segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2014 listas

Eu adoro listas, não posso ver um pedacinho de papel dando sopa que lá estou eu listando tarefas, ingredientes, filmes, livros e qualquer coisa mais que eu consiga lembrar na hora.

E não há melhor época para fazer listas do que neste clima de virada de ano. Nesta data algumas listas não podem faltar, como a das promessas cumpridas no ano que acaba e a lista das novas promessas para o ano que se inicia.

Na minha lista de promessas cumpridas um dos itens ticados que me deixou bem feliz, foi a volta do Gastronomia Doméstica. E na lista de 2014 está lá, logo no topo, manter as atualizações semanais sem pular ou atrasar. Certeza que no fim de 2014 será um item ticado.

Assim são as viradas do ano, fazemos uma retrospectiva do ano que acaba, e levamos para o ano seguinte a esperança de que o que aprendemos no passado nos sirva de inspiração na tentativa de construirmos um novo ano melhor do que o anterior.

Pensando nisto, fui buscar a inspiração para o ceia lá no passado. Para ser mais exata, misturei minhas origens lusitanas com as italianas e surgiu uma lasanha de bacalhau.

Dizem que os portugueses podem comer bacalhau todos os dias do ano sem repetir uma receita. E segundo as superstições que envolvem a ceia, bacalhau é uma excelente opção. Somado ao fato de que temos que estar muito contentes na virada para manter a animação ao longo do ano e massa caseira é algo que me deixa muito, mas muito feliz, só pude pensar em algo que misturasse ambos e ficasse ainda melhor gratinadinho.

Massa de lasanha é bem fácil. No processador bata 300 g de farinha de trigo com 3 ovos, um toque de sal, pimenta do reino, noz moscada e azeite. Deixe bater até que a massa torne-se uma bola homogênea.

Abra a massa em retângulos do tamanho da forma a ser usada bem fininhas (caso prefira, pode fazer lâminas menores, mais parecidas com as que se compram prontas e mais fáceis para manusear). 

Gosto de, antes de montar a lasanha, escaldar as lâminas para tirar o excesso de farinha que às vezes fica na massa. Mas é um procedimento bem rápido, coloque as lâminas em uma forma e despeje água quente sobre elas, menos de 1 minuto e já estão prontas para o uso.

O molho de bacalhau. Todo o processo começa 3 dias antes, quando o bacalhau é comprado (receita para 500 g de bacalhau), lava-se para tirar o excesso de sal, coloca-se em uma travessa imerso em água gelada e deixe na geladeira. Troque a água a cada 6 horas mais ou menos. Após 3 dias o bacalhau deve estar no ponto ideal de sal.

Leite em uma panela (suficiente para cobrir o bacalhau), aromatizado com 2 dentes de alho e alguns ramos de tomilho. Ferva, desligue o fogo, coloque o bacalhau e deixe descansar por 30 minutos.

Retire o bacalhau do leite, desfie em lascas grandes e tire todas as espinhas. Reserve.

Refogue 1 cebola e 2 dentes de alho picados em azeite. Acrescente 2 tomates sem pele e sem sementes picados. Mexa até murchar e junte uma xícara do leite em que o bacalhau descansou. Espere secar para formar um molhinho denso, coloque as lascas de bacalhau e uma xícara de creme de leite fresco. Para finalizar salsa e cebolinha e prove o sal para perceber se há necessidade de alguma correção.

Hora da montagem. Massa, bacalhau, parmesão ralado, massa, bacalhau, parmesão ralado, massa, bacalhau, parmesão ralado... assim por diante. Termine com uma camada de parmesão ralado bem generosa e leve ao forno bem quente para gratinar.

lasanha de bacalhau gratinadinha... em 2014 as fotos serão melhores

Harmoniza muito bem com as borbulhas do champanhe. Excelente maneira de começar o ano. Afinal, massa, bacalhau e parmesão ralado bem gratinadinho deixa qualquer um feliz e satisfeito da vida. E começar o ano feliz e satisfeito só pode garantir um 2014 incrível. Que venham copa, eleições e muitas novidades.

Gastronomia Doméstica deseja muitos itens ticados da lista e que cada um destes itens seja um ingrediente para um ano com muitas texturas e sabores.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal Wellington

Já chegou o Natal. 

Apesar de ser esta a época do ano mais tumultuada e estressante, é também a época ideal para rever nossas ações, estar junto de quem se ama e trocar muitos presentes.

Ah! Os presentes. Para mim são a melhor parte desta época, mas não se engane, não é pelo valor material e nem por recebe-los. O que gosto mesmo é de pensar com carinho em cada um dos presenteados e escolher o que acho que irá surpreender e agradar. Meses antes já estou atenta à todas as informações que podem dar pistas sobre o que cada um deseja do Papai Noel e decidindo a cor dos embrulhos, o tema da decoração e todos os detalhes que envolvem este dia.

Com a ceia não poderia ser diferente. Nesta linda oportunidade de ter todos ao redor da mesa nada como fazer do cardápio também um grande presente. As receitas Wellington já vem embrulhadas e escondem grandes sabores que irão surpreender e agradar a todos.

O mais tradicional é o Bife Wellington que já demos a receita por aqui, mas pode ter quantas variações a criatividade permitir, a receita deste post é a do Frango Wellington, feito com o peito do frango, mas como sugestão para a ceia pode-se escolher o peito de peru, só para ficar mais próximo do tradicionalíssimo. Lombo Wellington também é uma excelente opção que espero que componha a mesa de um futuro Natal aqui de casa.

Vamos à receita.

Comece preparando o creme de cogumelos. Normalmente este paté de cogumelos envolve a carne, mas nesta versão ele será usado como recheio e ficará um pouco mais rústico, uma vez que não será passado pelo liquidificador. Em uma frigideira bem quente coloque um pouco de azeite e refogue uma cebola bem picada, assim que ela estiver transparente adicione 150 g de cogumelos Paris e 150 g de shimeji bem picados e o suco de meio limão para que não escureçam. Espere os cogumelos murcharem e acrescente meia xícara de creme de leite fresco e um pouco de salsa e cebolinha, deixe no fogo até que o creme de leite seque um pouco formando um molho grosso. Reserve.

Sobre papel filme estique o peito de frango (ou de peru) que já deve estar desossado, bem aberto (na espessura de aproximadamente 1 cm) e temperado com sal, pimenta do reino e azeite. Coloque o recheio de cogumelos e enrole o frango fazendo um rocambole com a ajuda do papel. Desembrulhe e envolva com barbante para que não desenrole (é importante que o barbante esteja molhado para que não queime na etapa seguinte). Hora de selar o frango. 

Em uma frigideira bem quente deixe o frango dourar rapidamente de todos os lados  (cerca de 3 minutos de cada lado). Retire o barbante, envolva fatias de bacon por toda a volta deste rocambole e novamente as amarre com o barbante (caso opte por fazer com presunto de parma ao invés de bacon, basta enrolar o presunto com a ajuda mais uma vez do papel filme e levar à geladeira até que esteja frio e então ir para a etapa da massa folhada). Mais frigideira quente, agora frite até que o bacon esteja com aspecto suculento e crocante.

Retire do fogo, retire o barbante, envolva em papel filme e leve à geladeira por pelo menos 1 hora. Se for fazer de um dia para o outro, esta é a etapa em que pode-se interromper o processo.

Pronto, agora é retirar o papel filme, enrolar a massa folhada, pincelar uma gema de ovo e levar ao forno até que esteja bem bonito e dourado.

frango wellington, já vem embrulhado para presente

Crocante por fora, suculento por dentro, bacon dispensa comentários e ainda uma segunda surpresa ao descobrir o recheio cremoso de cogumelos. 

Um verdadeiro presente.

ao partir, deliciosas supresas

Para acompanhar, mousse de mandioquinha. Extremamente simples e fácil de fazer. Sabor bastante característico, mas delicado. Acompanha muito bem os sabores mais marcantes do assado e complementa em textura com sua maciez e suavidade.

No liquidificador bata 500 g de mandioquinha cozida, 1 envelope de gelatina sem sabor, 1 lata de creme de leite, 1 xícara de água morna (pode usar a do próprio cozimento da mandioquinha para realçar o sabor), azeite, noz moscada, sal e pimenta do reino.

Despeje em uma forma untada com um pouco de azeite e leve à geladeira por pelo menos 2 horas. Desenforme na hora de servir.

 mousse de mandioquinha, um acompanhamento suave e delicado

Há forma mais gostosa de se demonstrar carinho do que com uma bela mesa? Assim é o Natal, a oportunidade de compartilhar o momento com pessoas queridas na intenção de construir mais uma página da história de cada um dos convidados.

Gastronomia Doméstica deseja a todos um feliz natal embrulhado para presente!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Texturas

De todas as texturas a que mais me agrada é a croc-croc.

Há algo mais gostoso do que ouvir aquele barulhinho ao dar a primeira mordida e sentir a pequena explosão que acontece e libera os sabores do alimento?

Por isso combinei dois pratos de diferentes crocâncias só para me esbaldar na textura que adoro.

Antecoxa desossada à milanesa (com pele, porque ninguém é de ferro e a carne fica mais suculenta, mas é opcional) e batatas chips.

Tempere as antecoxas com alho, sal, pimenta do reino e azeite. Deixe na geladeira por pelo menos 30 minutos para pegar o tempero. Passe então na farinha de trigo, depois em 1 ovo batido com bem pouquinho sal e para finalizar empane em uma mistura de farinha de rosca e fubá, na mesma proporção, com um toque de queijo ralado para deixar a casquinha mais grossa e ainda mais crocante.

Óleo quente e frite, frite, frite até que esteja bem dourado, porque fritura é tudo que há de bom.

Mas muito se engana quem acha que comida crocante está necessariamente associada às frituras.

Com a ajuda do processador fatie algumas batatas em rodelas bem fininhas. Aqueça um grill (também funciona se for uma chapa de ferro com um peso em cima) apenas unte com azeite, espalhe as batatinhas sem sobreposição, um pouquinho de sal e espere até que estejam douradas.

Repita o processo quantas vezes forem necessárias para ter uma boa quantidade do petisco. Batatinhas chips prontas e paciência acompanha (o resultado justifica o trabalho e a saúde agradece). Salsa e cebolinha na hora de servir deixam os chips mais fotogênicos.

Como o contraste é o responsável pelo realce das texturas, tomatinhos frescos. Metade deles sem sementes e recheado de maionese com um toque de mostarda escura. Apenas para dar um descanso ao paladar.

franguinho e batatinha croc-croc

Franguinho dourado, batatas douradas, nada melhor para harmonizar que uma bebida igualmente dourada. Neste caso, levemente alaranjada.

Escolhi a deliciosa Whistable Bay Organic Ale bem gelada. Uma Ale (cerveja de alta fermentação) produzida com malte e lúpulo orgânicos. Cor alaranjada, suave, refrescante e com notas de pêssego. É bem leve e por isso fácil de harmonizá-la com estes sabores mais tradicionais.

texturas crocantes sempre harmonizam melhor com cerveja

Pratos crocantes, cerveja gelada... depois disso a única textura que me interessa é a do travesseiro e de preferência que não haja nenhum barulho por perto, nem o de comidas croc-croc.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sessão Tarantino

São Paulo só tem dois climas: o frio extremo e o calor insuportável. Isto claro, sem incluir quando todas as estações resolvem dar às caras no mesmo dia (entenda-se, o dia começa com o frio extremo e termina com o calor insuportável ou vice-versa).

Isto é tudo o que se precisa saber para poder entrar sem medo em qualquer conversa de elevador sobre o clima da cidade.

Ultimamente estamos nos dias quentes. Não quentes apenas, mas aqueles dias que conseguem acabar com o humor desta pessoa aqui. A única solução para retomar o sorriso é uma cerveja bem gelada.

Ainda melhor se for uma cerveja escolhida a dedo, que combina sabor e refrescância: a Tarantino Session IPA.

Vamos começar pelo tipo da cerveja. IPA é a abreviatura de Indian Pale Ale. Na época em que os Ingleses viajavam às Índias, eles precisavam de uma cerveja com uma durabilidade maior e por isto acrescentaram uma dose extra de lúpulo. O lúpulo é o responsável não só por fazer com que a cerveja dure por mais tempo, mas também o que lhe atribui aquele amargor característico. Resultado: uma cerveja mais amarga.

As IPAs são muito aromáticas e ricas em sabores. Daquelas cervejas que parecem acertar em cheio o paladar. A Session Tarantino não é diferente, desenvolvida pelo mestre cervejeiro Doug Odell especialmente para a Tarantino Multibeer em viagem ao Brasil em julho de 2013, ela é uma versão mais leve das IPAs tradicionais (ou seja, possui amargor bem balanceado) e com suas notas cítricas e aroma frutado torna-se a IPA perfeita para os dias quentes.

session tarantino: ipa para os dias de calor insuportável

Para harmonizar, uma quiche de gorgonzola. O gorgonzola combina muito bem com o amargor da cerveja. São sabores que se entendem sem briga, se equilibram em força e o paladar agradece.

Prepare a massa peneirando 1 e 1/2 xícara de farinha de trigo, uma porção de queijo parmesão ralado (só para dar um toque na massa), 100 g de manteiga e uma pitada de sal. Com a ponta dos dedos amasse até formar uma farofa, acrescente 1 ovo e 1/3 de xícara de água gelada. Misture rapidamente, o segredo dessa massa é a manipulação rápida. Enrole em filme plástico e geladeira por 30 minutos.

Depois de meia hora, coloque a massa no fundo e laterais de uma forma e leve ao forno por 20 minutos para pré-assar.

Enquanto isso... Bata no liquidificador 3 ovos, 300 ml de creme de leite, sal, pimenta do reino e noz moscada a gosto. Lembre-se de colocar pouco sal no creme para que quando somar ao gorgonzola não passe do ponto ideal.

Massa pronta, recheio base pronto, hora de montar a quiche. Sobre a massa coloque alho poró picado bem fino (o suficiente para cobrir todo o fundo), pedaços de gorgonzola picado (também o suficiente par cobrir toda a superfície) e então despeje o recheio batido.

Leve ao forno por cerca de 35 minutos à 180º. 

quiche de gorgonzola e alho poró

Ligar o forno nos dias quentes não é a melhor das idéias, mas para esta quiche, vale a pena. Ainda mais se já estiver rolando uma bebericagem durante o preparo.

E claro que como uma amante do cinema não poderia perder a oportunidade de harmonizar uma Session Tarantino com um filme do Tarantino (a Tarantino Multibeer tem esse nome por causa de seu proprietário Gilberto Tarantino, nenhuma relação com o cineasta, mas uma feliz coincidência para esta que vos escreve).

Feliz coincidência mesmo, porque nenhuma cerveja combinaria melhor com os filmes do Tarantino do que uma IPA.

Filmes fortes, de humor ácido, diálogos surpreendentes e muita violência estilizada. Ou seja, com extra lúpulo.

O  mais difícil para a escolha do filme foi encontrar um que eu ainda não tivesse visto. Foi assim que cheguei em A Prova de Morte de 2007. Possui tudo o que se espera de Tarantino além de ser uma homenagem aos filmes de terror da década de 70 (aqueles meio trash, de custo barato que exploravam sexo, violência, drogas, nudez, kung fu, e algumas coisas meio sem pé nem cabeça). 

Mesmo sendo uma trama não muito bem explicada, consegue trazer aquela sensação de alma lavada de toda história de vingança bem trabalhada. Não ganha de Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre, mas se assemelha a eles sob determinados aspectos.

Tarantino assim como as IPAs e o gorgonzola não possui meio termo. Ame-os ou odeie-os. Para mim são um verdadeiro triângulo amoroso dos mais bem sucedidos. E combiná-los me pareceu uma ótima ideia para descarregar qualquer fúria que surge nos dias mais quentes nesta cidade.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Papinha?

Sai pra lá com essa papinha. 

Nascemos crescemos, aprendemos muito e depois de 1 ano somos grandes e decididos.

O cardápio agora é vasto, mas não é mais qualquer coisa que nos agrada (como se antes fosse). E aí é hora da mamãe rebolar e rebolar pra descobrir do que gostamos e o que queremos enquanto tenta nos convencer dos benefícios de alimentos saudáveis para ficar forte e ter um bom crescimento.

Mas quem disse que Maria Clara quer saber do que é saudável? Nossa linda criaturinha gosta mesmo é de pizza, pão de queijo e bolo de chocolate, sem esquecer do leitinho, é claro, desse ela nunca abre mão. Mas comida mesmo que é bom... 

E nem adianta cantar "meu lanchinho", fazer aviãozinho, pedir com carinho ou fazer malabarismos. O jeito é mesmo persistir, respirar fundo e testar todas as possibilidades gastronômicas que possam fazer com que a pequenucha encontre prazer na hora das refeições.

Para isto contamos com a ajuda de um livro muito especial que a sapequinha ganhou de presente de um amigo querido que gosta de se aventurar na cozinha tanto quanto nós (Macarrão, esse é você).

nada de roubar a papinha do neném

Livrinho este que tem receitas gourmet para os pequenos, como polenta branca, creme de erva doce com maçã, diversas sobremesas saudáveis e que deixam a mamãe, a titia, a vovó e o papai com vontade de roubar a comida do neném.

Como roubar de criança não é coisa que se faça, montamos um cardápio do livrinho para toda a família. Com direito a prato principal, acompanhamento e sobremesa.

Guisado de carne, acompanhado de risoto de abobrinha, ervilha e hortelã. Para sobremesa, pudim de chocolate e pera.

Tempere 450 g de acém cortado em cubos com 1 dente de alho, o suco de 2 laranjas, 1 colher (chá) de gengibre ralado e um pouquinho de sal. Deixe marinar de um dia para o outro.

No dia seguinte... em uma panela aqueça 2 colheres (sopa) de azeite e frite rapidamente a carne. Acrescente uma cenoura e 1 cebola roxa bem picadas. Refogue bem, acrescente 2 colheres (sopa) de farinha de trigo, 2 anises estrelados e 500 ml de água morna. 

Deixe ferver até que a carne esteja macia. 

Segundo nosso livro: o gengibre é uma especiaria conhecida por suas propriedades calmantes de distúrbios digestivos, como cólicas, gases e diarreia, além de aliviar a náusea. As substâncias químicas naturais chamadas gingerois conferem fortes propriedades anti-inflamatórias ao gengibre, o que o torna um alimento ótimo para bebês e crianças com asma ou eczema. 

Comece o risoto com azeite na panela. Refogue uma cebola picada, acrescente o arroz arbóreo e frite rapidamente. Acrescente um pouco de caldo de legumes e mexa. Junte 2 abobrinhas picadas, 150 g de ervilhas frescas. O caldo de legumes deve ser colocado aos poucos até que se complete o cozimento do arroz.

Finalize com 2 colheres (sopa) de hortelã picada e 1 colher (sopa) de manteiga sem sal.

Prepare a sobremesa com um dia de antecedência para que adquira a consistência necessária. Bata no liquidificador 250 ml de água, 6 tâmaras secas e 70 g de amêndoas, até obter uma mistura leitosa. Passe por uma peneira e em uma panela adicione à esta mistura 100 g de cacau ou chocolate amargo.

Em fogo baixo espere derreter o chocolate. Despeje em uma tigela e leve à geladeira. Para acompanhar bata algumas peras no processador e sirva sobre o pudim.

Benefícios à saúde: O cacau puro contém muito mais antioxidantes do que o cacau refinado ou as barras de chocolate. Contém altos teores de magnésio, necessário para o funcionamento perfeito dos músculos e do sistema nervoso. É rico ainda em triptofano, um aminoácido que melhora o humor, e de arginina, importante para a construção da massa muscular.

guisado de carne com risoto de abobrinha, ervilha e hortelã

Risoto com interessante mistura de texturas, refrescante (sempre refrescante se a hortelã é um ingrediente) e sabores suaves contrastando bem com os temperos do molho da carne que estava macia e saborosa.

Quanto à sobremesa, deixe para servir o creme de pera só na hora de provar. Deixei na geladeira de um dia para o outro, a pera soltou muita água e quase estragou o pudim de tâmaras e amêndoas. Pudim este que ficou sensacional, mas ficarei devendo a foto. Como pretendo repeti-lo em breve, com certeza pago a dívida logo mais.

Agora o mais importante de toda essa história. A pequena aprovou o cardápio. Tanto que chegou a comer quase 5 colheres cheias do risoto, 2 pedacinhos de carne e mais de 10 ervilhas.  A sobremesa também foi um sucesso, mais de 3 colheres. Para os padrões dessa criança isto é quase uma façanha inédita.

Mamãe e vovó continuam preocupadas com a falta de apetite da lindinha, mas ela parece não se incomodar. É... rebolar e rebolar.

Se continuar assim, estou quase certa que ela tem tudo para ser uma crítica gastronômica daquelas bem exigentes. Que fazem até mesmo os grandes chefs tremerem ao saber que poderão receber uma visita sua. 

Aguardem, Maria Clara está crescendo rápido e por trás de sua aparência fofa e jeitinho divertido há uma pessoinha que não é nada fácil de agradar.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Condimento

Con.di.men.to s.m. 1. substância que é acrescentada a um alimento, para dar um sabor particular, aroma ou realçar o seu paladar. 2. dar expressão, vida, realçar, valorizar 3. tornar excitante, picante.

Lendo a definição do termo, percebo que não poderia haver melhor descrição para o Bistrô Condimento do que o próprio nome.

Ao entrar a sensação é a de estar em uma casinha de bonecas. Decoração delicada e acolhedora que combina com os aromas que chegam da cozinha.

Atendimento atencioso e pratos deliciosos. A começar pela salada ou sopinha de entrada acompanhadas de uma crocante casquinha de parmesão e pãezinhos frescos e macios.

casquinha de parmesão crocante e pão caseiro acompanham a entrada

As opções de prato principal não deixam por menos. Lindas apresentações, com direito a flores em porções bem servidas e sabor impecável.

Como o Entrecote no ponto exato com molho de mostarda e fritas, ou o risoto de frutos do mar e Lagostin grelhado.


pratos de sabor impecável

Durante toda a refeição uma grande mesa de doces no salão provoca os clientes que não conseguem ir pra casa sem provar as sobremesas. Verdadeira tentação.  

grande variedade de irresistíveis sobremesas

Bolos de todos os tipos e sabores, doce de leite, banana, mirtilos, framboesa, morango, fubá, cenoura e claro, chocolate.

Cafés e chás especiais acompanham.

bistro condimento: rua Itapura, 1525 - Tatuape

Um lugar encantador para condimentar o dia.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Os dez mandamentos do Gastronomia Doméstica


nozes pecan agridoce, queijo de cabra e champanhe... agrega

Primeiro deve-se vestir-se adequadamente. Sabe como é, cabelos presos. Pode ser com elástico, touquinha, boné... E um belo avental, porque todo mundo gosta de se vestir bem.

Faca afiada é tudo. Daquelas de dar inveja no açougueiro. Mas tem que ter cuidado com sua integridade física, a segurança é fundamental. Nunca vá para a cozinha sem ter um bandaid por perto.

Definir um cardápio de puro luxo. Como por exemplo carré de cordeiro com crosta de hortelã acompanhado de risoto de açafrão com queijo de cabra e manteiga trufada.

Escolher os melhores ingredientes, os melhores cortes de carne. E o carré de cordeiro é um mito. Ele é macio, suculento, combina super com hortelã e fica lindo no prato. Tem uma coisa que é meio pesada, mas eu tenho que falar, em comemoração a volta do blog fomos buscar os ingredientes no mercadão... compramos tudo lá, o carré, a manteiga de trufas, o queijo de cabra, o açafrão em pistilo... porque o mercadão é status.

açafrão e manteiga trufada... mercadão é status

O acompanhamento não deve ser inferior ao prato principal. Afinal o acompanhamento é o que agrega. Agrega texturas, sabores, agrega tudo. E o risoto aqui é um acompanhamento, mas dependendo da situação ele pode fazer as vezes de prato principal. 

Quando a pessoa está na sala, ela é só mais um convidado, mas quando está na cozinha ela é chef. E aí o tempo que ela passa lá pode variar, desde 3 minutos, uma, duas, horas até o infinito. Então tem que ser um lugar agradável.

Champanhe. Harmoniza com tudo, e nunca se esqueça da regra básica: fica bem melhor gelado do que com fogo. Outra coisa que vale a pena lembrar é que deve ser aberto sem fazer barulho, discrição combina com esta bebida. Na verdade o que diferencia o espumante de um vinho comum é o gás na garrafa que auxilia na percepção de aromas e sabor, não os disperse tentando chamar atenção.

Liberdade poética na hora de cozinhar é básico. A receita de crosta escolhida para o carré é do famoso chef Claude, quando ele fez a crosta para um filé mignon no Que Marravilha Revanche, mas é claro que sofreu adaptações, não basta seguir os passos dos famosos, o toque pessoal é o que agrega personalidade ao prato.

Outra regra importante é depois do jantar conseguir traduzi-lo em textos que não se limitam a passar as receitas. Tem que ter entretenimento, poesia, diversão... porque uma boa literatura é um diferencial.

Por fim o fator água na boca. Nada adianta ter receitas cheias de glamour e lindos textos se ninguém ficar sabendo. Por isso bora lá, publicar o texto pra deixar todo mundo morrendo de vontade.

Tempere o carré de cordeiro (cerca de 750g) com três dentes de alho, azeite, sal, pimenta do reino e meia dose de cachaça. Leve à geladeira e deixe marinando de um dia para o outro.

Para fazer a crosta, misture 100g de manteiga, 1 maço de hortelã picada e 100g farinha de rosca.

Sele o carré com um pouco de azeite em frigideira bem quente. Três minutos de cada lado são mais do que suficientes. Retire do fogo, e coloque a crosta sobre o carré. 

liberdade poética transforma receitas em algo bastante pessoal

Leve ao forno bem quente até que a crosta esteja bem dourada (cerca de 20 minutos).

Ter um bom caldo de legumes é indispensável no preparo do risoto. O caldo utilizado foi feito com tomilho, salsa, cebolinha, 1 cebola, 2 dentes de alho, 1 tomate, 1 cenoura, 1 folha de louro, 2 cravos da índia e 1 anis estrelado, além de sal, bastante azeite e água (claro). Deixe ferver por aproximadamente 30 minutos. Coe o caldo antes do uso. 

Dissolva o açafrão em um pouco deste caldo. Reserve. 

Refogue em azeite 1 cebola picada com 1 colher (sobremesa) da manteiga de trufa. Adicione 1 xícara e meia de arroz arbóreo, frite rapidamente e acrescente uma dose de vinho branco. Aos poucos adicione calde de legumes e cozinhe aos poucos mexendo de vez em quando até que o arroz esteja no ponto. 

Acrescente então o queijo de cabra picado (cerca de 100g), o açafrão e finalize com mais uma colher (sobremesa) de manteiga de trufas. Misture tudo muito bem, salsa e cebolinha para ficar fotogênico e sirva ainda quente.

carré de cordeiro com crosta de hortelã e risoto de açafrão, pura ostentação

Preciso mesmo descrever o charme e elegância deste prato? Pura ostentação.

O carré é extremamente delicado, macio, suculento, a crosta contrasta bem por seu sabor crocante com toque refrescante de hortelã (porque na minha opinião hortelã fica refrescante até quente...). O risoto cremoso com muitos sabores que se mesclam em uma combinação única e intensa.

Um prato que só pode ser harmonizado honestamente com um bom prosseco ou champanhe, o importante é ter bolinhas borbulhantes estalando na ponta da língua. 

Sei que muitos não vão tentar a receita, que muitos vão criticar a dificuldade do prato, mas eu não ligo. Porque essa receita agrega.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Em um buraco no chão vivia um hobbit...

Primeiro a palavra, depois a história. Partindo deste princípio J. R. R. Tolkien, um dos mais aclamados autores do século XX, criou novas línguas que deram origem a todo um universo.

Filólogo, não se limitou a estudar mais de 16 idiomas além do inglês, também criou sistemas de escrita e várias outras línguas na construção da Terra Média como Quenya e Sindarin (idiomas élficos) e o Cirth (alfabeto rúnico dos anões).

Influenciou não só a literatura, mas a música, o cinema, os jogos e toda arte que possui em si uma pitada de magia.

Não à toa é conhecido como o pai da moderna literatura fantástica. Grande observador do mundo, transformou o lugar em que nasceu no condado, um vizinho virou Sam, sua esposa deu origem a Lúthien, personagem de "O Silmarillion" (a grande obra de Tolkien que descreve os acontecimentos desde a origem da Terra Média) e ao deparar-se com uma página em branco enquanto examinava os trabalhos de seus alunos apenas escreveu: "Em um buraco no chão vivia um hobbit" sem saber o que nem por que, mas assim surgiu "o Hobbit".

Quando o pequeno Bilbo parte em uma jornada junto com 13 anões e Gandalf. Tudo vai bem até que aparece o Um Anel pra atrapalhar... ou quase isso.

Bom... a história desse anel todo mundo conhece.  O instrumento máximo do poder que mesmo um grande mago como Gandalf receia cair sob seu domínio, deixando para o pequeno Frodo o dilema: ter o poder não é possuir o Um Anel, e sim destruí-lo.

Mas este ainda é um blog de gastronomia e não de literatura e é por isso que chegamos a Bombur. Um dos anões companheiros de Bilbo, o gordinho da turma... bem, gordinho é bondade... dizem que quando Frodo investigou sobre ele muitos anos depois ele estava tão gordo que precisava da ajuda de 6 jovens anões para ir da cama ao sofá. Mas isso foi só depois... O que nos interessa de fato sobre Bombur é que como a maioria dos gulosos de plantão ele também tinha umas receitas escondidas na manga.

Melhor ainda, não é que esse anão esperto as disponibilizou no site Receitas da Terra Média?

O fato é que na semana passada logo após o lançamento do trailer A Desolação de Smaug, sobre a segunda etapa da jornada de Bilbo que estreia dia 13 de dezembro, eu corri para a cozinha para arriscar-me na aventura que foi transformar receitas de um site promocional em algo realmente apetitoso.

E assim começa o que ficou conhecido como o jantar do condado, onde preparei com muita liberdade poética (muita mesmo), o "hobbit no buraco" e os "biscoitos do Bilbo"(ótimo para viagens).

Para o hobbit no buraco bata no liquidificador 2 xícaras de farinha de trigo, 2 xícaras de leite, 4 ovos batidos, 2 colheres (sopa) de manteiga e reserve. Agora no processador coloque 4 linguiças frescas sem a pele (na receita original elas vão inteiras, afinal seriam elas os hobbits no buraco, mas eu resolvi que eles passaram por um terremoto e ficaram meio moídos para que houvesse maior integração entre os ingredientes).

Em uma panela aqueça azeite e frite a linguiça moída até dourar, a partir daqui é tudo invencionisse da minha parte. Acrescente uma cebola picada e refogue bem, uma dose de cachaça e fogo neles (hobbits moídos e tostados). Alecrim seco para finalizar.

Forma retangular preaquecida e untada com um pouco de azeite, acomode a linguiça, despeje a massa que está descansando no liquidificador e forno em 180º até que fique dourado e estufadinho.


um dia eu aprendo a tirar fotos...

Parecido com um suflê, consegue equilibrar muito bem o sabor forte da linguiça com a suavidade da massa. De comer até perder a vontade de sair do buraco de casa.

Eis aí que chega o chamado para a aventura nos obrigando a encher os bolsos de biscoitos e dar início à viagem. Qual biscoito? Os biscoitos Bilbo é claro...

Comece batendo fervorosamente 500 ml de creme de leite na batedeira com uma pitada de sal. Exatamente como no post "Viu, como se faz..." A intenção dessa vez é mais do que fazer manteiga, mas a de obter o buttermilk. Deixe na geladeira para usar na hora do preparo.

Agora sim, misture em uma tigela grande 2 xícaras de farinha de trigo, 1 colher (sopa) de fermento em pó,  1 colher (chá) de sal, 1 colher (chá) de açúcar, 4 colheres (sopa) de manteiga gelada, 4 colheres (sopa) de azeite extravirgem 1 xícara de buttermilk frio (não disse que ia precisar?), amêndoas torradas sem pele e picadas. É importante colocar primeiro os secos, fazer uma farofa com a manteiga sem misturar muito e só depois acrescentar todos os demais ingredientes até que esteja homogêneo.

Na receita original deve-se abrir a massa com o rolo e cortar os biscoitos, eu preferi moldá-los com uma colher e colocá-los diretamente na forma untada. Forno preaquecido por cerca de 15 minutos ou até que fique dourado. Polvilhe canela antes de servir.

bom para viagens e para comer com muita geléia

Textura deliciosa, pode-se sim comer por dias, ótimo para ter um saquinho deles dentro da bolsa, mas é bom que tenha também um pote de geleia, pois o sabor é bem suave, como a receita tem pouco açúcar ele não chega nem a ser doce, mas são bem gostosinhos e vale a experiência de sentir-se como uma pequena parte do universo de Tolkien.

A gastronomia e a literatura possuem muitas semelhanças, uma delas é que ambas são deliciosas formas de viajar. Outra é que servem para lembrar que há diversos mundos lá fora e que vale a pena arriscar-se, pois só ficará desolado quem não embarcar em nenhuma jornada.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Extra comfort food

Não é de hoje que consumimos frango em larga escala aqui em casa. Por ser disparada a preferência de quem vos escreve, isto coloca a criatividade de mamãe à prova.

É franguinho no forno com bacon, cerveja ou desossado. Na laranja, na panela, com cream cheese ou grelhado. Cozido com vinho, gergelim, leite de coco ou recheado. Servido com mandioca, batata, tomate ou berinjela quando assado. Com manteiga, ervas, gengibre, até desfiado. Temperado com shoyu, frito, ou um filé bem passado. Rocambole de peito, inteiro, galeto ou em pedaços. Recheio de tortas, sanduíches, pastéis e folhados... haja versatilidade!

A última empreitada bem sucedida nesta área foram as saudáveis e deliciosas almôndegas de frango com aveia.

Bata no processador meio peito de frango e 2 antecoxas, ambos obviamente desossados. Tire do processador e reserve. De volta ao processador, bata 1 cebola, 2 dentes de alho, azeite, salsa e cebolinha. Misture os temperos batidos com o frango processado e acrescente 3 colheres (sopa) bem cheias de aveia. Para finalizar, sal e pimenta do reino.

Deixe descansar na geladeira por meia hora. Após este tempo, com a ajuda de um pouco de azeite nas mãos, faça pequenas bolinhas, se quiser incrementar um pouco, recheie as almôndegas com uma pequena porção de cream cheese.

Depois das bolotas prontas, sele em uma frigideira com azeite bem quente. Esta etapa é rápida, serve apenas para que as almôndegas não se desmanchem quando colocadas no molho. Não é necessário empaná-las.

Prepare o molho batendo no liquidificador alguns tomates e uma cebola. Refogue alho picado em um pouco de azeite, despeje os tomates e deixe apurar. Coloque as almôndegas no molho em fogo baixo por cerca de 30 minutos. Salsa e cebolinha sempre fazem o molho sorrir.

Para acompanhar as suculentas almôndegas nada melhor do que una bella pasta.

Escolhemos o fusilli napoletani. Um daqueles formatos que me dão certeza que quem os cria tem como objetivo fazer com que a gente se atrapalhe muito na hora de comer. E tem coisa mais gostosa do que sujar-se com macarrão ao deixar o molho espirrar para todos os lados? Eis aí o motivo pelo qual não se deve cortar jamais, sob hipótese nenhuma, qualquer tipo de massa (ok, lasanha tá liberado...).

Cozinhe a massa escolhida até que esteja al dente e puxe no azeite. Não misture o molho com a massa antes de levar à mesa. Quando misturados, a massa perde o ponto, pois começa a absorver o molho e a inchar, por isso dê preferência à realização desta união apenas no momento de servir.

Parmesão ralado é sempre bem vindo para a finalização do prato.

almôndegas de frango com fusilli napoletani

Agora coloque sua camisa mais branquinha e lambuze-se.

Acredite, essas suculentas e deliciosas almôndegas compensam o trabalho de tirar manchinha por manchinha mais tarde. Afinal, são de frango e só mesmo um franguinho para deixar um verdadeiro clássico do comfort food ainda mais acolhedor.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Frango com ameixas

Marjane Satrapi. Nome artístico de Marjane Ebihamis, nascida em Rasht, Irã, é uma romancista gráfica e quem acompanha o blog já deve estar lembrando do post Persépolis onde um cardápio foi montado em homenagem à sua obra mais famosa. Mas nunca é suficiente falar de Marjane.

De ascendência iraniana (ou azerbaijana) e descendente de Nasser al-Din Shah, Rei e Xá da Pérsia, de 1848 até 1896 declarou :
"Mas você tem que saber que os reis da dinastia Qajar tiveram centenas de esposas. Fizeram milhares de crianças. Se você multiplicar essas crianças pelas gerações seguintes, pode-se dizer que existem de 10 a 15 000 príncipes (e princesas). Não há nada de muito especial nisso."

Tudo bem, talvez não haja nada de especial em sua ascendência, mas na autora certamente há.

Além de Persépolis, Marjane escreveu também Bordados e Frango com Ameixas. Em Bordados mais uma vez os leitores são confrontados com seus próprios preconceitos ao serem expostos a um grupo de mulheres iranianas de moral e experiência bastante variadas, que conversam de maneira franca sobre às condições das mulheres no Irã, às voltas com o machismo e a tradição, sobretudo depois da Revolução Islâmica.

Enquanto isso, em Frango com Ameixas, há uma história baseada em relatos de seu avô, sobre relacionamentos e arte.

Durante uma briga, a esposa destrói o antigo e precioso tar de Nasser Ali (tar é um instrumento de cordas persa). Nasser Ali sai em busca de um novo instrumento. Ao concluir que jamais encontrará um novo com o som tão perfeito quanto o antigo, percebe que perdeu sua arte e o sentido de sua vida. Enquanto acompanhamos Nasser Ali nesta jornada ele nos conta suas recordações, seu grande amor e como viu-se preso a um casamento onde seu único prazer era o frango com ameixas feito pela esposa.

Acredito plenamente no poder da gastronomia como arte e forma de demonstrar carinho àqueles que amamos. Mas definitivamente não há gastronomia tão poderosa que por si só seja capaz de manter um relacionamento. Mesmo se estivermos falando de uma receita aveludada e de sabor tão rico quanto o frango com ameixas.

Sem dúvida é uma receita que vale a pena aprender para aqueles momentos em que tudo o que se precisa em um relacionamento é aquele toque exótico com sabor de novidade. Mesmo que seja o relacionamento com a própria gastronomia, pois não foi este um dos sabores responsáveis pela volta do blog?

Chega de delongas e vamos à receita.

Hidrate por ao menos meia hora uma porção de ameixas pretas sem caroço (cerca de umas 10) em água quente, 2 colheres de mel, 2 estrelas de anis, 4 cravos da índia e 1 canela em pau. Reserve.

Em uma panela bem quente coloque um pouco de azeite e 200 g de bacon em cubos pequenos. Somente quando o bacon estiver bem fritinho e crocante coloque 8 antecoxas médias para fritar com a pele para baixo. Deixe que fiquem bem douradas e apetitosas, vire para fritar do outro lado e acrescente 1 cebola grande picada. Após uns 10 minutos fritando a cebola acrescente 2 dentes de alho picados para fritar rapidamente. Acrescente sal, pimenta do reino, 1 pimenta dedo de moça sem sementes picada e flambe com uma dose generosa de cachaça para dar um toque brasileiro.

Assim que o álcool evaporar coloque as ameixas já hidratadas junto com o caldo onde elas repousaram. Acrescente meia xícara de vinagre balsâmico. Panela semitampada e espere cozinhar até que o frango esteja bem cozido, macio e soltando do osso.

Para finalizar 1 xícara de creme de leite fresco e 1 colher de manteiga.

frango com ameixas, sabor rico e aveludado

Acompanhamos de pure de mandioquinha. Sem grandes mistérios. Mandioquinha cozida temperada com sal, pimenta do reino, noz moscada, azeite, um pouco de leite e manteiga. Tudo bem batido no mixer para ficar lisinho (pode ser feito apenas passando pelo espremedor e misturando os temperos com uma colher).

frango com ameixas acompanhado de purê de mandioquinha

Consigo entender quem abre mão da vida ao perceber que nada mais faz sentido, e que perdeu tudo o que conquistou acreditando ser esta a foma mais drámatica para encerrar uma história. Mas o que aprendi ser completamente incompreensível é como alguém conseguiria resistir a este prato.

É quase tão irresistível quanto às histórias e o traço de Marjane Satrapi.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Bacalhau espirituoso

Alguns pratos podem transformar uma simples refeição em uma experiência transcendental. Sem dúvida quem já provou esta receita há de concordar comigo, estou falando do bacalhau espiritual.

Leve, saboroso e capaz de fazer até o ser humano mais cético levitar após a primeira garfada.

Tudo começa com um pouquinho de paciência. Afinal há todo um ritual para este preparo. 

Não basta levantar do sofá rumo à cozinha e do nada começar um preparo. É preciso comprá-lo com ao menos 3 dias de antecedência. Cobri-lo de água gelada, manter na geladeira trocando por mais água gelada há cada 3 horas. E ao fim desta etapa dar 3 pulinhos de alegria ao provar o perfeito ponto de sal.

O dessalgue serve para tirar apenas o excesso. O ponto ideal é aquele que dispensa acrescentar mais sal à receita.

Agora iremos precisar de uma panela com leite suficiente para cobrir o bacalhau, ramos de tomilho e 2 dentes de alho. Espere ferver, conte 5 minutos e desligue o fogo. Deixe descansar por ao menos 30 minutos antes de utilizá-lo...

Enquanto isso... cozinhe batatas (cerca de 4 batatas para 1 kg de bacalhau) em água salgada. Assim que estiverem bem macias, passe pelo espremedor formando um purê. Reserve.

Rale 2 cenouras médias. Reserve mais uma vez.

Após os 30 minutos de descanso... desfie o bacalhau deixando lascas grandes. Retire cuidadosamente todas as espinhas e adivinhe só... reserve.

Panela no fogo, aqueça uma generosa quantidade de azeite extravirgem. Refogue 1 cebola grande bem picada e 2 dentes de alho. Coloque a cenoura ralada, um pouco de noz moscada e uma concha daquele leite energizado pelo bacalhau. 

A cenoura deve estar levemente cozida, só então deve-se acrescentar o bacalhau e as batatas incorporando delicadamente. Quando a mistura estiver homogênea adicione 350 ml de creme de leite fresco e finalize com salsa e cebolinha.

Despeje em uma forma e cubra com muito parmesão ralado. Leve ao fogo bem alto para gratinar. Na hora de servir, ovos cozidos são bem vindos.

bacalhau espiritual = experiência transcendental
Prepare os joelhos. É de comer rezando...

Para acompanhar, mais bacalhau... agora na versão salada.

Grão de bico cozido, cebola roxa picada, tomate picado e bacalhau bem desfiado. Tempere com sal, azeite, limão e obviamente, salsa e cebolinha. Sirva frio. 

Dica para exorcizar aquele sabor mais ardido da cebola.  Coloque a cebola já picada em água gelada por algum tempo. O mau hálito vai e fica só o que há de bom.

nada combina mais com bacalhau do que mais bacalhau...
Nada combina mais com bacalhau do que mais bacalhau, mas ali em um acirrado segundo lugar está o grão de bico, seguido é claro por muito azeite, ovos, batatas e azeitonas...

Só não há uma terceira receita de bacalhau neste post formando uma santíssima trindade, porque ainda não inventamos nenhuma sobremesa feita de bacalhau. Até porque isso seria uma heresia com as raízes lusitanas da família.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Roupa Nova

Parando um pouquinho pra pensar, percebemos que o tempo voa mais do que a canção

Hoje, exatamente após um ano da última publicação, o Gastronomia Doméstica está de volta e de roupa nova.

Este período de ausência foi muito importante para relembrar os motivos que deram origem ao blog e retomar a inspiração que tinha saído pra dar um passeio.


Ah! Coração, se apronta pra recomeçar... e vamos recomeçar com uma receita simples porém inusitada. Melancia grelhada ao molho de abacate.

Para o molho, bata no processador um abacate, o suco de um limão, folhas de hortelã, sal, pimenta do reino e muito azeite.

Rende muito. Mas combina com diversos tipos de salada, então guarde na geladeira e lambuze-se. 

Continuando...

Com a ajuda de um cortador, corte cilindros de melancia de aproximadamente 5 cm de altura, de preferência retire todos os caroços. Aqueça estupidamente uma frigideira e só então coloque a melancia para grelhar. 

Nem precisa de um pouquinho de mel pra adoçar, apenas 2 minutos de cada lado são suficientes para que o açúcar da melancia fique caramelizado formando uma bonita crosta. 

melancia grelhada ao molho de abacate, simples e inusitado.

Servi acompanhado de algumas folhas de escarola na intenção de gerar contraste com um pouco de amargo. E claro, um ramo de tomilho bem verdinho e fotogênico para enfeitar.

Entrada simples, suculenta, cheia de sabores, que impressiona os convidados e aquece o paladar. 

Uma dica bastante versátil, já que também podemos transforma-lá em sobremesa. Basta trocar o molho de abacate por caramelo e a escarola por uma imensa bola de sorvete.

Afinal tudo fica ainda melhor com sorvete, inclusive o Gastronomia Doméstica que volta em grande estilo para ser entregue de corpo e alma pra você.