sábado, 6 de agosto de 2011

Onde nascem as receitas?

Conheço receitas que nasceram em sonhos, outras a partir de um inusitado ingrediente, lendo ou preparando outras receitas, ou mesmo ouvindo o roncar do estômago em um fim de tarde. É, pessoas que possuem idéias fixas são assim, até sonham com isso, é involuntário.

Normalmente as receitas brotam de forma espontânea, mas às vezes elas simplesmente não surgem. Precisam ser forçadas à nascer de um jeito ou de outro. Era nessa situação que eu me encontrava no sábado passado.

Por isso eu olhava o armário, a geladeira, o freezer e de volta ao armário, e à geladeira, e ao freezer e novamente o armário... Assim mesmo, em um irritante e infinito ir e vir.

Até que mentalmente os ingredientes disponíveis ali começaram a ganhar vida, formar pares, produzir misturas e eis que nasce uma nova receita. Pois é, as receitas não nascem na panela, mas quando você começa a se perguntar "E se...?". Pensando nas possíveis combinações de ingredientes que poderá realizar. Ou seja, como grande parte das coisas do mundo, as receitas surgem como meras idéias.

Quanto mais informações existirem dentro da cabeça do chef sobre o resultado da mistura dos ingredientes e mais técnicas ele tiver conhecimento, melhores tendem a ser as suas criações. No meu caso, ainda uma aprendiz de chef, acho que me saí muito bem na escolha e transformação que realizei ao talhar e lapidar cada um dos ingredientes. Confesso que não fui muito criativa, mas fiquei muito feliz com o resultado. E feliz por sair deste empasse resolvendo o que iria jantar naquela noite.

Primeiro abri o armário e olhei para o arroz arbóreo, abri a geladeira e o shitake sorriu para mim. Resultado: risoto de shitake.

Pela derradeira vez abri o freezer e foi então que o peito de frango piscou e não tive dúvida: polpetone de frango. Mas achei que ficaria muito seco e para me salvar ouvi o bacon gritando e me trazendo a solução.

Cardápio definido, então mãos à obra.

Descongelei o peito de frango e o desossei. Coloquei a carne no processador junto com uma generosa porção de bacon (uma proporção de metade do peso da carne do frango), acrescentei sal, pimenta do reino, salsa, cebolinha, 1 cebola, 1 dente de alho, 1 ovo e um toque de pimenta calabresa seca. Bati tudo até que ficasse uma mistura uniforme e bem moída.

Sobre a mesa coloquei uma forma forrada com papel filme, fiz bolinhas com a massa de frango, as passei levemente pela farinha de rosca e coloquei na forma, onde as achatava um pouquinho. Quando acabei de fazer os polpetones levei ao freezer por 15 minutos.

Enquanto isso... Junto com o frango descongelei o caldo de galinha que eu já tinha no freezer de outros carnavais, ou melhor, da última festa junina. Feito durante o cozimento de peito de frango com sal e azeite apenas.

Em uma panela o incrementei um pouquinho, acrescentei um pedaço bem pequeno do couro do bacon (um quadradinho e uns 2cm) o osso do peito de frango que acabara de tirar e um alho amassado. Deixei ferver por alguns minutos e peneirei tudo.

Em outra panela aqueci azeite e fritei uma cebola picada. Quando já estava começando a dourar acrescentei o shitake cortado em tiras e esperei que murchasse um pouco, só então coloquei o arroz arbóreo, mexi rapidamente e juntei meia xícara de vinho branco seco.

De concha em concha fui acrescentando o caldo devagar até que o arroz cozinhasse. Arroz já cozido, coloquei alguns cubinhos de queijo do reino, esperei derreter, desliguei o fogo e finalizei com uma colher de manteiga e salsinha.

Para o preparo dos polpetones (que na verdade estão mais é para hamburguinhos de frango) basta grelhar em uma chapa de ferro ou gril (sugestão, mesmo com o bacon ele pode ficar um pouco seco caso frite de mais, procure deixá-lo ao ponto).

Pratos montados, harmonizamos com um vinho já conhecido, o Monte Alentejano Monte Velho.


Hora de ver se o resultado confere com a expectativa da idealização.


Neste caso, hora de descobrir que é ótimo quando a prática supera a teoria. O risoto ficou realmente cremoso e aveludado, a textura do shitake e o ponto do risoto ficaram ideais. Quer mais do que isso? O hamburguer/polpetone combinou e complementou muito bem o prato, trazendo um sabor mais marcante (por causa do bacon mesmo) e uma textura mais seca para combater a cremosidade do risoto.

Como dificilmente uma receita nasce pronta, após provar achei que um molho sobre o polpetone/hamburguer cairia muito bem e daria outra cara para toda essa mistura, mais sofisticada e com maior complexidade de sabores.

Receita idealizada, testada e anotada. Após o jantar, comemoramos às idéias que dão origem a cada nova receita. Para comemorar escolhemos sorvete. Porque até mesmo idéias ficam ainda melhores com sorvete.

 

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