sexta-feira, 25 de março de 2011

Toque de Midas

Segundo a mitologia grega, Midas era um rei que transformava em ouro tudo o que tocava. É mais ou menos desse jeito que me sinto em dias como o do jantar deste post. Onde tudo flui, tudo dá certo na primeira tentativa e supera toda e qualquer expectativa. Tão perfeito, simples e fácil como era para Midas transformar o que quisesse em muitos quilates de ouro.

Só receitas inventadas e que surgiram aos poucos. Pela manhã minha mãe já tinha idealizado a entrada. Rolinhos de berinjela recheados de paté de pimenta biquinho.

Para fazer o paté ela comprou aqueles potinhos de creme de ricota. A este creme, misturou muitas pimentas biquinho em conserva bem picadinhas, azeite um pouquinho de sal, salsa e cebolinha.

Levou à geladeira para que sua consistência não ficasse muito mole e dificultasse desta forma o trabalho de enrolar. Na sequência, fez fatias finas em uma berinjela no sentido do comprimento. As temperou com shoyu, azeite e sal e deixou que tostassem no gril.

Depois de esfriar por alguns minutos, ela colocou o recheio e enrolou a berinjela sobre ele. formando rolinhos.


Na hora de servir não resisti e reguei com bastante azeite.

Bem diferente e simples de fazer. A pimenta biquinho em conserva tem um ardor bastante suave que combinou perfeitamente com aquele ardidinho próprio da berinjela.

Para acompanhar o nosso jantar abrimos uma garrafa de um vinho super especial, que foi presente do meu cunhado mais legal. O Salton Virtude, um chardonnay de tonalidade amarelo claro, extremamente aromático e leve. Com incríveis aromas frutados, bastante cítrico e cheio de especiarias. Servimos bem gelado e apreciamos devagar todos os seus sabores muito bem equilibrados.


Mas se foi simples escolher o vinho e a entrada, a história do prato principal (que ficara por minha responsabilidade) não foi tão curta assim. Acordei sem nenhuma inspiração, já passava da metade da tarde e ainda não fazia a menor idéia do que faria para harmonizar com este vinho. Surgiu da minha mãe a idéia de irmos passear no mercado à caça de inspiração.

Não é que deu certo? Quando olhei as massas frescas meus olhos brilharam e as papilas gustativas ficaram entusiasmadas. Há muito, muito tempo que eu não provava uma lasanha.

Manjericão na sacola, alguns queijos e correr para casa, misturar farinha e ovo e colocar a mão na massa.

A receita de massa é sempre a mesma, 100gr de farinha para cada ovo, quanto menos farinha melhor e calcular a quantidade de um ovo por pessoa. Enfim, resolvi fazer pequenas alterações.

Acrescentei à massa um fio de azeite, um bocadinho de sal e uma generosa quantia de queijo parmesão ralado. Coloquei farinha até que desgrudasse da mão e comecei a esticar para que ficasse bem fina. Haja braço.

Acredito que foi culpa da gordura do queijo, mas a massa ficou mais fácil de esticar e ser trabalhada. Então cortei em retângulos e os pré-cozi utilizando uma forma sobre o fogão com água e óleo. Conforme tirava os retângulos da água, os colocava sobre um pano de prato, tomando cuidado para que um não grudasse no outro.

Depois das finas fatias de massa prontas, hora de preparar os molhos.

O primeiro molho é muito fácil, no processador bati um maço de manjericão fresco, um dente de alho, uma porção de castanhas de cajú, bastante queijo parmesão ralado e aos poucos fui acrescentando aquela generosa dose de azeite.

Sim, é o famoso molho pesto. Para terminar os ingredientes da lasanha fiz também um molho ainda mais fácil e rápido. Creme de leite e queijo brie derretido até que ficassem em uma consistência que ao fazer um risco com o dedo nas costas da colher, o risco permanecesse sem que o molho escorresse sobre ele.

Depois é aquela velha história de camada, molho, camada, molho. Comecei com um pouco do molho de brie, massa, muito pesto, massa, mais brie, massa de novo, mais pesto, massa mais uma vez, última de molho de brie e muito parmesão ralado por cima para gratinar.

Levei ao forno bem quente e deixei até que estivesse dourada.


A lasanha ficou muito boa. A massa ficou fina e saborosa, os molhos estavam na consistência certa, exalava aromas fantásticos de manjericão e azeite. Amei de paixão minha invenção. Mas, sendo bastante franca, o brie ficou completamente escondido. Não poderia mesmo colocar um queijo muito forte, como o gorgonzola por exemplo, porque brigaria com o pesto, mas um queijo de sabor tão suave ficou completamente mascarado pelo restante dos ingredientes. Numa próxima versão guardo o brie e uso mais parmesão.

Como sempre, um bom jantar só termina na sobremesa. Voltamos do mercado com a lasanha já montada na cabeça, os rolinhos já definidos desde cedo, mas ainda faltava decidir qual seria a sobremesa. Foi aí que em conjunto recorremos mais uma vez ao blog A Cozinha Coletiva de onde tiramos a receita do Cobbler e fizemos algumas pequenas modificações.

Também foi absurdamente fácil de fazer e com resultados muito além dos esperados.

Comece pré-aquecendo o forno a 220°. Em uma tigela misture fatias de frutas com mais ou menos 1 cm, (usamos 4 ameixas frescas e 1 maçã),  o suco de um limão, 1 xícara e meia de açúcar e 2 colheres (sopa) de amido de milho, como toque de chef minha mãe adicionou uma pequena dose de contreau.


Untamos 5 tigelinhas (ramequins, formas ou o que estiver à mão) com manteiga e colocamos essa mistura de frutas distribuída entre elas.  Leve ao forno já quente por 10 minutos.

Enquanto isso, prepare a massa misturando 1 xícara e meia de farinha de trigo, 3 colheres (sopa) de açúcar, 1 colher (chá) de bicarbonato de sódio, 1/2 colher (chá) de fermento, as raspas de um limão e uma pitada de sal. Adicione 1/4 de xícara de manteiga picada em cubos e amasse com as pontas dos dedos até virar uma farofinha. Adicione 2/3 de xícara de leite e mexa devagar somente para misturar (a massa deve ficar empelotada).

Quando retirar as frutas do forno, as cubra com colheradas da massa, polvilhe açúcar cristal e volte o doce ao forno por mais 25 minutos, até o recheio borbulhar e a crosta ficar dourada.


Sem dúvida foi a parte mais surpreendente da noite. A massa ficou com uma camada crocante, cresceu bastante, as frutas ficaram como se fossem em calda. O azedinho do suco de limão com o doce da camada de cima ficou tão gostoso que mesmo depois de uma lasanha e muito vinho ainda era simplesmente irresistível.


Depois do jantar, a sensação de satisfação pessoal por tudo ter fluído tão bem, e claro, a satisfação proporcionada por todos estes aromas e sabores incríveis.

Nada poderia deixar a noite de sábado mais especial e aconchegante. Definitivamente, uma noite tocada por Midas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário