segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Concreto, caos e paletas

No último domingo (vulgo, ontem) a cidade de São Paulo completou 461 anos.

Como paulistana, apaixonada por esta cada vez mais desvairada paulicéia, não poderia deixar de falar disso por aqui e fazer uma receita em homenagem à data.

Claro que, como sempre, esta homenagem está repleta de liberdades tão poéticas quanto as ruas da cidade. A receita será ainda inspirada nas altas temperaturas da estação, mas também em um fenômeno muito comum por estas bandas: as ondas. 

Tudo em São Paulo vem em ondas, talvez seja a ausência do mar que faça com que nós, os paulistanos, gostemos tanto de surfar na onda do momento. 

Apareceu uma novidade e lá vamos nós fazer fila para prová-la. Mas como tudo é passageiro, em pouco tempo as filas mudam de lugar. 

Se hoje abriu um novo bar, esperaremos durante horas por uma mesa, ignorando completamente os outros milhares com suas mesas disponíveis.  Na semana seguinte, este novo bar já é velho, e vamos em conjunto para a nova casa noturna, o novo restaurante, o novo shopping, a nova pizzaria, o novo food truck, o novo parque ou, ultimamente, à nova manifestação que se formou ali na Paulista...

E assim, de onda em onda, vamos dando movimento à cidade que nunca para.

Foi mais ou menos desta forma que surgiu a onda deste verão, as paletas mexicanas. Paletas mexicanas são um picolé que receberam recheio, status e preços elevados, que nem sempre se justificam. Uma paleteria em cada esquina e de repente não se fala em outra coisa.

Todo dia depois do almoço filas e filas embaixo de sol escaldante para provar estas delícias geladas. 

Enquanto a onda continua, com a ajuda do clima, receitas pipocam na internet aqui e ali, e as tradicionais marcas de sorvete sentem-se completamente abandonadas à própria sorte.

É claro que as paletas não vieram exclusivamente para São Paulo. Só que por aqui tudo parece mais intenso. Tudo parece mobilizar um número maior de interessados e vira realmente uma sensação. 

Talvez seja culpa de nossa densidade populacional, ou ainda do costumeiro exagero com que encaramos a vida. Todos os nossos números são assustadores: mais de 50 shoppings, mais de 6 mil pizzarias, mais de 100 museus, mais de 15 mil restaurantes, menos de 5% no sistema cantareira...

Chega de conversa e vamos para a receita inspirada nas paletas mexicanas, pois afinal, como paulistana que se preze, não posso perder esta onda.

No liquidificador bata duas caixas de morangos lavados, com 2 colheres (sopa) de açúcar de confeiteiro, o suco de 1/2 limão e 100 ml de creme de leite fresco (fica bem azedinho, acrescente mais açúcar caso julgue necessário). Bata por cinco minutos. Coloque em uma forma e leve ao congelador por 3 horas.

3 h depois... retire a forma do congelador, por fora da forma, passe um pouco de água para ajudar a soltar o sorvete. Pique em pedaços pequenos e volte ao liquidificador por mais 5 minutos. Com este processo obteremos um purê denso de morango que permitirá a inclusão do recheio, além de conferir maior cremosidade, como já comentamos tantas vezes em outras ocasiões.

O molde utilizado serão copinhos plásticos de café. Já vi algumas receitas com copos grandes ou formas elaboradas a partir de caixas de leite, mas a intenção aqui é simplificar e fazer uma porção um pouco menor para dar a oportunidade de quem gostou poder repetir.

Com a ajuda de uma colher (chá ou sobremesa) coloque este purê de morango no fundo e lateral do copinho. No centro coloque uma generosa  porção de creme de avelã, cubra até a borda com mais purê de morango, coloque o cabinho e leve ao congelador. Teremos aproximadamente 15 picolés.

Não se engane, o creme de avelã não ficará cremoso como recheio, será praticamente um sorvete recheando outro com contraste de sabores interessante. Digamos que é uma versão de paleta rústica levemente inspirada na onda.

paleta rústica de morango com creme de avelã

Azedinho por fora, docinho por dentro, simples de fazer e é, mais uma vez, sorvete! O que, de minha parte, já dispensa qualquer tipo de comentário.

Entrar na onda pode ser uma boa forma de renovar os votos com a cidade. Principalmente se a onda envolver mudanças que façam com que as pessoas enxerguem uma cidade que deve ser construída por e para elas mesmas. E descubram assim, a beleza e as cores que São Paulo tem o hábito de esconder sob uma, nem tão fina, camada de concreto e caos.


Ingredientes

Paleta de morango com creme de avelã:
2 caixas de morangos
2 colheres (sopa) de açúcar de confeiteiro
o suco de 1/2 limão
100 ml de creme de leite fresco
creme de avelã para o recheio
palitos de sorvete
copinhos de plástico de café

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

1ª posição do Top 3 - receitas que são a cara do verão

Chegou a hora de apresentar o primeiríssimo lugar deste Top 3 - receitas que são a cara do verão.

Mas o que seria mais verão do que uma rápida tapioquinha ou uma bela salada com molho refrescante?

Será uma receita rápida?
Sim, muito rápida.

Usa forno ou panela de pressão?
Claro que não, apenas liquidificador.

O sabor é fresco e leve?
Muito! Irresistivelmente fresco, leve e bem gelado.

Que rufem os tambores. Claro que só poderia estar falando dele, daquele que deixa tudo melhor, até mesmo o verão, com vocês, sua majestade o sorvete!

Para ser mais precisa: cubinhos tropicais. Nada além de sorvete de manga feito em forminhas de gelo... ou seja, cubinho é só modo de falar, pois o formato irá depender da forma de gelo que se tem em casa.

No liquidificador bata 1 manga madura (dê preferência à manga palmer por ser menos fibrosa), com 2/3 de um vidro de leite de coco, o suco de 1/2 limão siciliano e 1 colher (café) de pimenta cayena. Sim! Pimenta.

Não se preocupe, a pimenta cayena não irá sobressair, apenas acrescentar um leve picante no sabor residual do sorvete... como um charmoso gostinho de quero mais.

Coloque em formas de gelo e está pronto. Quer dizer, vamos precisar de algumas horas no congelador, mas aí o trabalho será das baixas temperaturas e não nosso.

É opcional, mas altamente recomendável, voltar ao liquidificador após 2 horas, e bater mais 5 minutos. Depois, congelador de novo. 

Na hora de servir, acompanhe com frutas da estação e uma sempre fotogênica folhinha de hortelã.

Outra ideia com a mesma receita é usar como molde, copinhos de plástico (daqueles de café) e colocar palitos para fazer picolé!!! Sim, picolé caseiro de manga com coco e pimenta. Simplesmente sensacional!

cubinhos tropicais de manga com pimenta cayene

Delícia refrescante e de sabor marcante que só poderia mesmo estar no topo das paradas de sucesso.

Assim o verão vai passando, e com a ajuda de algumas receitas frescas, e um ventilador bem forte, quando a gente se der conta já será dia 21 de março...

Mas muita calma, o ano mal começou e não temos pressa nenhuma em vê-lo passar... Afinal, o bom mesmo é aproveitar o que há de melhor em cada estação. No caso do verão: o sorvete.


Ingredientes

Cubinhos tropicais
1 manga palmer madura
1 colher (sopa) de açúcar de confeiteiro
2/3 de um vidro de leite de coco
1/2 limão siciliano
1 colher (café) de pimenta cayena

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

2ª posição do Top 3 - receitas que são a cara do verão


"Brasil! Meu Brasil brasileiro. Meu mulato inzoneiro. Vou cantar-te nos meus versos. O Brasil, samba que dá. Bamboleio, que faz gingar. O Brasil, do meu amor. Terra de Nosso Senhor. Brasil! Prá mim! Pra mim, Brasil..."

A cantoria está muito boa. A cantoria está muito animada. Mas parece que alguém aqui  esqueceu que esta publicação é para falar da 2ª posição do Top 3 das receitas que são a cara do verão.

Só parece. Essa música está diretamente ligada ao 2º lugar deste ranking: a salada Brasil.

É uma receita rápida?
Mais ou menos, mas não significa que perderemos muito tempo...

Usa forno ou panela de pressão?
Forno não usa, mas a panela de pressão... depende.

O que justifica então a escolha desta salada?
O sabor! É fresco, leve e a cara do verão.

Quanto ao uso da panela de pressão e o tempo de preparo, as questões serão esclarecidas ao longo do processo.

Usaremos 1 xícara de feijão fradinho. Eis aí o dilema de usar ou não usar a panela de pressão. Se o feijão for colocado de molho de um dia para o outro, a panela de pressão é dispensável. Se o feijão não ficou de molho, aí o uso da panela de pressão é quase inevitável.

Sem pressão é bem mais verão, então é claro que deixamos de molho e na hora do preparo bastou 20 minutos em água fervente para que ficasse na consistência ideal para saladas. Feijão cozido, reserve.

Próximo ingrediente, 4 filés de frango cortado em tiras de aproximadamente 1 cm de espessura. Tempere com 1 dente de alho, 2 colheres (sopa) de shoyu, sal, pimenta do reino e azeite a gosto. Frigideira aquecida, doure os filés e reserve.

Rúcula e alface crespa (meio maço de  cada) lavadas e rasgadas rusticamente. Aproximadamente 13 uvas Brasil cortadas em 4 sem caroço e 7 rabanetes pequenos cortados em finas fatias.

Hora da montagem. Primeiro coloque as folhas de maneira mesclada. Sobre as folhas o feijão. Faça uma "borda" alternando entre frango, rabanete e uvas.

salada brasil, de folhas, feijão fradinho, uva, frango e rabanete

Está tudo muito bom. Tudo muito bem, mas por que salada Brasil? E qual o toque de verão do prato?

Salada Brasil por causa do feijão, da uva e por ser perfeita para o clima tropical. O toque de verão? Está no molho de mascarpone, limão siciliano e hortelã. Isso mesmo. Mais refrescante impossível.

Misture 250 g de queijo mascarpone com o suco de 1 limão siciliano, sal, azeite e hortelã bem picada a gosto.

molho de mascarpone com limão siciliano e hortelã

Nada como provar algo leve e refrescante nos dias de calor. 

Para acompanhar, uma cerveja igualmente brasileira. Da cervejaria Fritz de Monte Verde-MG. A Natur é uma cerveja realmente leve, do tipo pilsen, sem filtração, longa maturação e com mais de 100 anos de tradição. Baixo teor alcoólico (4,3%), excelente drinkability e pode ser degustada bem gelada.

cerveja leve natur bier da cervejaria fritz

Cerveja leve, salada leve, molho leve... ótimas combinações para deixar o almoço leve, o verão leve, a vida leve...

"Vento, ventania, me leve sem destino ..." E assim voltamos à cantoria!

"Quero mover as pás dos moinhos e abrandar o calor do sol (como quero). Quero emaranhar o cabelo da menina. Mandar meus beijos pelo ar. Vento, ventania, me leve pra qualquer lugar. Me leve para qualquer canto do mundo Ásia, Europa, América!"



Ingredientes

Salada Brasil:
1 xícara de feijão fradinho
4 filés de frango
2 colheres (sopa) de shoyu
1/2 maço de rúcula
1/2 maço de alface crespa
13 uvas Brasil
7 rabanetes pequenos
sal, pimenta do reino e azeite a gosto. 

Molho de mascarpone:
250 g de queijo mascarpone
1 limão siciliano
sal, azeite e hortelã a gosto

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Top 3 - receitas que são a cara do verão

Verão é a época do ano que me deixa mais irritada e preguiçosa. Basta começar a fazer qualquer atividade para sentir o suor escorrer, a pressão cair e o ânimo ir embora.

Infelizmente não dá para hibernar sob um ventilador até passar a estação. Pior do que isso, não é por ser verão que podemos pular refeições e viver da luz do sol. Mas quem é que tem vontade de ligar forno ou ficar horas na cozinha para preparar qualquer coisa?

Além disto, basta provar um prato muito quente ou pesado para ter uma sensação ruim e o desejo de um banho bem gelado.

Como não dá para exagerar no banho, uma vez que as represas estão sumindo, que há multa para quem aumentar o consumo de água e as torneiras só funcionam dia sim, dia não. Melhor procurar receitas leves e fáceis que permitam um único e rápido banho diário.

Pensando nisto, selecionamos 3 receitas que são a cara do verão e fizemos um singelo Top 3.

Começando pela terceira posição apresentamos a tapiocarioca. Que? Isso mesmo, tapiocarioca.

É uma receita rápida?
Sim, muito rápida, não demora mais que 10 minutos para estar pronta.

Usa forno ou panela de pressão?
Não, ou seja, a casa continua fresca após o preparo.

O sabor é fresco e leve?
Mais ou menos... 

Mas então, porque essa receita foi selecionada para integrar o Top 3 de receitas para o verão, e afinal, o que é uma tapiocarioca?

Vamos por partes. A receita está na terceira posição do Top 3 por causa da maneira como foi descoberta.

Agora a história. Gratas surpresas surgiram até o último minuto de 2014. Entre elas a oportunidade de fazer um curso em Florianópolis. E se durante o dia ficávamos trancados em salinhas com ar condicionado sonhando com as praias e o sol lá de fora, à noite foi possível aproveitar a paisagem da Lagoa da Conceição, colocar o pé na areia e curtir um happy hour.

Cerveja vai, conversa vem, claro que uma hora a pauta seria gastronomia. E eis que mencionei minha paixão por ovo e a publicação da receita do raviolone d'oro. Foi aí que um colega carioca perguntou se eu conhecia a tapiocarioca. Oi?

Nunca tinha ouvido falar, e confesso que depois deste dia tentei pesquisar aqui e ali este termo, mas nada foi encontrado. Fiquei na dúvida se a cerveja havia comprometido o entedimento, mas a questão é... ele me descreveu a receita, me pareceu interessante e resolvi testar. E é por ser uma receita descoberta na Lagoa da Conceição durante um happy hour de verão que ela ocupa agora o terceiro lugar deste Top 3 das receitas que são a cara do verão.

Rápida mesmo, tão rápida que a história é mais longa do que a receita.

Precisamos apenas de uma frigideira aquecida e colocar a massa de tapioca peneirada e bem espalhada por toda a superfície. Não deixe uma camada muito fina, senão a tapioca não será percebida nesta versão.

Deixe dourar até as bordas começarem a levantar e então despeje um ovo batido e temperado com sal (queijo sempre combina e é uma adição interessante).

Tampe, e quando as bordas estiverem com a textura de uma omelete dobre ao meio. Tampe novamente e deixe cozinhar por uns 2 minutos. Vire a tapioca, mais 2 minutos e está pronta.

Menos de 10 minutos um lanche rápido e nutritivo que é um prato cheio para os fanáticos por ovo.

tapioca de ovo... rápida e prática para os dias quentes

A tapiocarioca do colega foi aprovada e é altamente recomendada, e como não podia deixar de ser, verão pede uma boa harmonização cervejeira.

Para comemorar a primeira receita do ano, uma cerveja comemorativa da Bierbaum. Do tipo keller (não filtrada), não possui nenhum aditivo químico, sendo cem por cento natural. Sua decantação ocorre em tanques de maturação por aproximadamente 50 dias, seu amargor é equilibrado e sua espuma bem persistente (o que mantém a temperatura por mais tempo). Harmoniza bem com o sabor da tapioca de ovo, principalmente se aceitamos o conselho e adicionamos um delicioso queijo.

bierbaum comemorativa 10 anos

Se lá fora dá para fritar ovos no asfalto, por aqui prefiro colocá-los dentro de uma deliciosa tapioca e aproveitar a oportunidade para me refrescar com uma cerveja bem gelada. E assim até mesmo no verão é possível manter o bom humor.


Ingredientes

Tapiocarioca:
massa de tapioca
1 ovo
sal a gosto
queijo de sua preferência opcional