terça-feira, 26 de julho de 2011

Traumas

Traumas surgem quando a gente menos espera, e todo mundo tem o seu. Eu tenho trauma de bolacha recheada de morango e Fanta. Isso aconteceu depois de um fatídico dia na 2ª série do ensino fundamental, quando passei muito mal por me empaturrar com ambos. Foi o suficiente para sentir meu estômago embrulhar até hoje, só de ver qualquer uma dessas duas coisas.

Ainda é um trauma não superado. Já minha mãe tem trauma de quiabo. Também após uma experiência bastante ruim. E quando mãe tem trauma, acaba quase que involuntariamente, o transmitindo para os filhos. Ou seja, eu e minha irmã crescemos ouvindo sobre o quanto quiabo é algo gosmento e não valia a pena prová-lo.

Resultado, ninguém aqui em casa nunca na vida tinha provado quiabo. Neste último domingo resolvemos encarar este trauma. Em um tratamento de choque resolvemos fazer uma receita de frango com quiabo, mas não sem antes pesquisar qual a melhor maneira de preparo para que eliminássemos qualquer baba que poderia ao invés de curar o trauma apenas dar mais razão a ele. E mantivemos os planos mesmo com as torções de nariz da mamãe.


No cardápio que entitulamos de mineiro, fizemos arroz, feijão branco, bolinhos de mandioqinha e o famigerado frango com quiabo. Para sobremesa, pavê com calda de capim limão.

Vamos começar pelo clássico arroz com feijão. Arroz é o básico do básico. Em uma panela faça a refoga de cebola e alho em azeite (ou um pouquinho de óleo), uma xícara de arroz, deixe fritar um pouco, acrescente sal e duas xícaras de água fervente. Espere a água secar com o fogo baixo e a panela semi tampada. Assim simples.

Para o feijão. Deixe o feijão branco de molho por duas horas. Em uma panela de pressão faça a refoga de cebola e alho em azeite, acrescente algumas rodelas de linguiça calabresa. Coloque o feijão, cubra com água e tampe a panela. Após pegar pressão conte 20 minutos. Abra a panela, veja se o feijão já está macio. Corrija o sal e deixe a panela no fogo por mais uns 10 minutos para apurar.


Partimos agora para o não tão básico. O bolinho de mandioquinha (e não me venha com batata baroa), é receita do Claude Troigros (só pra variar um pouquinho).

Cozinhe 1/2 kg de mandioquinha em pedaços. Depois que elas já estiverem cozidas, bata no processador até virarem um creme liso. Reserve. Em uma panela coloque 100gr de manteiga, 240ml de leite, 60ml de água e 150gr de farinha de trigo. Mexa sempre até formar uma massa uniforme e bem firme. Leve essa mistura para a batedeira, acrescente sal, páprica e o purê de mandioquinha. Massa pronta, basta fazer os bolinhos com o auxílio de duas colheres e fritá-los em óleo quente suficiente para que fiquem imersos.


E agora, senhoras e senhores, com vocês: O Quiabo.

Abelmoschus esculentus. O seu fruto é uma cápsula fibrosa cheia de sementes brancas redondas, muito utilizado na culinária antes da maturação. De origem africana e trazido para o Brasil juntamente com os escravos, o quiabo, é um exemplo de uso de alimentos da cultura brasileira. Sua presença compõe pratos típicos regionais, como o Caruru - quiabo cozido com camarão seco - ou mesmo na culinária mineira, com o Frango com Quiabo e o Refogado de Carne com Quiabo. Os quiabos são verdes e peludos e apresentam um tipo de goma viscosa. Rico em vitamina A (de extrema importância para a visão, além de proteger o fígado); vitamina B1( é decisiva para o bom funcionamento do sistema nervoso); vitamina B2 (é importante para o crescimento); vitamina B3 e vitamina C . Além disso, contém 40,00 kcal (em 100 gramas). Fruto de fácil digestão, é recomendado para pessoas que sofrem de problemas digestivos. Por isso mesmo, é eficaz contra infecções dos intestinos, bexiga e rins. (by Wikipédia).

Uma das dicas importantes que captamos nas pesquisas pela internet é que para eliminar a goma viscosa do quiabo é preciso fritá-lo e não mexer enquanto frita. Então foi o que fizemos. Cortamos em pedaços pequenos e fritamos em óleo quente por aproximadamente 20 minutos, sem nem encostar na panela. Após esse tempo, tiramos do óleo e escorremos em papel toalha. Reservamos.


Em uma panela aquecida com azeite, acrescentamos 1 cebola picada e deixamos fritar até dourar. Somente depois disso, acrescentamos o frango que estava marinando em alho, azeite, vinho branco, endro e sal desde a noite anterior. Então fritamos e fritamos o frango. Cobrimos com água fervente e mexemos uma vez para raspar bem os temperos do fundo da panela e deixar o caldo bem escuro.


Essa é a hora de largar mão e deixar cozinhar, em panela semi tampada por uns 20 minutos. Depois disso, quando o frango já estava bem macio acrescentamos o quiabo frito. Mais 20 minutos fervendo para que o frango absorvesse o sabor do quiabo e o caldo secasse um pouco.


Tudo pronto, mesa posta, pratos servidos, tomar coragem e provar.

Nem foi preciso tanta coragem assim. Apesar da idéia de que encontraríamos muita baba gosmenta por ali, o cheiro maravilhoso que este prato exalava era de convencer qualquer um a encarar seus traumas.


O frango ficou tenro e o caldo bastante saboroso, e o quiabo... descobri que quiabo não é um bicho de sete cabeças. É apenas mais um legume, cheio de nutrientes, sabor e quando bem preparado, nenhuma baba.

O bolinho de mandioquinha (ok, vcs venceram, batata baroa) também foram outra grata surpresa (a gente nem espera outra coisa quando trata-se das receitas do Claude). Um pouco oleosos, mas leves e crocantes e acompanhados de uma pimentinha, ficaram tudo de bom.

Esse trem todo aí de cima ficou bão por dimais. Mas não parou por aí não.

Para terminar o almoço, a sobremesa. Bolacha camada e temos um pavê, certo?

Mais ou menos, pavês estão entre as sobremesas mais criativas. Essa receita é da Nigella e como sempre, sobremesas geladas devem ser feitas com calma e antecipadamente, senão ao invés de tornarem-se a chave de ouro elas acabam é nem mesmo entrando na votação dos melhores do ano.

Ferva até borbulhar 600ml de água com 325gr de açúcar e 3 saquinhos de chá de erva cidreira (na receita original vão cabos de capim limão, mas a gente improvisa com o que tem). Depois de ferver, passe em uma peneira e reserve esta calda.

Precisaremos também de geléia de framboesa, que pode ser feita no caso de encontrar as frutas com facilidade, ou basta escolher uma boa marca de geléia (de preferência sema çúcar) no mercado. Acrescente à ela um pouco de água e deixe ferver. Para formar uma calda mesmo.

Molhe os biscoitos na calda de framboesa e ponha-os lado a lado em uma travessa de vidro alta. Quando chegar à metade, acrescente 3 colheres de vodca. Deixe absorver. Acrescente uma concha da calda de açúcar com capim limão.

Em uma panela, ponha talos de capim-limão (ou saquinhos de chá) e acrescente 350ml de creme de leite. Deixe ferver por uns 20 minutos e reserve.

Em um recipiente, bata 8 gemas com 75gr açúcar. Despeje o creme de leite. Leve ao fogo para que fique bem encorpado. Quando esfriar, ponha o creme por cima do pavê. Deixe na geladeira até o creme ficar firme.

Leve a calda de açúcar com capim-limão novamente ao fogo, até que o líquido reduza e vire um caramelo. Desligue o fogo. Por cima do pavê, espalhe o chantily e finalize com o caramelo.


O pavê fica muito bom, o azedinho da geléia de framboesa, contrastando com o doce do creme, as bolachas champagne ficam em uma maravilhosa e perfeita textura, nem duras, nem úmidas demais. Mas o grande diferencial dessa sobremesa é sem dúvida a calda de capim limão. Interessante, simples e inusitada. Daquelas que enchem a cabeça de idéias para novas receitas...

Muito orgulho de nós nesse almoço, traumas e preconceitos vencidos e ainda por cima, acertamos na sobremesa. Além claro de uma animada conversa regada à muitas histórias em volta da mesa. Bem ao estilo mineiro. O que mais pode-se esperar de um almoço em família no domingo?

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