sábado, 23 de julho de 2011

Esquisito?

Quando eu sentia vontade de comer canja, eu pedia para minha mãe comprar aquelas partes esquisitas do frango. Porque quem gosta de uma boa canja sabe que ela fica ainda melhor com essas partes esquisitas. E quando digo isso me refiro ao pescoço, carcaça, patas, moela, entre outras coisas. Mas nunca tinha parado para pensar nas partes esquisitas do boi.

Talvez porque aqui em casa uma dessas partes esquisitas sempre foi muito apreciada, desde que eu era criança, e por isso mesmo não me parece nada esquisita ou exótica. É só mais uma carne, molinha e saborosa e cheia de possibilidades de preparo, como qualquer outra.

Em consequência disso, acho muito esquisito mesmo é quando alguém faz cara de nojo quando digo que preparei uma deliciosa língua de boi. Só nessas horas é que percebo que esta não é uma carne do dia a dia, que a maioria das pessoas não gosta simplesmente porque a idéia que teem de seu sabor as impedem de provar.

Então a sugestão para esse fim de semana é que se rompa os preconceitos. Amplie-se o cardápio e explore-se novos sabores. Pode ser uma experiência surpreendente.

Eu mesma vou seguir este conselho, colocando no cardápio de domingo algo que nunca provei só por causa da idéia que tenho dele, embora muita gente me fale que tem um sabor incrível: quiabo.

Mas isto é assunto para outro post, hoje é dia de passar a receita da língua.

Como sempre começamos nosso jantar com uma leve salada. Folhas frescas de espinafre, algumas mussarelas de búfala e purê de cenoura.

Para o purê, cozinhei as cenouras, depois que estavam bem molinhas amassei com o garfo e misturei uma colher (sobremesa) de manteiga, sal, pimenta do reino, e uma generosa colher (sopa) de requeijão.


Salada substanciosa e colorida. Agora vamos ao que interessa: A Língua.

Algumas dicas são bem importantes no preparo desta iguaria. A principal delas é lavá-la com bastante limão. O tempero é uma marinada simples, sal, alho, azeite, uma folha de louro e vinho branco. Algumas horas depois pode-se começar o seu preparo.

Na panela de pressão aqueci um pouco de azeite e coloquei para fritar tres cebolas em finas fatias. Deixei fritar e fritar, até escurecer um pouco, então coloquei a carne para fritar junto. Deixei fritar e fritar, até escurecer um pouco. Só depois disso acrescentei dois tomates picados e deixei fritar e fritar, até soltar toda a água e começar a secar novamente.

Neste ponto coloquei uma dose de conhaque e flambei a carne. Quando acabou o fogo acrescentei 2 xícaras de vinho branco e completei com água até que a carne estivesse totalmente coberta. Deixei ferver e então tampei a panela.

Após pegar pressão conte 45 minutos. Hora de abrir e testar se está macia. Tirar da pressão, acrescentar batata doce picada e um pouco mais de água caso haja necessidade e deixar ferver sem pressão agora. Apenas para cozinhar as batatas, cerca de 20 ou 25 minutos ainda. Pode tirar então a carne e as batatas da panela e deixe o molho reduzir um pouco mais. 


Pode até não ser a carne mais linda de se ver, mas fica deliciosa. Macia de verdade e suculenta. Além de possuir bastante ferro, o que auxilia a alimentação, principalmente de pessoas anêmicas ou em fase de crescimento (o que não é bem o caso do povo aqui de casa). E claro, a receita não precisa ser seguida à risca.

Como em qualquer outra carne de panela, pode-se juntar os legumes de sua preferência para acompanhar e os temperos que mais lhe agradarem.

Ainda fiz um arrozinho branco para completar o prato e na hora de servir, coloquei sobre a carne bastante do molho de temperos do cozimento.


Definitivamente, sempre vale a pena perder preconceitos. Claro que não dá para gostar de tudo, mas é possível experimentar tudo antes de sair por aí falando "não gosto" e fazendo cara feia para qualquer novidade meio esquisita.

Bom, depois do jantar sempre é preciso ter algo para adoçar a boca. Neste dia ficamos com um doce que tem cara de casa, de mãe, de infância... Doce da época onde nem se pensava em quebrar paradigmas, ou melhor, de quando nem se sabia o que era um paradigma. Doce de abóbora.

Fazer é fácil, em uma panela colocar a abóbora picada (pode ser a abóbora de sua preferência a usada nesta receita foi a de pescoço), açúcar cristal (a proporção é de 1 xícara e meia para 1 kg de abóbora, mas isso pode variar de acordo com o gosto de cada um), alguns cravos da índia (sem exagero) e o suco de meio limão. Deixe no fogo baixo e vá mexendo sempre até que o doce fique bem apurado.


Ah! Não preciso fazer propaganda de doce de abóbora, né? É gostoso, mais saudável que chocolate e dá para comer às colheradas em frente à TV ou durante um bom papo ao redor da mesa.

Essa receita é a mais básica, mas pode-se misturar bastante, o mais frequente é acrescentar um pouco de coco ralado. Muito boa pedida aliás...

Culinária é isso aí... aproveitar todas as partes esquisitas, explorar sabores e quebrar preconceitos, mas no final, nada como uma receita que nos remeta aos tempos de criança...

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