segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Estereótipos

De tempos em tempos circulam pela internet textos com as impressões de estrangeiros sobre o Brasil.

Algumas positivas outras negativas, mas todas com a intenção de colaborar para a construção de um estereótipo brasileiro. 

Sejamos honestos, por mais que alguns aplaudam e compartilhem estes textos e outros vistam o manto patriótico para negá-los. O que é certo é que são textos vazios e que não dizem nada a respeito de um país de dimensões tão exageradas quanto o nosso.

Paulistanos são diferentes de cariocas, que são diferentes de capixabas, que são diferentes de pernambucanos, que são diferentes de gaúchos, que são diferentes de manauaras, de baianos, de paranaenses, de maranhenses e assim por adiante. E conhecer São Paulo por 15 dias é bem diferente de conhecê-la por 10 anos que é bem diferente de conviver com seus problemas e suas maravilhas por 30 anos. E jura que alguém ainda acredita que em uma cidade como São Paulo, mais de 11 milhões de pessoas possuem realmente todas elas algo em comum? É quase como acreditar em horóscopo...

Estender então estas mesmas características para mais de 200 milhões de brasileiros me parece então bastante improvável.

Para quem reclama de ter um vizinho barulhento, posso afirmar que esta pessoa que reclama certamente não é minha vizinha e que isto não é uma exclusividade do Brasil. Se querem dizer que no Brasil homens não sabem fazer nenhuma atividade doméstica, eu diria que este é um problema dos homens que esta pessoa conhece.

Enfim... estereótipo é um negócio com o qual eu não concordo. Nem todo roqueiro veste-se apenas de preto, nem toda mulher que usa rasteirinha gosta de forró e nem todo mundo de bota e roupa com franjas é alucinado por sertanejo... Estereótipos só servem para que achemos que temos informações o suficiente sobre alguém e possamos exercer pré-julgamentos e escolher uma determinada postura diante desta pessoa.

Sem chance, prefiro imaginar cada pessoa como um livro de capa branca, pronto a ser desvendado e colorido.

Mas, ser rotulado não é exclusividade dos brasileiros. Nós também rotulamos.

Italianos falam alto, japoneses são discretos, portugueses tem inteligência duvidosa, alemães são arrogantes, metódicos e frios... diria que estamos todos errados.

Nada me agrada mais neste sentido do que ver esses rótulos sendo desfeitos. Quando encontro italianos discretos, japoneses daqueles bem maluquinhos, leio os livros do Saramago e Fernando Pessoa (em todas as suas versões) e comprovo a inteligência portuguesa ou assisto Que Marravilha Revanche e vejo que o cara mais gente boa da temporada e o único capaz de admitir que o prato do Claude estava melhor que o dele, com direito a nota dez, prato colorido e um caloroso abraço, foi justamente o alemão que participou do programa. 

Tudo bem que ele mostrou-se bem metódico durante a elaboração do prato, mas até aí eu praticamente tenho TOC na cozinha e não sou alemã.

Como a receita ainda era incrível e apetitosa, fui para a cozinha preparar a minha versão de servietten kloss

Optei por fazer a versão do Claude, afinal ele é um chef francês (quem disse que a gastronomia foge de estereótipos?).

Brincadeiras a parte, optei pela versão do Claude por ser feita com mandioquinha que possui sabor mais marcante e levemente adocicado e achei que harmonizaria melhor com os outros elementos do prato.

Comece cozinhando 4 mandioquinhas grandes previamente descascadas em água salgada até que fiquem macias (cerca de 20 minutos).

Amasse as batatas ainda quentes. Reserve. Corte 6 pães cubos grandes e deixe amolecer em leite. Reserve.

Em uma frigideira frite 200 g de bacon picado em cubos, depois que eles estiverem bem dourados acrescente 1 cebola picada grosseiramente. Espere caramelizar e acrescente salsa picada a gosto. Misture a mandioquinha amassada com o bacon, junte 2 colheres (sopa) de manteiga, o pão (sem o excesso de leite, escorra bem antes de adicioná-lo), algumas folhas de manjericão picadas, 5 gemas, sal e pimenta do reino a gosto.

Depois de tudo junto e misturado, tire do fogo e incorpore 5 claras batidas em neve mexendo delicadamente.

Coloque a massa em um pano e feche formando uma trouxinha. Cozinhe este pacotinho no vapor durante 1 h.

Desembrulhe e sirva. Acompanhei de galeto frito com molho de acerola.

Desosse um galeto e tempere com sal, pimenta do reino, alho, raspas de limão e azeite.

Frigideira grande, azeite aquecido, coloque o galeto aberto com a pele para baixo, use uma outra panela para fazer peso sobre o galeto e deixá-lo bem crocante. 5 minutos de um lado, 5 minutos de outro e está pronto.

O molho de acerola começa na panela, com azeite, cebola, alho, sal, pimenta do reino, meia xícara de água e uma caixa de acerolas (daquelas de aproximadamente 250 g). Refogue, refogue, refogue. Bata tudo no liquidificador, peneire para obter um molho fino e volte para a panela para reduzir até que esteja na textura desejada.

servietten kloss e galeto com molho de acerola... liberdade poéticas...

Este nhoque de pão alemão, cozido no guardanapo (é isso que significa servietten kloss) é realmente sensacional. 

Franguinho frito dispensa explicações, mas o ponto chave foi o molho de acerola que uniu todos os sabores acrescentando uma dose equilibrada de acidez ao prato.

Ah! Libertar-se desses preconceitos gerados pelos estereótipos é algo doce, tão doce que merece uma deliciosa sobremesa. 

Tortinhas são fáceis e sempre bem vindas. A massa é a mesma que fizemos no post Adeus ano velho.

Recheio! Bata no processador 500 g de ricota fresca, meia xícara de açúcar, as raspas de um limão (de preferência siciliano) e 20 ml de vinho do porto. Bata até obter um creme. Simples assim.

Finalize com uma generosa dose de geleia de morango (geleias são fáceis, fruta na panela, um pouquinho de suco de limão para controlar o doce, açúcar e um tiquinho de vodca, ferve, ferve, ferve. Gosto de deixar os pedacinhos, por isso nada de bater no liquidificador).

tortinha com creme de ricota e geleia de morango

Delícia perfeita para lambuzar-se e arrancar sorrisos coroando uma boa refeição.

E assim a vida ganha novos sabores e cores quando estamos dispostos a descobri-la ao invés de rotulá-la.


Ingredientes:

Servietten Kloss:
4 mandioquinhas grandes
6 unidades de pão francês dormido por 2 dias
1l de leite
1 cebola picada grossa
200g de bacon
Salsa picada
Folhas de manjericão
5 gemas
5 claras
2 colheres (sopa) de manteiga
Sal e pimenta do reino a gosto

Galeto:
1 galeto desossado
2 dentes de alho picados
Raspas de 1 limão
Sal, pimenta do reino e azeite a gosto

Molho de Acerola:
250 g de acerola
1/2 xícara de água
1 cebola picada
1 dente de alho picado 
Azeite, sal e pimenta do reino a gosto

Torta doce:
Recheio
500 g de ricota
1/2 xícara de açúcar
Raspas de um limão siciliano
20 ml de vinho do porto

Geleia
250 g de morango
1/2 xícara de açúcar
Suco de 1/2 limão
Meia dose de vodca (ou outra bebida, o acréscimo de algo alcoolico na geleia serve para aumentar sua durabilidade e deve ser colocado com moderação)

2 comentários:

  1. Humm, muito interessante este prato. O nhoque. Temos que repetir ; )

    Quanto aos estereótipos, não sei. Acho que temos a necessidade de rotular e agrupar. Talvez nossa natureza não permita essa liberdade toda, esse peito aberto.. Mas concordo que é lamentável reações tão estridente baseada apenas em estereótipos. Vide torcedores de futebol.

    BJKS

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    1. concordo, temos que repetir a receita logo mais.

      e sim, estereótipos são realmente algo natural, sempre menciono um episódio do Sex and the city com a Miranda sobre este tema, mas o legal é nos policiarmos para não perdermos a oportunidade de ter gratas surpresas com as pessoas ;)

      ( http://www.vejoseries.com/series/episodio.aspx?serie=Sex_And_The_City&eps=S01E03 )

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