Quando criança eu não gostava de peixe (aliás, quando criança eu não gostava de muitas coisas). Mas então, um belo dia, aconteceu um longo passeio entre famílias onde passamos horas a fio à margem de um rio, pescando.
A falta de coragem de pegar as iscas para colocá-las no anzol (nojinho) fez do passeio um eterno ir e vir pedindo aos pescadores mais experientes para realizarem qualquer tipo de manobra entre o colocar da isca até a retirada do peixe.
Basicamente, as crianças ficavam ali, impacientes, espantando os peixes com risos e brincadeiras, recebendo olhares de reprovação daqueles que realmente esperavam fisgar alguma coisa e ansiosas para perceberem qualquer movimento em suas linhas. Não é a toa que pescadores inventam tantas histórias mirabolantes. Tempo para isso durante uma pescaria é o que não lhes falta.
Enfim, uma criança chatinha que não comia peixe de jeito nenhum, mas que havia pescado vários, muitos mesmo, peixes grandes e em absurda quantidade (olha o exagero típico de pescadores aí), quis provar o fruto de seu trabalho.
Pois é, essa foi a primeira vez que comi peixe na vida. Fritinho, crocante e delicioso. Depois disso, não parei mais (de comer peixes, porque pescar ainda está na lista das coisas que a criança chatinha aqui não gosta de fazer).
De qualquer forma, até hoje mantenho a preferência por peixes de sabor suave (aqueles com menos gosto de peixe), como a truta, a pescada branca, o cação. Quanto aos frutos do mar eu gosto mesmo é que façam como a Dory de Procurando Nemo e continuem a nadar. Quem sabe? Se um dia eu for pescar no mar esse cenário pode mudar (difícil, mas vai que).
Por todas essas limitações, acabo comendo sempre os mesmos peixes e com poucas variações de preparo (frito ou moqueca) e a criança chatinha aqui fica enjoada de sentir sempre os mesmos sabores. Resolvi então, começar a explorar um pouco mais as profundezas da gastronomia e montar novas receitas para apreciar essa carne branca de baixa caloria e extremamente saudável.
E já que a parte light da refeição fica por conta da escolha da carne, nada impede que o molho seja encorpado e cheio de sabores para contrabalancear.
Em 2 colheres (sopa) de manteiga refogue 2 cebolas médias e dois tomates, ambos em rodelas finas (para que a manteiga não queime, coloque também um pouco de azeite). Junte alcaparras, endro, pimenta do reino, algumas gotas de pimenta tabasco e sal a gosto. Cubra com um pouco de água e espere até que o tomate comece a se desfazer. Deixe a água secar e junte meia xícara de creme de leite fresco. Desligue o fogo e finalize com aquela costumeira generosa porção de salsa e cebolinha.
Grelhe pescadas brancas (ou qualquer outro filé de peixe, 3 minutos de cada lado são mais do que suficientes) e sirva cobertas pelo molho.
Para acompanhar, algo igualmente simples e genial: arroz. Mas não qualquer arroz. Arroz com leite de coco.
Em uma panela azeite, 1cebola e 1 dente de alho picados. deixar refogar, acrescentar uma xícara de arroz e fritar. Uma colher (chá) generosa de sal, um vidro de leite de coco, 1 xícara de água, deixar semi- tampado em fogo bem baixo e esperar a água secar.
Um purezinho de batatas também cai muito bem.
Jantar pronto em menos de meia hora. Taí mais um ponto positivo para os peixes, o preparo é rápido.
O arroz fica com textura mais macia e delicada. O molho fica com sabor intenso, grande cremosidade e não esconde o peixe, pelo contrário, ajuda a mante-lo suculento durante todo o jantar.
Um vinho leve como o Salton Lunae harmoniza muito bem. Frizante branco com aquelas deliciosas bolhinhas que fazem cócegas no céu da boca.
Algumas taças e muitos sabores depois, a vontade é de ficar ali, de bobeira, em volta da mesa, entre amigos e família contando muitos "causos". Talvez até alguns "causos" de pescador...
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