segunda-feira, 25 de maio de 2015

Simplificando

Alex Atala é o chef responsável por colocar o Brasil no mapa da gastronomia. Internacionalmente reconhecido, seu restaurante, o D.O.M., já chegou a ocupar a 4ª colocação entre os melhores do mundo.

Sua gastronomia, de técnicas extremamente precisas, tem como base a valorização de produtos nacionais, que muitas vezes são pouco conhecidos dos próprios brasileiros.

Simplificando, eu diria que sua cozinha representa uma brasilidade sofisticada.

Todas as receitas seguem o mesmo conceito, mas cada uma é formulada de maneira única e sem deixar escapar nenhum detalhe. Tudo nos pratos de Alex Atala é friamente calculado.

Mas se toda essa sofisticação lhe rendeu muitos frutos e renome, também assusta aqueles que, assim como eu, estão bem longe de ser chef, mas são metidos a cozinheiro.

Um de seus pratos mais conhecidos (tanto de quem frequenta seus restaurantes quanto daqueles que nunca tiveram a oportunidade de visitá-los) é o fettuccine de pupunha à carbonara.

A proposta é reproduzir esta receita, mas de maneira rústica, caseirinha. Vamos lá, primeiro descartamos a manteiga de trufas, toda a técnica e o bonito empratamento e então estamos prontos para começar.

O pupunha fresco já pode ser encontrado devidamente fatiado em alguns formatos, mas a graça é colocar a mão na massa! O legal mesmo é comprar o pupunha inteiro na feira, bem fresquinho e fazer seu próprio corte. Pode parecer meio complicado, mas é mais fácil do que parece.

Parti o pupunha ao meio e então fatiei com a ajuda de um descascador de batatas manual (daqueles mais simples). Depois com a faca, cortei essas fatias em novas fatias mais finas, parecidas com um talharim. Claro que cada uma ficou em uma largura e comprimento diferentes, mas a vida também é assim, cada ser é único no mundo como cada fio deste talharim...

Panela com água fervente e um pouco de sal, coloque o pupunha para cozinhar. O tempo de cozimento vai depender da qualidade do palmito, o importante é que esteja em uma consistência parecida com a de um macarrão al dente. Escorra e misture ao molho.

Para o molho frite, até que fique bem dourado, 1 xícara de bacon em cubinhos irregulares (claro). Depois de frito escorra o bacon para que fique bem sequinho. Reserve.

Em uma tigela coloque 150 ml de creme de leite fresco, 2 gemas (sem peneirar) e queijo parmesão ralado à vontade. Tempere com um pouco de sal a gosto e reserve também.

Aqueça um pouquinho de azeite junto com uma colher (sopa) de manteiga até derreter, coloque o pupunha já cozido e acrescente o molho de creme de leite. Mexa bem até que tudo esteja incorporado. Finalize com o bacon e salsinha picada grosseiramente (óbvio).

Pronto! Panela na mesa, é hora de se servir! Uma grande porção, mais queijo ralado no prato (porque ninguém resiste), e preparar-se para um sabor verdadeiramente intenso e delicioso.

parece macarrão, mas é pupunha ao molho carbonara delícia!

Após esta grande brincadeira, e consciente de que este rascunho não chega aos pés da obra prima de Alex Atala, percebo que mesmo assim simplificada (feita de um jeito despretensioso), é possível enxergar a maestria com que esta receita foi elaborada.

A combinação é incrível. Há potência, texturas, cremosidade e bacon!

Digna de acabar a refeição com gostinho de quero mais. Quero mais é continuar atrevida assim, tentando descobrir a essência dos pratos assinados por grandes chefs! E que a Força me acompanhe!



Ingredientes

Talharim de pupunha à carbonara:
1 pupunha fresco
150 ml de creme de leite fresco
1 xícara de bacon picado
2 gemas
50 g de parmesão ralado
1 colher (sopa) de manteiga
sal e salsinha a gosto
azeite (só porque colocamos azeite em tudo nesta vida)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A arte de procrastinar

Procrastinar: v.t.d. e v.i. Adiar; deixar alguma coisa para depois. Transferir a realização de alguma coisa para um outro momento; prorrogar para outro dia. (Etm. do latim: procrastinare)

Procrastinar é aquela enrolação básica que nos faz perder horas jogando candy crush antes de realizar qualquer tarefa produtiva.

É também o que explica o texto que deveria estar aqui desde segunda-feira só aparecer na quarta.

Às vezes a arte de procrastinar te agarra e não larga mais. Acontece.

Acontece e não é necessariamente algo ruim. Procrastinar pode ser uma forma de caminhar rumo à produtividade.

Não acredita em mim? Ok. Mas talvez acredite neste texto ou então neste outro aqui.

Deixar a mente descansar é fundamental para a conclusão de qualquer trabalho. Mas uma hora a gente tem que tomar as rédeas e correr para recuperar o tempo perdido.

Então chega de enrolação e vamos à receita que é só um pouquinho enrolada.

Filés de linguado para começar. Procure filés mais grossinhos e largos, iremos rechea-los. Para calcular o quanto comprar, basta 1 filé por pessoa.

Tempere os filés com sal, pimenta do reino, azeite e gotinhas de limão. Importante, Peixes cozinham no limão e por isso não é legal ter um grande tempo de marinada, melhor deixar para temperar os filés só depois que o recheio já estiver pronto.

O recheio: couscouz marroquino. Hidrate 1 xícara de couscouz em 1 xícara de água morna e sal a gosto. Deixe descansar por 30 minutos aproximadamente. Tempo suficiente para que o couscouz absorva toda a água. Reserve.

Em frigideira aquecida coloque 50 g de manteiga e 50 ml de azeite, esquente até a manteiga estar completamente derretida e então acrescente 30 g de bacon picado em cubos. Frite até que esteja bem douradinho e só então adicione 100 g de shimeji branco. 

Espere o cogumelo murchar e finalize com sal e salsinha a gosto. Depois de frio, misture com o couscouz marroquino previamente hidratado.

Recheio pronto hora de enrolar.

Não! Não é para verificar o whatsApp, ligar o computador e muito menos se jogar no sofá. A hora é de enrolar os peixes.

No centro de cada filé (agora sim, já temperado) coloque uma generosa porção de recheio, enrole os filés sobre o recheio e prenda com palitos de dente nas extremidades para que nada escape.

Esta quantidade de recheio é suficiente para 5 ou 6 linguados bem estufadinhos. 

Coloque em uma forma untada com azeite e prepare a crosta.

Misture 2 xícaras de panko (aquela farinha de pão em floquinhos) com 50 g de manteiga em temperatura ambiente. Cubra os filés enroladinhos com esta crosta, apertando delicadamente, e forno neles!

Forno a 200º até que a crosta esteja dourada. Hora de servir!

linguado recheado de couscouz marroquino com crosta de panko


A crosta fica crocante, o peixe possui acidez, sua carne fica bastante tenra e o recheio é covardia, tem manteiga, bacon e cogumelos... não tem como não gostar.

Sinto que outros recheadinhos vão pintar pela área logo mais. Gostei desta história de enrolar.

Enrolar é muito mais do que apenas adiar. Enrolar é agregar recheio, urgência... É isso! Procrastinar é a arte de conferir urgência a qualquer atividade.

E tudo o que é urgente (ou recheado) parece mais importante.

Rechear a vida com um pouquinho de enrolação, pode tornar tudo ainda mais interessante.

Enrole!



Ingredientes

Linguado recheado com couscouz marroquino e crosta de panko:

5 Filés de linguado (mais grossinhos e largos)
1 xícara de couscouz marroquino
1 xícara de água morna
100 g de manteiga
30 g de bacon
100 g de shimeji branco. 
2 xícaras de panko (aquela farinha de pão em floquinhos)
sal, pimenta do reino, azeite e gotinhas de limão a gosto

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Desejos

Finalmente a temperatura começa a ficar agradável (leia-se: está começando a esfriar).

Quando o tempo esfria, eu me animo e a fome cresce. Não só a fome, mas o desejo. Desejo por doces e pratos encorpados e cheios de sabor.

E se colocamos o desejo na história, não pode faltar chocolate na receita. Afinal, há algum ingrediente que suscite mais desejos do que este derivado do cacau?

Pois é... chocolate, com mais chocolate, com um pouquinho de bolacha de chocolate e um pouco de nozes para não ficar repetitivo.

Esta receita veio lá da Ana Maria Braga do Mais Você. Programa que, não sei dizer o porquê, confesso sempre ter ficado com o pé atrás no quesito gastronomia. Talvez seja por muitas vezes darem espaço demais à pautas diversas (e desinteressantes para mim) e no final terem que correr com a receita... talvez porque às vezes as receitas envolvem uma praticidade contestável, mas enfim! É inquestionável o  carisma da loira e do louro.

Várias receitas já testadas e aprovadas fazem com que eu reveja meus conceitos e dê algum crédito para as receitas do programa. Dá para selecionar muita coisa boa de lá, além de muitas dicas. Esta torta é prova disto. 

Depois de ver o preparo desta delícia de chocolate, corri para a cozinha na intenção de matar o desejo de brincar com as panelas e ter como resultado uma desejável torta de chocolate.

torta de chocolate e nozes com cobertura de chocolate e massa de bolacha de chocolate...

Começando pela massa. No processador bata 1 pacote de bolacha de chocolate recheada de baunilha, 50 g de manteiga com sal gelada, 4 colheres (sopa) de farinha de trigo e 1/2 dose de vinho do porto.

Deixe bater até que a manteiga derreta e forme uma massa "grudenta". Espalhe esta massa pelo fundo e lateral da forma. A forma utilizada tinha o diâmetro de 25 cm (aproximadamente). Leve à geladeira e esqueça por lá enquanto preparamos o recheio.

Na batedeira, 1 xícara de açúcar mascavo e 2 ovos inteiros. Bata em velocidade alta até que esteja cremoso e fofinho. Acrescente 1/2 xícara de farinha de trigo. Continue com a batedeira ligada.

Adicione 100 g de manteiga com sal em temperatura ambiente. Quando a massa estiver homogênea desligue a batedeira e acrescente (misturando delicadamente) 1 xícara de chocolate meio amargo picado e 1 xícara de nozes também picadas.

Despeje sobre a massa e leve ao forno preaquecido em 180° por aproximadamente 50 minutos (ou, até que o recheio esteja firme).

Ainda não acabou não. 

Uma bela ganache acompanha. Derreta 2 xícaras de chocolate meio amargo picado no microondas (cuidado para não queimar o chocolate, coloque 30 segundos, olhe, mexa, mais 30 segundos e por aí vai). Acrescente 1 dose de vinho do porto e 1/2 lata de creme de leite (se puder ser fresco, utilize 200 ml, fica melhor). Misture tudo muito bem e finalize com 1 colher (chá) de manteiga com sal (é sempre legal usar "com sal" para levantar o sabor dos doces quando não há nenhuma outra pitada de sal perdida pela receita).

Agora sim, esfriar, cobrir com a ganache e servir.

torta capaz de saciar o desejo por chocolate

A textura é quase a de um brownie. Firme, mas ao mesmo tempo, derrete na boca. Sente-se perfeitamente as nozes e os pedaços de chocolate derretido espalhados pelo recheio. E a massa é um capítulo à parte. Que pode ser (e será) utilizado em outras receitas.

Torta de preparo relativamente simples, de várias etapas, mas nada complexo. Com sabor intenso, capaz de matar aquele desejo por chocolate. Aquele desejo por algo doce, por algo que traga uma sensação de conforto em dias de temperatura amena, por algo que remeta a um poema...



Ingredientes

Massa:
1 pacote de bolacha de chocolate recheado com baunilha triturado
50 g de manteiga gelada
4 colheres (sopa) de farinha de trigo
1/2 dose de vinho do porto

Recheio:
2 ovos
1 xícara de açúcar mascavo
½ xícara de farinha de trigo
100g de manteiga em temperatura ambiente
1 xícara de chocolate meio amargo picado 
1 xícara de nozes picadinhas

Ganache:
2 xícaras de chocolate meio amargo
1 dose de vinho do porto
1/2 lata de creme de leite (ou 200 ml de creme de leite fresco)
1 colher (chá) de manteiga com sal 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Aletria, Aletria

Grande admiradora dos doces portugueses (principalmente aqueles tradicionais, feitos com muitas gemas), me surpreendi com minha total ignorância sobre uma iguaria tipicamente lusitana. O aletria.

aletria, doce de macarrão e gemas

Aletria, para os desavisados, também é conhecido como cabelo de anjo. Isso mesmo, aquele macarrãozinho bem fininho, que vem enrolado em "ninhos" e que muitas vezes olhamos para ele na prateleira do supermercado nos perguntando: pra que serve? Quem será que compra isso?

Bom, eu compro! Vira e mexe aparece por aqui uma receita com o aletria, seja para empanar quitutes crocantes, seja para um prato de massa e molho ou mesmo um doce árabe dos mais saborosos.

Mas aletria, também é o nome que leva o doce português feito com este macarrão. E é claro que vão muitas gemas e assim que descobri esta sobremesa senti que precisava testar a receita o quanto antes.

Eu preciso,

Afinal, uma casa portuguesa, com certeza precisa ter algo para oferecer se à porta humildemente bate alguém e senta-se à mesa co'a gente.

Bora pra cozinha, pois tudo começa em uma panela com 1/2 litro de água a ferver junto com 250 g de açúcar, 1 pau de canela e a casca de 1/2 limão.

Ferveu, retire a canela e a casca de limão e junte 150 g de aletria. Deixe cozinhar por 3 minutos (igual macarrão instantâneo).

Passados 3 minutos...

Adicione 6 gemas. É importante que o fogo esteja baixo neste momento e que as gemas sejam adicionadas 1 a 1 mexendo SEMPRE.

Para finalizar, 1 colher (sopa) de manteiga com sal. Retire do fogo, despeje em uma travessa e polvilhe canela em pó sobre o doce.

Tradicionalmente é feita uma decoração de pequenos losangos com a canela... eu tentei. Tentei sim, mas faltou habilidade. O que era pra ser losango, virou uns quadradinhos tortos com pontos de alta concentração de canela, mas até que ficou bem simpática.

Esperar esfriar e servir!

preciso treinar mais as habilidades com a canela em pó...

Por falta de costume, um doce feito com macarrão pode parecer meio estranho, mas esta estranheza vai embora na primeira mordida.

Não tem a mesma intensidade dos doces de ovos moles (como pastel de santa clara, por exemplo), mas tem um sabor delicado que permanece na boca com aquela deliciosa sensação de quero mais.

Pegue só um pedacinho para começar e quando se der conta já será necessário repetir a receita.

Surpreendente!

Só um porém... preparar aletria com frequência, será um bom exercício de criatividade na tentativa de aproveitar as claras de todos estes ovos...

Resumindo: uma sobremesa, com certeza, portuguesa capaz de provocar muitos suspiros.


Ingredientes

Aletria:
1 L de água
250 g de açúcar
1 pau de canela
1 casca de limão
150 g de aletria
6 gemas
1 colher de manteiga
canela em pó