, salsa e cebolinha e estava pronto o molho de um belo espaguete totalmente sustentável.

macarronada sustentável
Assim, criando e recriando a semana foi passando. Até que chegou a sexta-feira, onde tudo voltou ao normal.

Uma mamãe estava de volta ao lar, pronta para ser recebida de braços abertos por uma filha cheia de saudades, com direito a casa limpa e arrumada, comida na geladeira e uma cachorra feliz e bem alimentada que abanava o rabinho sem parar, mas nada de dar uma lambidinha de boas vindas...

terça-feira, 10 de julho de 2012

Quando os gatos saem...


... os ratos se comportam direitinho. 

Os novos papais da patota passaram alguns dias vivenciando o workshop: "Como Cuidar do Seu Bebê" - curso intensivo destinado aos pais de primeira viagem, oferecido por ninguém menos que a vovó. E se a vovó está com sua pequena netinha, é sinal que por aqui ficamos apenas eu e minha filhota de 4 patas.

Pois é, nada daquela magia em que se vive quando a mamãe está em casa, alguém que sempre pensa em todos e cuida de tudo com tanto capricho e carinho. Chegar do trabalho e já sentir o cheirinho especial da comida prontinha posta à mesa é uma dessas pequenas mágicas que deixei de vivenciar nestes longos dias.

E eu que costumo acordar sempre em cima da hora, me vi acordando com boa margem de antecedência. Muita coisa para fazer. Cuidar de um ajinho de quatro patas, lavar quintal, ajeitar as coisas e claro, cozinhar muito. Tudo para que na volta ao lar minha mãe o encontrasse arrumadinho e acolhedor, afinal, já imaginava que ela precisaria de um bom descanso depois de tantas noites embaladas pelo hit do momento, o "ué é é" da Maria Clara.

Acredito que me saí muito bem. No primeiro dia cheguei como sempre, azul de fome, e fui correndo atacar a geladeira. Só conseguia pensar que bastaria ser algo rápido para me apetecer.

Acabei por grelhar uma antecoxa de frango e acompanhá-la com uma omelete de gorgonzola. Ninguém merece cozinhar com fome.

A antecoxa já estava temperada na geladeira, com sal, alho, azeite, pimenta do reino, limão e vinho branco. Apenas a coloquei no grill e esperei seu tempo de cozimento.

Para a omelete quebrei dois ovos em uma travessa de vidro, acrescentei uma colher (chá) de manteiga, uma pitada de sal, pimenta do reino, uma porção de pequenos cubos de queijo gorgonzola, e o toque final, dado por 2 colheres (sopa) de creme de leite fresco.

O creme de leite deixa a omelete mais leve e fofa, ao mesmo tempo seu centro fica úmido e com uma textura incrível. Todos os ingredientes na travessa hora de bater muito bem com um garfo. Tudo junto e misturado, despeje esta mistura em uma frigideira previamente aquecida com azeite (deve estar bem quente).

Deixe fritar, mexendo para que a parte mais líquida da mistura vá aos poucos entrando em contato com o fundo da frigideira e crie uma crosta na parte inferior. Quando essa crosta já estiver suficientemente grossa, dobre a omelete ao meio, tampe a panela deixe fritar, vire a omelete para que frite por igual.

Um tomate bem picado, temperado com sal, azeite e hortelã completam este rápido jantar.

prato rápido para quem chega em casa azul de fome...

Sou suspeita para falar, adoro omeletes, mas ficou fantástica. Poderia repetí-la durante toda a semana, mas... variar faz parte do cardápio e por isso, após matar a fome que me consumia, voltei para a cozinha para preparar meu almoço e jantar do dia seguinte (sim acreditem, muita disposição para lidar com as panelas).

Desta forma, ao chegar em casa já teria um jantar prontinho me esperando na geladeira. Um delicioso picadinho com abobrinha e arroz com cenourinha, bem saudável e caseirinho, mas esta receita fica para o próximo post...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Viva! Viva! Viva!

Com tantas novas atrações, nada mais natural que a patota deixasse de lado alguns eventos que em outros anos foram tão esperados. 

Nesta lista encontra-se nosso já tradicional "arraiá", cheio de gostosuras típicas.

Sendo bem sincera, isso nem nos incomodou, afinal, estamos prevendo uma grande festança para o ano que vem. Mas enquanto ela não vem... fizemos uma singela receita de bolo de milho, assim não deixamos as festas juninas passarem totalmente em branco e já aproveitamos para cantar parabéns ao 2º ano do nosso amado blog Gastronomia Doméstica.

É isso aí, muito foguetório para comemorar este 5 de julho onde fazemos 2 anos de muitas histórias, receitas, momentos especiais, dicas, e tudo o mais que envolve este pequeno universo que construímos com tanto carinho.

Esta receita é super rápida, mesmo quando não sobrar tempo para mais nada ainda haverá tempo para o bolo de milho.

No liquidificador bata 4 ovos, 1 lata de leite condensado, 2 colheres (sopa) de manteiga, 1 lata de milho, 1 e 1/2 xícara de farinha de trigo, 1 colher (sopa) de fermento em pó e, como ingrediente opcional, meio vidro de leite de coco.

Deixe bater por alguns minutos, despeje em uma forma de furo no meio previamente untada e leve ao forno preaquecido para assar por 40 minutos.

Um pouquinho de açúcar peneirado por cima dá o toque final. Bolo macio, bastante úmido, daqueles de lambuzar os dedos e comer rezando até alegrar todos os santos, sendo eles juninos ou não.

Bão por di mais! 

mini festa do "mio"

Milho cozido com manteiga e sal completam o cardápio. Afinal, milho cozido com manteiga é sempre bem vindo. Possui até mesmo um certo ar nostálgico, por me remeter a muitos passeios familiares pelo calçadão da praia de São Vicente, eu criança correndo feliz ao ver o carrinho do milho cozido... delícia!

Agora, delícia mesmo é acompanhar essa "miarada" toda de um bom chá de gengibre.

A receita é simples também. Um pouco de açúcar na panela, a casca de uma laranja, uma canela em pau e alguns cravinhos da índia, uma porção de gengibre bem picada (de preferência já amassadinha em um pilão). Espere o açúcar derreter, cubra com água. Ferva por uns 5 minutos, desligue o fogo, tampe a panela, espere mais alguns minutos antes de servir. 

Eu diria que esta é a versão do quentão livre de ressaca, por isso pode-se beber aos montes sem moderação.

chá de gengibre = quentão sem ressaca... beba sem moderação

Mini festa do milho em casa, sem nenhum grande evento, sem nenhuma bandeirinha, nenhuma paçoca, nenhuma torta caipira, sem cuscuz e sem curau, mas com muita alegria, muitos motivos para comemorar e muitos vivas que não poderíamos deixar de jeito nenhum passar batido.

Viva Santo Antônio! Viva a Maria Clara! Viva a líder da patota! Viva São João! Viva São Pedro! Viva o Corinthians! Viva o Gastronomia Doméstica!!!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Home sweet home


E três dias de hospital depois, é hora de ir para casa. Finalmente Maria Clara iria conhecer o cantinho todo especial preparado para recebê-la.

Não só isso, ser recepcionada com uma singela festinha de boas vindas, com direito a um delicioso aroma de frango assado no ar que anunciava o domingo.

boas vindas

Pensando em um cardápio próprio para uma lactante fizemos um caldinho de entrada, um bom frango assado a la Jamie Stone (ou seria Curtis Oliver?) e arroz 7 grãos.

Tudo muito saudável e substancioso. Pesquisando e seguindo as orientações de quem já viveu esta experiência (olha você aí mãe!) descobrimos que nesta fase é recomendável evitar condimentos muito fortes, carne de porco, frutos do mar e excesso de cafeína. E é indicado consumir uma dose extra de proteína (principalmente aves), muito líquido (sucos e caldos) e muitas frutas, mas o mais importante é ter uma alimentação balanceada e rica em nutrientes.

Para o caldo optamos por ervilhas frescas. Lembra da receita inspirada nas pesquisas científicas de Mendel? Algumas pequenas diferenças entre as duas receitas. Na panela de pressão coloque um fio de azeite e frite um pequeno pedaço de carne para dar sabor. Então acrescente as ervilhas frescas e cubra com água fervente, junte um pouco de sal e cozinhe na pressão por 20 minutos.

Quando já estiver cozida bata tudo no liquidificador com algumas folhas de hortelã. Em uma frigideira com um pouco de manteiga frite alho poró em finas fatias e um dente de alho bem picado. Despeje esta refoga no caldo e corrija o sal se necessário.

sopa de ervilha com alho poró

Caldinho daquele tipo que faz a gente torcer para o inverno chegar depressa e demorar para se despedir.

Mas nem só de caldo se vive. Como disse, precisávamos de um cardápio rico em nutrientes e por isso entramos em uma dessas casas de produtos naturais para escolher nosso acompanhamento. Nos encantamos com os 7 cereais integrais, mais quinua e linhaça. Na verdade em um único pacote temos arroz longo, arroz vermelho, quinua preta, aveia, cevadinha, triticale, trigo, centeio e linhaça. Haja nutrientes!

Seu preparo é praticamente como o do arroz branco tradicional, o que muda é apenas a quantidade de água. Para cada xícara de arroz utilize 2 xícaras e meia de água para o cozimento em fogo brando e panela semitampada.

Extremamente aromático, de múltiplas texturas e diversos sabores, é nutrição que impressiona o paladar.

Agora o grande astro do cardápio, o frango assado. Prato mais que característico dos domingos em família, mas com alguns toques especiais para dar personalidade.

Mesclei o tempero do Jamie Oliver com uma grande dica do Curtis Stone e fiz assim, uma nova receita meio Frankenstein.

Frango inteiro, bem lavado com laranja, temperado com sal, pouco alho, muito azeite e o caldo de mais duas laranjas para marinar.

Geladeira durante toda a noite e no dia seguinte... Dentro da cavidade do frango coloque duas metades de limão siciliano e uma cebola partida em 4 pedaços (essa é a dica do Jamie).

À parte, derreta levemente um pouco de manteiga (basta que esteja maleável e não líquida) e misture folhas picadas de manjericão. Passe essa manteiga entre a pele e a carne do frango (essa é a dica do Curtis).

Regue com a marinada e leve ao forno médio por cerca de 1h30. Algumas mandioquinhas envolta e esperar.

frango a la curtis oliver

Dourado, macio, suculento e tudo mais que se espera de um bom frango assado.

Ah! E nada de vinho para harmonizar, um suco natural de abacaxi com hortelã também combina muito bem e ajuda até mesmo a acentuar os sabores da carne, basta que não esteja carregado no açúcar.

Mamãe bem alimentada, hora de  deixar a mesa e ir correndo servir uma pequena menininha cheia de fome e muita energia no pulmão.

Calma Maria Clara, mamãe só estava enriquecendo o seu leitinho com a ajuda do cardápio que a vovó a titia fizeram pensando em vocês.

É... imediatismo parece também estar no sangue, talvez tanto quanto a paixão por gastronomia.