quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versões

No geral versões são apenas versões e nunca superam os originais. Na maioria dos casos eu concordo com isso, mas há exceções.

Como algumas canções que só chegaram às paradas de sucesso após ganharem versões nas vozes de Adriana Calcanhoto, Elis Regina, Amy Winehouse, Aretha Franklin entre outros grandes intérpretes. E o que dizer de Twist and Shout sem os Beatles? A banda Top Notes não teria conseguido tirar a canção da inglaterra sem a ajuda do quarteto de Liverpool. Em contra partida, Joe Cocker tornou "With a Little Help from My Friends" completamente inesquecível (principalmente para os fãs de Anos Incríveis e dos conflitos existenciais de Kevin Arnold).

Na gastronomia isso também acontece. Cada chef é um intérprete único, que pode usar sua imaginação livremente e tornar um prato comum um grande sucesso, sem deixar, é claro, de compor pratos inéditos e cheios de personalidade. Afinal é a originalidade e o talento que consagram os maiores nomes da gastronomia e não apenas pegar carona na fama de pratos e chefs já consagrados.

Comecei a pensar em tudo isso depois de recriar alguns pratos já feitos e postados aqui no blog. Que tal um cordon-bleu de contra-filé com farinha de pão integral e um quibebe de mandioquinha?

Tudo bem, o cordon-bleu abre mesmo esse espaço para experiências gastronômicas, e inclusive fazê-lo com carne vermelha não é nada criativo, mas o quibebe está até definido no dicionário como prato feito de abóbora. Fazer um quibebe sem o ingrediente principal é algo que poderia gerar muitas críticas, tanto quanto as polêmicas que algumas versões geram entre os fãs da música original. Mesmo assim, vale a pena correr o risco.

Primeiro passo para o preparo deste cordon-bleu é ter bifes de contra-filé bem altos. Então, basta limpá-los e abrí-los sem chegar até o final, formando aquele envelope que irá envolver o recheio. Temperei com sal, pimenta do reino, alho e azeite e deixei descansar por poucas horas.

O recheio foi composto de presunto, queijo emmental e orégano. Então passei na farinha de trigo, no ovo batido com uma pitada de sal e na farinha de rosca. Essa farinha de rosca foi feita no processador com amêndoas sem pele torradas e pão de forma integral sem casca. Depois disso, azeite não muito quente em uma frigideira e fritar por cerca de 3 ou 4 minutos de cada lado. O suficiente para deixar a carne cozida, macia e suculenta e o queijo bem derretido.


Fica assim escuro mesmo, por ser feito com pão integral.

Para o acompanhamento, como dito acima, o quibebe de mandioquinha. Em uma panela refoguei em azeite 1 cebola picada e alguns cubinhos de linguiça calabresa. Quando a linguiça estava bem fritinha acrescentei 1 tomate picado e assim que o tomate amoleceu coloquei 5 mandioquinhas descascadas e cortadas em pedaços pequenos. Um pouco de água fervente e mexer sem parar, até a mandioquinha cozinhar, desfazer-se e formar um creme (isso demora um pouquinho, deve-se ir pingando a água sempre que necessário para que não grude no fundo da panela). Hora de temperar com algumas gotas de tabasco, um pouquinho de noz moscada (que tem se tornado cada vez mais frequente nos meus pratos), sal e pimenta do reino. Então juntei três generosas colheres (sopa) de requeijão e para finalizar uma colher (sopa) de manteiga e muita salsinha.


Os puristas que me perdoem, mas algumas versões merecem o sucesso que conquistam. A textura do quibebe ficou muito similar ao de abóbora, bem liso e uniforme. Mas o adocicado, o sabor tão característico da mandioquinha e a mistura de temperos bem medidos foram o complemento ideal ao crocante cordon-bleu que estava realmente suculento. O que podia ser comprovado a cada corte.

De se comer de olhos fechados na intenção de intensificar os sentidos, principalmente o paladar (óbvio) e de preferência harmonizado com a trilha sonora da rádio preferida... que neste momento tocava Behind Blue Eyes... mas a original do The Who que é infinitamente melhor do que a versão do Limp Bizkit.

É... fã sempre cria polêmica contra as versões.

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