segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

2011 superstições de ano novo

A virada do ano é uma data marcada por muitas superstições. De todos os tipos, desde a cor da roupa,  até (e esta é a parte que me interessa) a escolha do cardápio.

No ano novo não pode-se comer aves, porque elas ciscam, e por isso, na virada provar uma deliciosa penosa seria empurrar a vida para trás durante todo o ano. Já ouvi também que o problema das aves é que, por elas voarem, deixá-las à mesa seria deixar a sorte "voar" para bem longe.

Já a carne suína e os peixes são muito bem recomendados. Como o porco fuça, empurra a terra para frente, e esse gesto significaria que teríamos vários empurrões da sorte. Enquanto os peixes vivem na água, que simboliza purificação, ou seja, deixar o ano velho para trás e como não há como nadar de marcha a ré também estaríamos durante o ano todo impulsionando nossas vidas.

Crendices a parte, sei que toda essa história foi uma ótima desculpa para preparar uma nova receita de bacalhau. Se garante ou não a sorte, eu não faço idéia, mas prefiro simplesmente não duvidar, porque pode ser que não faça o bem, mas com certeza mal nenhum virá disso.

Mas vamos do começo. O ingrediente clássico e que não pode faltar à mesa na virada é a lentilha. Afinal, quem é que não espera viver o ano todo sem se preocupar com dinheiro?

Lentilha pode ser sim um prato saboroso e nada dolorido de se comer à meia noite em cima da cadeira enquanto dá três pulinhos com o pé direito e separa 7 caroçinhos de romã e 12 de uvas para enrolar em uma nota e colocar na carteira. Ufa.

Primeiro cozinhei na pressão só com sal e azeite por 10 minutos. Não mais que isso.

Em uma panela fritei bastante bacon, cebola picada, um tomate sem pele e sem sementes também picado, um pouquinho de pimenta e orégano. Deixei ferver um pouco toda essa refoga e fui acrescentando aos poucos a lentilha com bastante do caldo em que ela foi cozida.

Deixei ferver por uns 5 minutos. Até a lentilha chegar no ponto. Então acrescentei uma generosa colher de manteiga, salsa e cebolinha picadas para dar uma cor.


Servimos em cumbuquinhas, como uma sopinha de entrada da nossa ceia. Ficou deliciosa. Bacon e lentilha combinam demais (na verdade para mim tudo combina com bacon), tinha um toque picante e a lentilha estava bem macia. Espero que ganhar dinheiro esse ano esteja mesmo associado a este prato, porque comi aos montes.

Quanto às bebidas, tudo foi regado a espumantes. Claro, por todos os significados que esta bebida traz consigo (como alegria e realeza) e também porque toda comemoração é sempre uma ótima oportunidade de provar champagnes, espumantes ou qualquer outra bebida que entre na descrição do monge beneditino Don Pérignon ao provar o primeiro vinho deste tipo do mundo "é como beber estrelas".

Ora pois, vamos ao preparo do bacalhau. É simples e não muito trabalhoso, mas demora um bocadinho. A receita escolhida chama-se "bacalhau a trasmontana", prato tradicional da região de Trás-os-Montes.

Compramos lombo de bacalhau congelado e já dessalgado. É um pouco mais caro do que comprar o bacalhau da forma tardicional, mas em compensação aproveita-se tudo, sem desperdício.

Para descongelar colocamos no leite com sal (orientação da embalagem era em água salgada para corrigir o sal das partes mais finas). Por que em leite? Porque o leite amacia o bacalhau, e dessa forma consegue-se manter o sabor característico, mas com a textura de um peixe fresco, fantástico.

Depois de algumas horas no leite cortamos as postas. Então as enxugamos, passamos em um ovo batido, e na sequência em farinha de trigo e fritamos em azeite.


Só assim, ele já fica com aspecto bem interessante, mas esse é só o começo. Lembra o leite em que estava o bacalhau? Usamos para fazer um molho bechamel.

Em uma outra panela, manteiga para fritar a cebola picada e então acrescentamos o leite já misturado com a farinha de trigo (uma média de uma colher de farinha para cada xícara de leite e uma colher de manteiga para cada duas xícaras de leite), um pouquinho de noz moscada e pimenta do reino e esperar engrossar.

Enquanto o molho era preparado, no mesmo azeite onde o bacalhau foi frito, fritamos batatas em rodelas até que ficassem douradas.

Agora a montagem. Em uma forma colocamos as batatas, por cima arrumamos as postas já fritas, cobrimos com o molho, e cobrimos com parmesão ralado.


Agora só falta gratinar. Levar ao forno pré-aquecido até que o queijo esteja derretido e dourado.


As postas desmanchavam na boca. O molho ficou intenso por ter incorporado o sabor do bacalhau. Fica um prato bastante leve e suculento. As batatas, colocadas por baixo na forma, impedem que o calor excessivo do forno resseque o bacalhau e formam um excelente acompanhamento para as postas.

Perfeito, mas molho para quem é de molho. Para quem não é de molho preparamos outra opção.

Na mesma frigideira (auquela em que fritamos o bachalhau e a batata) fritamos lâminas de alho. E deixamos esse alho em um pouco de azeite, para saborizar. 

Tentamos preparar a receita do bacalhau a pil-pil. Uma receita basca que eu e minha irmã provamos na degustação de vinhos só para mulheres. Trata-se basicamente de bacalhau e azeite (aquele saborizado com o alho) em uma frigideira que mexe sem parar, esse mexer serve para misturar a gordura do bacalhau com o azeite emulsionando levemente.

Bom, creio que ter a panela própria (aquela que dispensa cinco minutos de uma ininterrupta dança para balançar a frigideira) deva facilitar em muito a vida de quem estiver preparando o prato. Sem falar que ela também deve evitar constrangimentos, como fotos tiradas ao lado do fogão enquanto você se sacode junto com a panela. Sim, essa foto existe. Não, eu não vou colocá-la aqui porque a pessoa em questão é a que vos escreve e não por coincidência, também quem escolhe as fotos do blog.

Enfim, de qualquer forma, deve ter outros segredos para o preparo dessa tão famigerada receita basca, porque não obtive o resultado esperado.

No final consegui um bacalhau frito em azeite saborizado com alho e depois aproveitei para fritar umas cebolas rodeladas e servi tudo junto. O alho, a cebola e o bacalhau.


Acho que sou de molho, mas também posso não ser. Obviamente provei as duas versões. Difícil dizer qual a minha preferida.

O molho bechamel deixou o prato mais suave, e a quantidade de elementos (o molho, as postas, as batatas) agregaram várias nuances de sabor e textura, isso não havia na versão de alho frito com o bacalhau só no azeite, porém nesta o sabor era mais marcante.

Mas nem só bacalhau e lentilha estavam à mesa, afinal ceia de ano novo deve ter muita fartura e ser muito colorida.

Nada melhor para dar vida e cor do que uma saladinha com brócolis verdinhos, tomates vermelhinhos e azeitonas pretas.


Temperada com mais azeite (espero que azeite também traga bons fluídos), sal e vinagre balsâmico.

Para encerrar a ceia, torta de pera com gorgonzola.

A princípio sei que para muitos essa combinação vai parecer um tanto quanto inusitada, mas acredite, a pera está para o gorgonzola assim como a goiabada está para o queijo minas.

Primeiro a massa.

Misture dois tabletes de manteiga culinária gelada, duas gemas, amêndoas torradas e moídas (cerca de pouco mais de meia xícara) e então acrescente farinha até desgrudar da mão. Coloque a massa em um saco plástico e leve à geladeira por uma hora.

Para o recheio coloque açúcar em uma panela e forme uma calda com um pouquinho de licor (usamos Contreau). Junte algumas fatias de pera não muito grossas e sem casca. Deixe até que as peras estejam cozidas mas não moles de mais a ponto de quebrarem com o manuseio. Tire as peras e deixe a calda reduzir até a metade.

Na montagem da torta abra a massa e cubra a parte de baixo da forma. Fure com a ponta de um garfo para evitar que crie bolhas e deixe a torta com uma forma irregular. Coloque as peras cozidas e um pouco da calda, espalhe sobre as peras pedaços generosos de gorgonzola de forma espaçada. Cubra a torta com lâminas de amêndoa.

Leve ao forno pré-aquecido até que as amêndoas e a massa estejam douradas. Depois de tirar do forno cubra a torta com o restante da calda.
 

Sensacional. A massa parecia um biscoitinho amanteigado de amêndoas (fiquei imaginando fazer essa massa como pequenas bolachinhas e cobrí-la de chocolate). Definitivamente pera e gorgonzola nasceram um para o outro, sabores complementares que se mesclam de forma única e para fechar, a crocância das lâminas de amêndoa. Para ficar melhor só acompanhada de sorvete, que faltou na foto, mas não no prato.

Depois da sobremesa sempre fica mais fácil ver o lado doce das coisas que aconteceram no ano que terminou. Entre outras coisas, em 2010 nasceu este blog, o que foi algo muito significativo para mim ao escancarar a paixão de todos aqui de casa por gastronomia. Se 2011 for como 2010 já estou no lucro. Mas é claro que sempre desejando melhorar e ter novas metas a serem conquistadas.

Se superstições funcionam não tenho como afirmar, mas na minha humilde opinião não há porque não se prevenir e usar como tema das festas de ano novo torcendo para que cada gesto, cada prato, cada simpatia traga boas energias, esperança e tudo aquilo que buscamos e desejamos a todos que conhecemos nas mensagens de fim de ano.

O ano já começou,  mas continuo desejando a todos pelos próximos 355 dias um 2011 cheio de realizações (culinárias ou não) boas energias, esperança e tudo aquilo que costuma-se dizer em mensagens de fim de ano.

2 comentários:

  1. nossa, Renata, deve ter ficado divino! vou fazer esse bacalhau transmontana demais da conta! Ah, e amei a descrição sobre tomar champanhe! heheheh Bjocas!

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