segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Frango com ameixas

Marjane Satrapi. Nome artístico de Marjane Ebihamis, nascida em Rasht, Irã, é uma romancista gráfica e quem acompanha o blog já deve estar lembrando do post Persépolis onde um cardápio foi montado em homenagem à sua obra mais famosa. Mas nunca é suficiente falar de Marjane.

De ascendência iraniana (ou azerbaijana) e descendente de Nasser al-Din Shah, Rei e Xá da Pérsia, de 1848 até 1896 declarou :
"Mas você tem que saber que os reis da dinastia Qajar tiveram centenas de esposas. Fizeram milhares de crianças. Se você multiplicar essas crianças pelas gerações seguintes, pode-se dizer que existem de 10 a 15 000 príncipes (e princesas). Não há nada de muito especial nisso."

Tudo bem, talvez não haja nada de especial em sua ascendência, mas na autora certamente há.

Além de Persépolis, Marjane escreveu também Bordados e Frango com Ameixas. Em Bordados mais uma vez os leitores são confrontados com seus próprios preconceitos ao serem expostos a um grupo de mulheres iranianas de moral e experiência bastante variadas, que conversam de maneira franca sobre às condições das mulheres no Irã, às voltas com o machismo e a tradição, sobretudo depois da Revolução Islâmica.

Enquanto isso, em Frango com Ameixas, há uma história baseada em relatos de seu avô, sobre relacionamentos e arte.

Durante uma briga, a esposa destrói o antigo e precioso tar de Nasser Ali (tar é um instrumento de cordas persa). Nasser Ali sai em busca de um novo instrumento. Ao concluir que jamais encontrará um novo com o som tão perfeito quanto o antigo, percebe que perdeu sua arte e o sentido de sua vida. Enquanto acompanhamos Nasser Ali nesta jornada ele nos conta suas recordações, seu grande amor e como viu-se preso a um casamento onde seu único prazer era o frango com ameixas feito pela esposa.

Acredito plenamente no poder da gastronomia como arte e forma de demonstrar carinho àqueles que amamos. Mas definitivamente não há gastronomia tão poderosa que por si só seja capaz de manter um relacionamento. Mesmo se estivermos falando de uma receita aveludada e de sabor tão rico quanto o frango com ameixas.

Sem dúvida é uma receita que vale a pena aprender para aqueles momentos em que tudo o que se precisa em um relacionamento é aquele toque exótico com sabor de novidade. Mesmo que seja o relacionamento com a própria gastronomia, pois não foi este um dos sabores responsáveis pela volta do blog?

Chega de delongas e vamos à receita.

Hidrate por ao menos meia hora uma porção de ameixas pretas sem caroço (cerca de umas 10) em água quente, 2 colheres de mel, 2 estrelas de anis, 4 cravos da índia e 1 canela em pau. Reserve.

Em uma panela bem quente coloque um pouco de azeite e 200 g de bacon em cubos pequenos. Somente quando o bacon estiver bem fritinho e crocante coloque 8 antecoxas médias para fritar com a pele para baixo. Deixe que fiquem bem douradas e apetitosas, vire para fritar do outro lado e acrescente 1 cebola grande picada. Após uns 10 minutos fritando a cebola acrescente 2 dentes de alho picados para fritar rapidamente. Acrescente sal, pimenta do reino, 1 pimenta dedo de moça sem sementes picada e flambe com uma dose generosa de cachaça para dar um toque brasileiro.

Assim que o álcool evaporar coloque as ameixas já hidratadas junto com o caldo onde elas repousaram. Acrescente meia xícara de vinagre balsâmico. Panela semitampada e espere cozinhar até que o frango esteja bem cozido, macio e soltando do osso.

Para finalizar 1 xícara de creme de leite fresco e 1 colher de manteiga.

frango com ameixas, sabor rico e aveludado

Acompanhamos de pure de mandioquinha. Sem grandes mistérios. Mandioquinha cozida temperada com sal, pimenta do reino, noz moscada, azeite, um pouco de leite e manteiga. Tudo bem batido no mixer para ficar lisinho (pode ser feito apenas passando pelo espremedor e misturando os temperos com uma colher).

frango com ameixas acompanhado de purê de mandioquinha

Consigo entender quem abre mão da vida ao perceber que nada mais faz sentido, e que perdeu tudo o que conquistou acreditando ser esta a foma mais drámatica para encerrar uma história. Mas o que aprendi ser completamente incompreensível é como alguém conseguiria resistir a este prato.

É quase tão irresistível quanto às histórias e o traço de Marjane Satrapi.

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